sábado, outubro 30, 2004



O que é que tens urgente para me dizer?

Eles diziam que tinham sete (depois seis) peças curtas para nos apresentar.
Mas não foram curtas.
Foram cheias, recheadas, preenchidas, intensas.
Quer no conteúdo dos textos, excelente, quer na forma pela qual estes foram ditos e representados, marcante.
Ouvimos as respostas aos porquês nunca respondidos, e que aqui são ditos, porque é urgente dizer.
Os porquês para estarmos juntos – conversa, partilha, rotina, sexo, e depois do sexo? – ou os porquês para o fim do amor e para nos separarmos – as discussões, a guerra, a vingança, a insegurança, o silêncio, a surdez, a ilusão.
E ouvimos o que tantas vezes não queremos sequer pensar, e por isso é urgente enfrentar e dizer. As memórias. E o que verdadeiramente é importante - a família, os amigos, os livros, os discos, as viagens, enfim, o nosso eu - sem estarmos amarrados a uma agenda e à agenda que nos impõe a sociedade.
Desafiada pela Inês vou tentar fazer a escolha.
Mas é difícil escolher uma, ou mais do que uma, como a melhor. Comungando da urgência e da qualidade, são todas tão diferentes que é difícil, por isso, comparar e escalonar.
Mas se na qualidade elas não se distinguem o mesmo não se passa naquilo que cada texto toca ou diz a cada um de nós.
A mim, de uma maneira ou de outra, por uma razão ou por outra, tocaram-me todos, mas em especial “Problemas de Agenda”, “Ctrl+Alt+Del” e “Azul a Cores”.
Com os “Problemas de Agenda”, do Nuno Costa Santos emocionei-me. Porque ouvi este texto com mais atenção, dada a maior atenção que o Nuno, como amigo de infância, me suscita e me merece.
Mas sobretudo porque o texto, que não sei se é auto-bibliográfico (e até pode não ser) fala de familiares, e se forem os do Nuno, à excepção do filho recentemente nascido, conheço-os a todos.
E fala de amigos, e do reencontro de amigos, e como eu tive pena de não o reencontrar ontem no Maria Matos.
E fala, enfim, de tudo o que verdadeiramente é importante.

E agora meus caros, o que é urgente eu dizer-vos é que vou aproveitar a companhia dos meus pais que chegam hoje.
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sexta-feira, outubro 29, 2004

Continuo na minoria?

Há cerca de um ano escrevi aqui sobre as "parangonas" que vêm nos maços de tabaco tais como (e volto a citar de memória, pelo que me perdoem qualquer erro) "FUMAR MATA", "FUMAR PROVOCA CANCRO" "FUMAR PODE PREJUDICAR O ESPERMA E REDUZ A FERTILIDADE", etc...
A questão agora volta a colocar-se, não por causa das frases, mas de imagens como estas




A Comissão Europeia aprovou-as visando dissuadir do vício pelo choque provocado pelas imagens, mas os Estados são livres de as imporem ou não.
Aproveitando o facto de (acho) ainda ter direito a liberdade de opinião neste país fica aqui o meu apelo: por favor não aprovem isto!!
Não concordo com isto pelas mesmas razões com que não concordava com as "parangonas".
As imagens são horríveis e assustadoras é certo, mas o fumador não fuma porque o maço é bonito ou feio, suave ou assustador.
O fumador fuma porque o que vem dentro do maço lhe agrada ou o domina, ou ambas.
E quem nunca fumou e pode vir a começar certamente irá fazê-lo. Porque quanto mais proibido, mais apetecido.
Daí que a eficácia destas medidas me pareça muito relativa.
Até porque não fumar ou deixar de fumar, por muito vício que exista, depende essencialmente de um factor: da vontade. Vontade esta que pode ser ajudada, é certo, mas com outras medidas bem mais eficazes (e aqui falo, evidentemente, por experiência própria).
Se enquanto fumadora eu estava do lado da minoria - os fumadores - que repudiavam as mensagens, será que como ex-fumadora continuo a estar ao lado de uma minoria?

E vocês, fumadores ou não, de que lado estão?


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Ponta Delgada – Vandalismo Cultural ou Desenvolvimento? - XX

Chegamos assim ao coração da cidade. O Largo da Matriz é um espaço modesto, mais uma rua larga do que um largo, onde se situa a seiscentista Igreja da Matriz, construída no local da antiga Ermida de S. Sebastião do séc. XV, pelo voto dos habitantes da então vila, pelo fim da epidemia de peste que grassou de 1523 a 1531.
A igreja começou a construir-se em 1531 (1 ).

Ao norte da primitiva ermida havia uma fonte que depois da construção da Igreja ficou dentro da nave :“Um poço de água salobra que estava no adro da igreja pequena, que se fez junto da porta travessa da banda do norte, de que dantes, quando não tinham fonte, bebiam os moradores da Ponta Delgada, fazendo-se depois maior a igreja, como agora está, ficou dentro nela; de cuja água se servem para a regarem no Verão e para outras necessidades” (2 ) .
A primitiva torre sineira ficava a norte ao lado da capela-mór : " alta e graciosa torre do relógio, junto da capela-mor, da banda do norte, e outra fortíssima, ainda não acabada, para os sinos, pegada com a fronteira da porta principal” (3 ) estando ainda começada a do lado sul. A torre actual já do séc. XVII (1623), foi completada pela Câmara após ameaças de excomunhão por parte do Deão da Sé, feitas em 1601(4).

Nas casas fronteiras à Igreja foi improvisado o primeiro edifício da Câmara. Rodrigo Rodrigues baseado em escrituras de aforamento de casas na Rua da Cadeia, conclui: "Estas indicações, conjugadas com as informações fructuosianas, levam-nos a induzir, com algumas probabilidades de acerto, que a Câmara Velha era situada-ou no local onde hoje está o quarteirão de edifícios comerciais, mesmo em frente da Igreja Matriz, entre o lado norte da que presentemente se chama Praça da República e a actual rua do Melo, que então seria aquela rua da cadeia para onde deitavam as casas aforadas em 1605 e a própria cadeia dos presos (que, como vimos, era uma dependência dessa Câmara Velha, talvez do seu rés-do­-chão) - ou no outro quarteirão detrás, para poente, com a Praça prolongada para oriente, fronteando a Matriz e deitando para o norte a sua cadeia, para a mesma rua da Cadeia, depois e ainda hoje rua do Melo " ( 5).

A cadeia ficava no rés-do-chão, como era habitual nos edifícios municipais da época e virada para a Rua do Melo, então conhecida por Rua da Cadeia Velha – para a distinguir posteriormente da Rua da Cadeia quando a Câmara mudou para a localização actual – o que originou numerosas queixas dos autarcas pela imundície e maus cheiros.
O Capitão Inácio de Melo morreu, em Ponta Delgada, no dia 6 de Junho de 1618. Era Irmão da Misericórdia e foi Vereador de Ponta Delgada em 1613. Mereceu a distinção de Cavaleiro da Ordem de Cristo.
Conta Frutuoso, nas `Saudades da Terra', que Inácio de Melo participou, em 1585, numa "cruel batalha que houve junto do porto da cidade de Ponta Delgada, entre uma nau hespanhola e duas ingresas de cossairos". "Pelo que nesta batalha fez Inácio de Melo, filho de Diogo de Melo, o fez Sua Majestade capitão do número e cavaleiro fidalgo, e lhe fez mercê de quatrocentos cruzados para ajuda de custo".

A Rua do Melo, no séc. XVII, também se chamou “Rua de Cristóvão Paim da Câmara”.
Cristóvão Paim da Câmara, Capitão, natural da Vila da Praia, Terceira. Casou duas vezes, a primeira com Catarina Favela da Costa, filha de João de Arruda da Costa (R.R., Genealogias de S.Miguel e Santa Maria Cap.° 30 , § único, Nº 2) e de Maria Mendes Pereira, (Ibidem, Cap.° 5, § 1, N.º 2). Casou 2ª vez com Isabel da Fonseca, a 5 Janeiro 1610, na MPD, filha do licenciado Luís Leite da Fonseca e de Simoa de Resende.

Frutuoso, ao longo da sua crónica, fala-nos de resto na presença de dois pelourinhos, de que não restam vestígios, o primeiro, inicial­mente construído à pressa, como símbolo da justiça, "defronte da cadeia dos presos ", e o segundo, em período que não indica, "defronte do cais " - e na proximidade das futuras Portas da Cidade.( 6)

A colocação do relógio no eirado da torre, feita em 1895 por imposição testamentária de António Joaquim Nunes da Silva, foi mais uma das várias agressões feitas ao exterior ao edifício, para além das barbaridades cometidas no seu interior. O relógio do princípio do séc. XIX colocado na face nascente da torre foi retirado e vendido à Câmara da Povoação.

O chamado “arranjo” do adro da Igreja Matriz data de 1901, feito como preparação para a visita régia, foi a pura e simples destruição do antigo adro e das pitorescas lojas que se situavam por baixo, e a sua substituição por uma simples e insípida escadaria. O que poderia ser hoje um aproveitamento turístico das pequena lojas de barbeiro da parte sul do adro, com lojas de artesanato e outras curiosidades, ficou assim irremediavelmente destruído.


Vista do largo da Matriz no séc. XIX, vendo-se os edifícios ainda existentes com ligeiras modificações. A entrada para o Clube Micaelense, o que é o Café Central, a Rua do Melo (antiga Rua da Cadeia Velha) e à esquerda os edifícios, ainda existentes, que se situam no local da primitiva Câmara Municipal



Casamento “de estadão”nos anos 70-80 do séc. XIX.
De notar que o aspecto é semelhante ao de hoje
.


Igreja Matriz no séc. XIX antes da desastrosa destruição do adro retirando as pitorescas lojas (1901) e a colocação do inestético relógio (1895)



Aspecto actual da Igreja da Matriz já depois do arranjo do adro e colocação do inestético relógio no eirado da torre que desequilibra a volumetria do edifício


1 Nestor de Sousa, A ARQUITECTURA RELIGIOSA DE PONTA DELGADA NOS SÉCULOS XVI A XVIII, Universidade dos Açores Ponta Delgada 1986.
2 Gaspar Frutuoso, “Saudades da Terra”, Vol. 4º , Cap.XLIII, pág.
3 Gaspar Frutuoso, “Saudades da Terra”, Vol. 4º , Cap.XLIII, pág.
4 Manuel Ferreira, Ponta Delgada – História e o Armorial, CMPD 1992
5 Rodrigo Rodrigues, Revista “Insulana”, Vol. II, pág.386- 1946
6 Manuel Ferreira, Ponta Delgada – História e o Armorial, CMPD 1992

Carlos F. Afonso

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quinta-feira, outubro 28, 2004

Parabéns!

Para o Vitinho, o The Bird e o The Dude, que de Frangos não têm nada, por favor continuem a pôr para fora o vosso melhor (e pior)!
Que venham mais anos e "churrascos" blogosféricos.
Mas não se queimem. Atirem só fagulhas ao ar.
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...e durante o eclipse, eu dormi.
Porque a idade não é o que era e para noitadas todos os dias...xiiii...ó (silêncio sepulcral), já não dá.
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Mais uma vez Amor

Os actores, Marcos Palmeira e Ana Beatriz Nogueira, pedem que se divulgue de boca em boca pois essa é a melhor publlicidade para a peça que nos trazem.
São "Oitenta anos de amor, separações, novos encontros e desencontros na vida de um casal é a proposta do Teatro Tivoli, em Lisboa, de 26 de Outubro a 3 de Novembro".
Com uma representação marcadamente teatral, e muito diferente da representação televisiva novelística a que nos habituámos desde Gabriela Cravo e Canela,
e com humor, vamos assistindo à vida deste casal - e às mudanças de caracterização que esta implica, que têm lugar em pleno palco - ao som de excelentes músicas.
Saí com a sensação de nunca mais querer desencontrar-me de ninguém.
De uma amizade, de um amor, de uma boa camaradagem seja em que plano ela exista.
Para isso, há que parar e pensar no que me rodeia. É o que vou fazer. Até já.
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quarta-feira, outubro 27, 2004

Fascinação

Os sonhos mais lindos, sonhei
De quimeras mil, um castelo ergui
E no seu olhar tonto de emoção
Com sofreguidão mil venturas previ
O teu corpo é luz, sedução
Poema divino cheio de esplendor
Teu sorriso prende, enebria, entonteçe
Es fascinação amor.


(Marchetti/Feraudy/Armando Louzada e sempre por Elis Regina)
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Isto....

O presidente da futura Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, vai hoje pedir aos eurodeputados um adiamento de um mês ao voto de investidura dos seus comissários. O ex-primeiro-ministro português pretende apresentar um novo executivo nas próximas semanas.

não é d'homem!
É de quem, mais uma vez, não soube reconhecer um erro a tempo.
É de quem, mais uma vez, falta à palavra.
É de quem, mais uma vez, vive dos jogos e "concessões" (palavra que ouvi a um jornalista português e que "arrepiou" o líder de grupo parlamentar europeu).

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terça-feira, outubro 26, 2004

Ponta Delgada – Vandalismo Cultural ou Desenvolvimento? - XIX

Prosseguindo pelo lado norte da Matriz cruzamos outra rua.
A hoje Rua Hintze Ribeiro , antiga Rua do Frade, mas que no séc. XVI se chamou «Rua do Lic.do Manoel Garcia », de « Manoel Garcia », do « Garcia », ou só do «Mestre Garcia ».


(Arquivo de Fotografia de Lisboa)
Ernesto Rodolfo Hintze Ribeiro nasceu em Ponta Delgada, a 7 de Novembro de 1849, e faleceu em Lisboa, no dia 1 de Agosto de 1907.
Formou-se em Direito, na Universidade de Coimbra, em 1872, e regressou a S. Miguel para exercer advocacia por cerca de seis anos apenas.
Em 1878, foi eleito deputado por P. Delgada. Em 1881, foi nomeado Ministro das Obras Públicas, depois Ministro dos Estrangeiros, da Fazenda e do Reino. Foi Par do Reino em 1886 e Conselheiro do Estado em 1891. Foi Presidente do Conselho, de 1893 a 1897, de 1900 a 1904 e, ainda, de Março a Maio de 1906.
Era, assim, Chefe do Governo quando foi aprovado o Decreto Autonómico de 2 de Março de 1895.
Os Açores devem-lhe, igualmente, outros benefícios, como o cabo submarino, o telégrafo terrestre em S. Miguel, a lei de farolagem, a conservação do Tribunal da Relação, a criação da Escola de Pilotagem Côrte-Reais, os primeiros trabalhos para a instalação da telegrafia sem fios, a promoção do Liceu Central de Ponta Delgada e a organização dos Serviços Meteorológicos.
Eleito Chefe do Partido Regenerador, em 1900, foi agraciado com a Grã-Cruz da Torre e Espada e dignatário dos mais altos graus de distintas ordens estrangeiras, como Cavaleiro do Tosão de Ouro, de Espanha, e a Ordem dos Serafins, da Suécia, com honras de Príncipe nos respectivos países.
Fora dos cargos políticos, foi vogal do Supremo Tribunal Administrativo e vice-governador da Companhia Geral do Crédito Predial Português. Era sócio da Academia Real das Ciências e foi autor de diversas obras sobre ciência do Direito.
A designação toponímica “Rua Hintze Ribeiro” foi atribuída por deliberação camarária de 14 de Março de 1895.

A seguir temos a Rua António José de Almeida, antiga Rua Nova aberta em 1554.


António José de Almeida nasceu em 1866 e faleceu em 1929. Médico, escritor e estadista português, foi o sexto presidente da República Portuguesa.
Eleito em 1919, visitou o Brasil em 1922 integrado na campanha de criação de ambiente propício à ideia de uma comunidade luso-brasileira. Grande orador republicano, fundou e chefiou o Partido Evolucionista e o jornal "República". Foi ainda Ministro do Interior do Governo Provisório.
A designação toponímica "Rua António José de Almeida" foi atribuída, por deliberação camarária de 20 de Outubro de 1910, à antiga "Rua Nova da Matriz", no âmbito de outras nomenclaturas igualmente relacionadas com a implantação da República que seriam adoptadas na mesma data - "Praça 5 de Outubro" (Campo de S. Francisco), "Rua Teófilo Braga" (Rua do Cerco), "Largo dos Mártires da Pátria" (Largo da Conceição) e "Praça da República" (Largo de João Franco. Esta última designação de "Largo Conselheiro João Franco" havia sido atribuída ao então "Largo do Município" em 14 de Março de 1895).

Carlos F. Afonso
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Porque...

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segunda-feira, outubro 25, 2004

E esta, hein?

limp
Limp Bizkit, the band are'nt really taken in that
much just fred with his rapping lyrics


^^Who is your ultimate Rock Band?^^(pics+new results)
brought to you by Quizilla
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Ponta Delgada – Vandalismo Cultural ou Desenvolvimento? - XVIII

No Largo da Misericórdia, hoje Largo Vasco Bensaúde, a seguir à casa Bensaúde temos a Rua Manuel Inácio Correia , que contornava a antiga Misericórdia pelo nascente e liga o Largo para o norte com a Rua Machados dos Santos que é uma das ruas que constituiu o eixo mediano que atravessa a cidade.

Manuel Inácio Correia, de seu verdadeiro nome Manuel Correia Picanço, nasceu em Ponta Delgada, em 1848, e faleceu em Lisboa, onde fixara residência, no dia 5 de Outubro de 1911. Benemérito cidadão, dotou o Albergue Municipal, os Asilos de Mendicidade e Infância Desvalida e a Cozinha Económica com um rendimento anual nunca inferior a 300$00 reis, legou ao Tenente-Coronel Francisco Afonso de Chaves a quantia de 25 000$00 para construção do edifício próprio para o Museu Municipal de Ponta Delgada e deixou à Câmara Municipal 8 000$00 para aplicar anualmente o seu rendimento a prémios aos artistas de S. Miguel que se tornarem distintos nas artes de ourivesaria, marcenaria, serralharia ou fundição, doando ainda o remanescente dos seus bens à Misericórdia local.
A designação toponímica “Rua Manuel Inácio Correia” foi atribuída por deliberação camarária de 7 de Outubro de 1911.

Chamava-se esta rua pelo menos desde 1514 e até 1911, Rua do Valverde, porque no início do povoamento e quando Ponta Delgada ainda era um simples lugar ali corria a frondosa ribeira do Valverde.
O nome primitivo é ainda hoje vulgarmente usado e serão poucos os que se lembram ou sequer conhecem a “nova” toponímia.

Esta rua ao atravessar o largo contorna pelo nascente as traseiras da Igreja da Matriz e continua-se pela Antiga Rua da Alfândega que nos levava antigamente ao cais e agora à avenida Infante D. Henrique.

Carlos F. Afonso
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domingo, outubro 24, 2004

Poeta castrado, não!

Serei tudo o que disserem
Por inveja ou negação:
Cabeçudo dromedário
Fogueira de exibição
Teorema corolário
Poema de mão em mão
Lãzudo publicitário
Malabarista cabrão.
Serei tudo o que quiserem:
Poeta castrado, não!

Os que entendem como eu
As linhas com que me escrevo
Reconhecem o que é meu
Em tudo quanto lhes devo:
Ternura como já disse
Sempre que faço um poema;
Saudade que se partisse
Me alagaria de pena;
E também uma alegria
Uma coragem serena
Em renegar a poesia
Quando ela nos envenena.

Os que entendem como eu
A força que tem um verso
Reconhecem o que é seu
Quando lhes mostro o reverso:
Da fome já não se fala
-É tão vulgar que nos cansa-
Mas que dizer de uma bala
Num esqueleto de criança?

Do frio não reza a história
-a morte é branda e letal-
Mas que dizer da memória
De uma bomba de napalm?

E o resto que pode ser
O poema dia a dia?
-Um bisturi a crescer
Nas coxas de uma judia;
Um filho que vai nascer
Parido por asfixia?!
-Ah não me venham dizer
Que é fonética a poesia!

Serei tudo o que disserem
Por temor ou negação:
Demagogo mau profeta
Falso médico ladrão
Prostituta proxeneta
Espoleta televisão.
Serei tudo o que disserem:
Poeta castrado, não!

Ary dos Santos
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Ponta Delgada – Vandalismo Cultural ou Desenvolvimento? - XVII


Largo da Misericórdia nos anos 40.
À esquerda, junto da Travessa de Santa Margarida de Chaves,existiu uma Ermida de Santa Margarida.A seguir à esquina da Rua António Joaquim Nunes da Silva, vemos a Rua do Aljube e a seguir a Casa Bensaúde, resultante de demolição do Hospital e Igreja da Misericórdia do séc. XVI.
Ao fundo a antiga casa dos Faria e Maia, hoje Clube Micaelense.


A seguir à Rua António Joaquim Nunes da Silva, antes da Casa Bensaúde, vemos a Rua do Aljube, que antigamente não descia até ao Largo, dado que a Misericórdia se estendia até à esquina da actual Rua António Joaquim Nunes da Silva.

Na Rua do Aljube existiu uma ermida, já desaparecida, a de Nossa Senhora da Ajuda, situada no local da casa nº 40 desta rua.
A origem desta toponímia não é clara. Ou terá aqui existido um aljube (Palavra de origem árabe, al-jobbe, que significava cisterna ou prisão de eclesiásticos quando não estavam ainda sujeitos ao foro civil e que ainda se aplica às prisões de mulheres) ou se trata de uma corruptela da palavra Ajuda, originada na ermida que poderá ter dado origem ao nome (1).


Casa nº 40 da Rua do Aljube onde existiu a Ermida de N.S. da Ajuda e o Aljube, e que substituiu a que existia após a demolição da Ermida e do Aljube e foi consumida por um incêndio no princípio do séc. XX (foto actual)

Por detrás da antiga Misericórdia existe uma pequena travessa, a Travessa do Aljube onde existia, de frente para a Misericórdia, a Ermida de Nossa Senhora da Boa Morte, hoje desaparecida.



Travessa do Aljube onde existia a Ermida de Nossa Senhora da Boa Morte (à direita) de frente para as traseiras da antiga Misericórdia, ambas demolidas. (foto actual)

A Travessa do Aljube liga a Rua do Aljube à Rua Manuel Inácio Correia, antiga Rua do Valverde para onde seguiremos amanhã.

(1)Nestor de Sousa, A ARQUITECTURA RELIGIOSA DE PONTA DELGADA NOS SÉCULOS XVI A XVIII, Universidade dos Açores Ponta Delgada 1986. Hugo Moreira em artigo publicado no jornal “Açores”, nº 9.800 e 30-4-1978 diz ter existido naquele local a Ermida da Ajuda e o Aljube.

Carlos F. Afonso
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sexta-feira, outubro 22, 2004

Melancholic Ballad for the Leftlovers

I know I said things I shouldn't say
baby,I hope you're ok
but I heard things I didn't want to hear
and i'm still ok
I know that living with me was sometimes hard
baby,I know that's true
but it's not so simple as you think
I'm feeling the same way too

please don't say that it's over
don't say that it's over
or won't know what to do
don't say that you'll be gone
or i'll be done
i'll lose myself inside of you

I know sometimes I might seem so ugly
and maybe I really am
i know I'm not that easy to ignore
when I'm really mad...

'cause I just wanna say I love you
more then I ever could
and I just wanna hear you love me too
then I'll be fine

don't say...

(Fingertips/Zé/Rui e Mr. Loop)
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quinta-feira, outubro 21, 2004


DESCLOZEAU, Le coup de barre
(Via Cum Grano Salis)

Em jeito de contra-post, porque o que aí se diz não se refere só ao que devemos esperar de líderes políticos.
E tudo por causa disto.

(qualquer semelhança com o Chá deve-se apenas à inspiração dada para este contra-post, sem qualquer intuito usurpador)

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Este já cá toca!

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Ponta Delgada – Vandalismo Cultural ou Desenvolvimento? - XVI


Largo da Misericórdia nos anos 40. À esquerda, junto da Travessa de Santa Margarida de Chaves,existiu uma Ermida de Santa Margarida.
A seguir à esquina da Rua António Joaquim Nunes da Silva, vemos a Rua do Aljube e a seguir a Casa Bensaúde, resultante de demolição do Hospital e Igreja da Misericórdia do séc. XVI.
Ao fundo a antiga casa dos Faria e Maia, hoje Clube Micaelense


Ao local que se vê na foto tirada da Rua da Misericórdia converge, à direita, antes da antiga Sapataria Rex, a Rua António Joaquim Nunes da Silva (antiga Rua de S. João de Deus), ligando a Rua de S. João (o eixo mediano da cidade) ao eixo sul.
António Joaquim Nunes da Silva nasceu em Lisboa, em 1830, e veio para Ponta Delgada, aos 18 anos de idade, como caixeiro.
Faleceu em Lisboa, onde tinha ido tratar-se de doença fatal, em 27 de Janeiro de 1898. Vingou no comércio local e distribuiu donativos pelos Asilos de Mendicidade e de Infância Desvalida, pelo Albergue Nocturno e pela Câmara Municipal, neste caso destinado à aquisição do relógio da Igreja Matriz, em má hora colocado no alto da torre da igreja da Matriz desiquilibrando-a, doando ainda o remanescente dos seus haveres à Misericórdia de Ponta Delgada.
Era Comendador da Ordem Militar de Nosso Senhor Jesus Cristo, de Portugal, Cavaleiro da Legião de Honra, de França, e Cavaleiro da Ordem de Francisco José, da Áustria. Foi vice-cônsul, em Ponta Delgada, das repúblicas da França e do Brasil e do reino da Grécia.
A designação toponímica "Rua António Joaquim Nunes da Silva" foi atribuída, por deliberação camarária de 12 de Outubro de 1911, à antiga "Rua de S. João de Deus", onde residia. (in José Andrade, A Face Humana da Toponímia de Ponta Delgada, Ed. da CMPD, 2001)

Nesta rua existia a Ermida de S. João de Deus, da qual hoje só resta a parte superior da fachada. Para além da sua profanação, foi destruída a sua parte inferior para a transformar num armazém!
A ermida de S. João de Deus, certamente edificada no século XVII, porque é mencionada por Frei Agostinho de Monte Alverne como uma das 8 ermidas da freguesia de S. Sebastião (Crónicas da Província de S.João Evangelista.das Ilhas dos Açores, vol. I, p. 20), enquanto Frutuoso a ela se não refere nas quatro que indica naquela freguesia.



Fachada actual da Ermida de S. João de Deus, de que só subsiste a parte superior, profanada e vandalizada pela sua transformação em armazém. Já se vêem plantas a nascer no acrescento que lhe foi feito!

Carlos F. Afonso
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Sala De Fumo

É verdade, o bom filho à casa retorna.
(agora, muitos, estão a pensar que voltei a fumar....mas não)
Vou só ali visitar um amigo à Sala de Fumo, e já volto.

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terça-feira, outubro 19, 2004

Nem oito, nem oitenta!

Tivemos um Verão prolongado.
O sol e o calor acompanharam-nos até Outubro e foi com alguma resistência que comecei a mudar as indumentárias.
Eis se não quando, repentinamente, está invernoso. Sem frio é certo.
Mas abateu-se o temporal.
E, note-se, não estou a falar das palavras de Gomes da Silva hoje (existiu uma cabala contra o Governo entre o semanário Expresso, o jornal Público e o ex-comentador da TVI Marcelo Rebelo de Sousa).
Estas palavras não são um temporal, são um circo.
Mas até achei bem porque assim ficou cumprido um principio basilar do Estado de Direito: o principio da igualdade.
Se já havia uma cabala contra o PS, o PPD-PSD e o CDS-PP não podiam, em desigualdade, não ser beneficiados, ou não é?
Bom, o temporal foi uma chuvada e uma trovoada de que tive de me distrair.
Estranhamente no meio de uma trovoada fiquei a trabalhar com um computador que está ligado à corrente eléctrica.
Nunca o faço, nem telefono, nem tomo banho, até que a trovoada passe.
Realmente, nada está bem...


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Mulheres de 30

Numa conversa de mulheres surgiu a ideia de irmos ver a peça “Confissões das Mulheres de 30”, decidimos ir, e fomos. Não só mulheres, mas essencialmente mulheres já na década dos 30.
A peça com Fernanda Serrano, Margarida Marinho e Maria Henrique, anunciava-se como uma comédia baseada em testemunhos reais que pretenderia abordar temas como o amor, o primeiro namorado após a separação, filhos, ex-maridos, tipos de homem no Amor, grandes sonhos, sexo, mercado de trabalho, a preocupação com a maturidade.
A primeira coisa que se pode pensar é porque razão uma mulher ou um grupo de mulheres decide ir, e consegue até convencer homens a ir, ver e ouvir aquilo que ouve e vê todos os dias no seu quotidiano e no quotidiano das suas semelhantes?
A ideia é mesmo essa: é ver e ouvir as “outras” a falarem disso. O que não deixa de ser real, e de ter lugar na nossa realidade, mas que é dito e feito por outras que não nós ou as nossas amigas parece sempre mais distante e, por isso, mais aceitável.
Por outro lado, porque é muito mais fácil lidar com a realidade, com a dureza e crueza que esta possa ter, quando a realidade nos é trazida com humor. Essa, foi, aliás a receita que Stand-Up Tragedy cozinhou com enorme mestria.
Pois bem, em “Confissões das Mulheres de 30” o humor residiu mais na interpretação das actrizes do que no próprio texto, o que para mim é uma receita mais pobre e menos saborosa.
Das interpretações sublinho o espanto que me causou a Maria Henrique, a única das actrizes que veste uma personagem com características vincadas do início ao fim da peça: a problemática, cheia de tiques nervosos, que sempre visitou e precisou de “pssssciiiicanalisssstas” e que até por estes é rejeitada, e que, solteirona, não consegue distinguir uma noite de aventura no Requinte de uma noite de amor. Mas que não deixou de representar espectacularmente a empregada doméstica açoriana, com uma pronúncia hilariante e ainda por cima acusada de ser “puta” (imaginem só isto dito por um continental a tentar pronunciar à micaelense).
No geral, a peça embora bem conseguida em humor e confissões de mulheres, esteve longe de esgotar a mulher de 30.
Porque se centrou na cosmética (nesta parte fiquei com dúvidas quanto às minhas hormonas ou quanto à minha data de nascimento), nas mudanças corporais, na intriguice que sempre existe na amizade entre mulheres, na mulher de 30 frustrada porque solteira ou divorciada ou porque sem filhos, no sexo, nos homens, no sexo, nos homens, no sexo, nos homens, no sexo, nos homens.
Não, não foi tanto assim, mas foi quase.
Faltou a mulher sem frustrações, a casada, com ou sem filhos, a polivalência da mulher, a vontade de, mesmo a mais certinha, cometer loucuras…
E muito mais, porque afinal a Mulher, tal como o Homem, são um poço sem fim com muito a explorar.
No final, duas mensagens.
Uma que no fundo retrata a perspectiva que me pareceu pretender ser focada: “ter 30 anos é uma posição de abrangência estratégica: pode namorar homens de 20, 30, 50... sem que ninguém lhe chame tarada".
Outra, que é a perspectiva que em geral julgo estar correctíssima: “a mulher de 30 já perdeu a inocência, mas ainda lhe falta ganhar a sabedoria” (palavras proferidas por Raul Solnado num excerto reproduzido em tela no final).
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segunda-feira, outubro 18, 2004

Ponta Delgada – Vandalismo Cultural ou Desenvolvimento? - XV

A Rua da Misericórdia conduz-nos do Largo de Camões ao Largo Vasco Bensaúde (antigo Largo da Misericórdia) por nele se situar a antiga Misericórdia de Ponta Delgada e a sua Igreja (séc. XVI).
Vasco Elias Bensaúde nasceu em Lisboa, em 1896, de ascendência micaelense, e faleceu na sua vivenda do Pico Salomão, em Ponta Delgada, no dia 5 de Agosto de 1967. A sua educação foi feita em Inglaterra, seguindo uma tradição criada na família por seu avô, o industrial José Bensaúde, mas deixaria o seu nome ligado a iniciativas pioneiras nos Açores, como o “Terra Nostra”, o “Hotel S. Pedro” e a “SATA”.
Possuidor de avultada fortuna, espírito muito culto, nem por isso ignorou a sua vocação filantrópica, pelo que muitas instituições de caridade locais, que apoiara em rigoroso anonimato, se associaram ao seu grandioso funeral, a par das mais altas autoridades de Ponta Delgada, deixando ainda enlutadas a Empresa Insulana de Navegação, a Mutualista Açoriana, a Companhia de Navegação Carregadores Açorianos, o Grémio do Comércio, o Ateneu Comercial. A designação toponímica “Largo de Vasco Bensaúde” foi atribuída por deliberação camarária de 4 de Março de 1971. ( in José Andrade, A Face Humana da Toponímia de Ponta Delgada, Ed. da CMPD, 2001)


Na Rua da Misericórdia existe, em ruínas, uma bonita casa do séc. XVII, com os típicos lintéis em ponta de diamante, vandalizada pela construção de inestéticos estabelecimentos comercias no rés-do-chão e cuja capela anexa, da invocação de S. Bento, que existia ainda na minha adolescência, mas já profanada entre 1830-1875, foi demolida nos nossos dias para fazer uma garagem de uma importante firma comercial!
Na fachada da ermida existia por cima do vão da entrada, sob varanda de sacada, entre duas pilastras de pedra pintada, a data de 1671.



Rua da Misericórdia. Casa do séc. XVII , vendo-se as vitrinas dos estabelecimento comerciais no r/c ,completamente despropositadas e abaixo da casa (mais à esquerda na foto) a inacreditável garagem resultante da demolição da Ermida de S. Bento que lhe estava anexa



Pormenor da inconcebível garagem resultante da demolição da Ermida de S. Bento do séc. XVII



Desenho do Dr. Luís Bernardo Ataíde

A Misericórdia de PD, porventura a mais rica Instituição dos Açores, possuía naquele local uma ermida de S. João Baptista que Gaspar Frutuoso classifica de pequena. Mantiveram-na junto ao Consistório e ainda em vida do ilustre cronista se começou a construir a grandiosa Igreja do Espírito Santo: “e para ser mais nobre, agora se vai edificando uma sumptuosa e custosa igreja da advocação do Spirito Santo, por outra que tem, com uma capela de S. João Batista, ser muito pequena.(“Saudades da Terra”, Vol. 4º , Cap.XLIII, pág. 78).
No séc. XVIII Francisco Afonso de Chaves e Melo diz-nos:” É um majestoso templo, todo de abobada e de tão singular planta, que é o mais vistoso de todos os das Ilhas, especialmente em Quinta-feira Maior e só nele parece estar Deus sacramentado com o maior respeito e veneração, que se lhe pode dar na terra.”(Margarita Animada, 2.ª Edição 1994 ICPD pág. 56).
Tudo demolido no séc. XIX, após a transferência da Misericórdia para o Convento dos Franciscanos no Campo de S. Francisco (1837), para ser construída a residência de Salomão Bensaúde e hoje a sede da firma Bensaúde & C.ª!!!




Largo da Misericórdia nos anos 40. À esquerda, junto da Travessa de Santa Margarida de Chaves,existiu uma Ermida de Santa Margarida.
A seguir à esquina da Rua António Joaquim Nunes da Silva, vemos a Rua do Aljube e a seguir a Casa Bensaúde, resultante de demolição do Hospital e Igreja da Misericórdia do séc. XVI.
Ao fundo a antiga casa dos Faria e Maia, hoje Clube Micaelense


Nos próximos dias iremos visitar os vários pontos do Largo da Misericórdia (hoje Largo Vasco Bensaúde) referidos nesta legenda.

Carlos F. Afonso


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Meditando

Não vou comemorar a vitória do meu clube aqui, porque afinal foi só um jogo.
Tem de haver mais.

Não vou falar da derrota do Benfica aqui, porque não vi e porque o que vi foram cenas que, mesmo que existam todas as razões de revolta, não dignificam ninguém.

Quanto aos resultados eleitorais nos Açores, fico-me a observar e meditar enquanto quem melhor sabe, e sente, vai certamente analisar.
Mas não posso deixar de expressar que à partida parece-me que há que meditar nas consequências da manutenção do PS no Governo Regional - para um terceiro mandato - e do reforço dos seus lugares na Assembleia Legislativa Regional, agora com maioria absoluta.
A meu ver o voto terá expresso a confiança nas pessoas e, eventualmente, num projecto. Mas também expressou um chumbo na alternativa, uma vontade de não conduzir essa alternativa ao poder.
Assim, cumprirá ao PSD aprender a fazer oposição sem chacota e sem ser em campanha. Existem orgãos onde as coisas podem ser apuradas e discutidas.
Quanto ao PS, espero que faça um bom trabalho. Pelos Açores e pelos Açorianos.
E que o faça sem arrogância - que tristemente senti ontem no discurso de Carlos César - e com competência, eficiência e sem favorecimentos e/ou aproveitamentos da sociedade civil, porque não gostaria que se repetissem as eras em que Mota Amaral governou.
Para quem está de fora sente-se que é necessário melhorar a competência (com a inerente qualidade e eficiência) profissional sobretudo nas áreas que se afirmaram de aposta - como é o caso do turismo - é urgente não esquecer o que de melhor as ilhas oferecem - o ambiente e a agricultura (teimosamente centrada nas vacas..) - e não esquecer que a verdadeira autonomia existe quando financeiramente também se é autónomo.
Finalmente, e sem prejuízo da alegria de muitos socialistas açorianos (e bloggers) com esta vitória, uma palavra especial para a Mariana e para o André. Que acreditaram e trabalharam para esta vitória, mas que, estou certa, não baixarão os braços.

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sábado, outubro 16, 2004

Ponta Delgada – Vandalismo Cultural ou Desenvolvimento? - XIV

A Rua dos Mercadores conduz-nos ao lado sul da Matriz e encontrava-se com a Rua da Alfandega que nos conduzia ao pequeno e pitoresco Cais da Alfandega, barbaramente destruído pelo prolongamento do Aterro e construção da actual Avenida Marginal.

Entre a Rua dos Mercadores e a da Misericórdia existem três pequenas travessas. A de Santa Margarida de Chaves (1) onde existiu uma capela de Santa Margarida (já demolida) virada para a Misericórdia, a dos Henriques ( 2) e a pitoresca Travessa do Arco que atravessando a Rua dos Mercadores se dirigia ao calhau.

Na esquina norte da Rua dos Mercadores com a Rua da Alfândega situava-se, nos finais do séc. XIX, a célebre Loja de Benjamin Férin, onde Antero comprou a pistola em 11-9-1891, poucas horas antes de se suicidar, em local que também visitaremos aqui.
Na Rua dos Mercadores nº 52-A, situa-se a casa onde viveu Garrett quando da sua permanência nesta ilha em 1832, de 8 ou 9 de Maio até 27 de Junho seguinte, data da partida da famosa expedição de D. Pedro para as praias do Mindelo.
Garrett foi recebido no Cais Velho por Pedro Joyce , grande amigo do seu pai e que adquirira esta casa cinco anos antes a Tomás Maria Bessone. Garret conheceu aqui, na Quinta do Botelho , de Jacinto Ignácio Rodrigues da Silveira, futuro Barão de Fonte Bela, numa noite de S.João, numa das muitas festas que aqui houve na altura, uma jovem de 15 anos por quem se apaixonou, Ana Leite de Teive, “ uns olhos pretos de quinze anos” a quem se refere o romance “ Noite de S. João”, escrito nesta casa da Rua dos Mercadores e mais tarde incorporado no Romanceiro


Rua da Alfândega no princípio do séc. XX Na esquina da Rua dos Mercadores (à direita) e com clientes à porta, acima dos tapumes, a Loja de Benjamin Férin hoje ocupada pela Companhia de Seguros Açoreana


A Loja de Benjamin Férin e a Rua dos Mercadores vendo-se ao lado a Tabacaria Açoriana

Aspecto actual da Rua da Alfândega, “afundada” pela sobreelevação da actual Avenida Infante D. Henrique. O edifício à direita a antiga Alfândega do séc. XIX e na esquina com a Rua dos Mercadores a Companhia de Seguros Açoreana.

(1) Margarida de Chaves , filha de Afonso Anes de Chaves, nasceu no local onde hoje existe a Casa Bensaúde, em 1530. Casou com António Jorge Correia. Gaspar Frutuoso, seu confessor dedica-lhe todo o Cap. XCV do Livro IV. A sua biografia mais completa é a de Francisco Afonso de Chaves e Melo "A Margarita Animada”.

(2) António Gaspar Henriques parece estar na origem toponímica da "Travessa dos Henriques", conjuntamente com os seus filhos António e Vicente Gaspar Henriques.
Natural de Lisboa, foi capitão de navio e andou no comércio de escravatura para o Brasil. Veio para S. Miguel com os lucros desta actividade e aqui constituiu família e foi proprietário. Como comerciante, dirigiu a companhia "Boa Fé", com José J. da Luz. Foi Presidente da Associação Comercial de Ponta Delgada, em 1855, e membro directivo do Asilo de Mendicidade desta cidade, em 1905. Segundo o jornal “A Persuasão”, em 1899, "era homem de trato muito ameno e franco, merecendo aqui geral estima; foi pai dos srs. António e Vicente Gaspar Henriques, dois cavalheiros dignos de muita consideração de que gozam".( in José Andrade, A Face Humana da Toponímia de Ponta Delgada, Ed. da CMPD, 2001)

Carlos F. Afonso
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sexta-feira, outubro 15, 2004

Para um Amigo

Não: não digas nada!
Supor o que dirá
A tua boca velada
É ouvi-lo já
É ouvi-lo melhor
Do que o dirias.
O que és não vem à flor
Das frases e dos dias.

És melhor do que tu.
Não digas nada: sê!
Graça do corpo nu
Que invisível se vê.


(Fernando Pessoa, 1931)

Não sei para ou por onde vais, nem é isso que me interessa.
Interessa-me que fiques, ou que vás, desde que bem.
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quinta-feira, outubro 14, 2004

Ponta Delgada – Vandalismo Cultural ou Desenvolvimento? - XIII

Vindo do Largo da Graça (Camões), continuando para poente passamos pela Travessa de S. João, hoje Dr. Francisco Machado de Faria e Maia e que nos levava ao Convento de S. João.
Dr. Francisco Machado de Faria e Maia era filho do 2º Visconde de Faria e Maia, sendo este grande amigo e companheiro de Antero. Foi autor de importantes estudos de História dos Açores (Capitães-Donatários, Capitães-Generais, Um Deportado da Amazonas, etc, etc). Autonomista sincero, ocupou diversos cargos públicos e patrocinou, com a sua enorme fortuna, várias obras de benemerência.

Em seguida chegamos a uma bifurcação que tem a sul, a Rua dos Mercadores, que mantém a designação seiscentista, embora antes se tenha chamado Rua João das Chagas e a do norte a antiga Rua da Amargura do séc. XV, mas desde o séc. XVI conhecida como Rua da Misericórdia.

Hoje essa bifurcação foi alterada pela abertura duma rua para a esquerda, em direcção à famigerada Avenida Infante D. Henrique, a Rua Dr. José Bruno Carreiro , demolindo-se uma série de casas de interessante arquitectura do séc. XIX, mantendo-se contudo a fachada do bonito edifício setecentista, hoje adaptado a hotel.
José Bruno Tavares Carreiro nasceu em Coimbra, a 28 de Agosto de 1880, e faleceu em Ponta Delgada, a 4 de Janeiro de 1957. Era filho do cirurgião micaelense Dr. Bruno Tavares Carreiro. Formado em Direito, fundou, ainda jovem, o semanário "O Distrito", e, já em 1920, o diário "Correio dos Açores", com Francisco Luís Tavares.
Na actividade jornalística e na vida política, pugnou sempre pela defesa da autonomia administrativa dos Açores.
Como escritor, publicou a peça "Uma Véspera de Feriado", de projecção nacional, mas também vasta obra sobre Antero de Quental e Teófilo Braga. Era membro da Sociedade "Tábua rasa", de Lisboa, sócio fundador do Instituto Cultural de Ponta Delgada e Comendador da Ordem de Cristo.
A Câmara Municipal de Ponta Delgada deliberou atribuir o seu nome à rua compreendida entre a Avenida Infante D. Henrique e a Rua dos Mercadores. ( in José Andrade, A Face Humana da Toponímia de Ponta Delgada, Ed. da CMPD, 2001)



Foto do séc. XIX do antigo Largo da Graça (Camões) na bifurcação para a Rua dos Mercadores (à esquerda) e Rua da Misericórdia e antes da abertura da Rua Dr. José Bruno Carreiro e consequente demolição das casas à esquerda. À direita a Travessa de S. João (hoje Dr. Francisco Faria e Maia)



Foto actual do mesmo local vendo-se a entrada da Rua Dr. José Bruno à esquerda e a casa recentemente transformada em hotel e da qual só resta a fachada. Pelo menos isso!
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quarta-feira, outubro 13, 2004

Ponta Delgada, um lugar

Enquanto estou com um olho no que se passa em Alvalade (a Rússia, com um golo, já leva seis dos nossos) ando com o outro na blogosfera, na açoriana.
Vantagens de ser vesga.
Eis que descubro outro lugar dedicado à cidade por onde andamos a passear, o Lugar da Ponta Delgada.
Um lugar a não perder e a visitar.

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Campanhas

No próximo domingo terão lugar as eleições legislativas regionais.
Não fossem algumas notícias divulgadas esta semana nos jornais nacionais, e o acompanhamento da campanha pelos canais televisivos, limitava-me a acompanhar, de longe, o que se escreve na imprensa regional (na qual, sinceramente, não me fio) e sobretudo o que se escreve no Ardemar, no Chá Verde (Puro),
no Entramula, na Fofa de Frio, no Foguetabraze, no Não M'Acredito, no :Ilhas e no Sol na Eira.
Foi essencialmente pelos blogues, e por estes blogues, que fui tendo conhecimento dos escândalos em que ser resolveram centrar as atenções dos maiores líderes, escândalos esses (de queixas anónimas, de CD's, de notícias vindas hoje a público relativas a "antigas" ilegalidades), ao que parece, que quase esgotaram a campanha.
Uma campanha pobre de ideias, vazia de projectos e cheia de discursos ocos, ao que me chega do lado de cá.
O que é curioso é que isto já nem me entristece, nem me irrita, nem me espanta.
Como comentei hoje num desses blogues, as campanhas, no fundo, acabam por mostrar a podridão da política.
Haverá excepções à podridão, é certo, mas é esta que vem ao de cima.


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Urgências


Ir às Urgências, não pagar taxa moderadora - o preço é, aliás, módico e igual para todos -, marcar o dia da visita e divertir-se não é num hospital qualquer.
É no Teatro Maria Matos.
Eu já tenho o meu bilhete e lá para o fim do mês vou ouvir o que é urgente dizer.

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terça-feira, outubro 12, 2004

Ponta Delgada – Vandalismo Cultural ou Desenvolvimento? - XII

Convergimos de novo para o Largo da Graça (Camões), onde se situava o antigo Convento da Graça (de meados do séc. XVII ), profanado pelo liberalismo e posteriormente adaptado a liceu e depois com a Igreja adaptada a Tribunal.
Da clausura do convento, hoje parcialmente demolida, fizeram um edifício onde
funcionou, até à pouco, o Arquivo e Biblioteca Pública de P.D. e uma escola primária. Hoje restam o claustro adaptado a auditório que não serve para nada e a antiga Igreja, adaptada a Academia das Artes, com umas inacreditáveis varandas de betão, ocupando os vãos dos arcos que separam a nave central das laterais.

Da cerca que lhe fica a norte, fizeram primeiro a horta do batalhão de Ponta Delgada e de 1848 a 1852, o mercado agrícola, com um curioso ambiente rústico, agora “melhorado”(!!??) e completamente descaracterizado por uma modernização descabida e disparatada.





No lado nascente do Largo da Graça existia a quinhentista “Ermida Nossa Senhora da Natividade, onde os pretos da cidade têm sua confraria” ( ), demolida no séc., XIX para se fazer um edifício onde hoje funciona uma farmácia!
A Câmara expropriou-a em 1859, vendendo parte do sítio para a construção de uma pequena casa. Hoje, no seu lugar, virada para o largo, situa-se um edifício em cujo rés-do-chão está instalada uma farmácia.

Junto ao lado poente da Igreja da Graça havia uma pequena azinhaga, a “Azinhaga da Graça” ou “Rua da Natividade para cima”, visível na fotografia da Igreja, beneficiada e alargada no séc. XIX, sendo hoje denominada Travessa da Graça que liga o actual largo de Camões à actual Rua do Mercado que lhe fica a norte. Para se aceder à estreita azinhaga, “subia-se os degraus do adro da Igreja, então mais extenso para a esquerda e formava a embocadura da mesma azinhaga”(M.Supico, “ A Persuasão”nº 1795, de 10-6-1896).



Interior da Igreja da Graça com as inacreditáveis varandas de betão colocadas nos vão dos arcos que separam a nave central das laterais



Fotografia actual da zona nascente do Largo da Graça (Camões), vendo-se o edifício que substituiu a Ermida quinhentista de N.S. da Natividade. À esquerda as escadaria da Igreja da Graça e no início da Rua Ernesto do Canto, a escola e o antigo edifício da Biblioteca Pública e Arquivo de Ponta Delgada, resultantes da demolição parcial da Clausura do Convento da Graça
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segunda-feira, outubro 11, 2004

Traída!

Antecipam o discurso, apanham-me desprevenida e não ouvi nada.
Mas pelo que já li gostava de perceber se foi um discurso, o que se ouviu, ou um stand-up-tragedy, o que se assistiu.
Três meses "é tão pouco tempo, mas já muito se decidiu".
Decisões úteis, fundadas e correctas? Não.

Tão pouco tempo e já tantas questões foram levantadas". "É chegado o tempo de falar com todos vós sobre temas que verdadeiramente contam para Portugal. O que não conta são certamente polémicas sobre regras e princípios que não estão em causa".
Falar? Não falem, trabalhem...e já agora bem sff!
E as polémicas, Sr. PM, quem as começou foram os meninos da sua banda.

Em Portugal, os cidadãos são livres, a justiça é livre, o Parlamento é livre. Todos somos livres".
Será que ele está no mesmo Portugal que eu?

"Mantemos o compromisso do Governo de observar o tecto de três por cento no que ser refere ao défice, mas o respeito com esse compromisso não nos impedirá com equilibrio de baixar o IRS, de aumentar as pensões, subir os vencimentos de toda a função pública".
Eu sonhei ou Bagão não disse isto?



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Ponta Delgada – Vandalismo Cultural ou Desenvolvimento? - XI



Fotografia do séc. XIX da Rua dos Clérigos, tirada da torre da Igreja de S.Pedro. Vendo-se o Solar dos Cantos com uma curiosa torre de observação em madeira. Por detrás o Convento da Graça e a cerca ainda intactos Ao fundo à distancia as torres abobadadas do Colégio de Todos-os-Santos

Voltando à bifurcação da Rua João Melo Abreu, no antigo local da Fontinha de S. Pedro, pelo norte a hoje chamada Rua Dr. Ernesto do Canto antiga “Rua do Amparo” e depois “Rua de N.S. da Graça”) que nos conduz ao Largo da Graça.

Ernesto do Canto nasceu em Ponta Delgada, na zona dos Prestes, a 12 de Dezembro de 1831, e faleceu no dia 21 de Agosto de 1900.
Formou-se na Universidade de Coimbra e, com apenas 26 anos de idade, começou a ocupar cargos na administração regional, como vereador e vice-presidente da Câmara Municipal de Ponta Delgada, sendo eleito para a Junta Geral em 1860 e 1866.
Em 1862, foi eleito vice-presidente da Sociedade dos Amigos das Letras e das Artes. Foi membro fundador do Clube Micaelense, a que presidiu em 1867. Em 1969, foi Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Ponta Delgada e, em Dezembro de 1895, foi presidente da primeira Junta Geral Autónoma, criada pelo Decreto de 2 de Março. Dedicou-se à investigação histórica e publicou vários trabalhos, como "Ensaio Bibliográfico", "Biblioteca Açoriana", "Os Côrte-Reais" e "Quem Deu o Nome ao Lavrador?".
A sua maior obra é, porém, o "Arquivo dos Açores", de que publicou o primeiro volume em 1878 e o 12° catorze anos depois, em 1892. Os 13° e 14° volumes foram editados sob a direcção do Coronel Francisco Afonso de Chaves e o 15° volume é uma colectânea de documentos sobre a Ilha de Santa Maria, organizada pelo Dr. Manuel Monteiro Velho Arruda.
A Câmara Municipal de Ponta Delgada deu o seu nome à rua da freguesia citadina de São Pedro onde se encontra o palacete que foi pertença de seu pai, o Morgado José Caetano do Canto Medeiros. (in José Andrade, A Face Humana da Toponímia de Ponta Delgada, Ed. da CMPD, 2001)

Ainda hoje existem várias casas do séc. XVIII e uma num pequeno largo à direita, a antiga Pracinha de S. Pedro, ainda do séc. XVII.

A casa principal e a maior da rua, o Solar dos Cantos, restaurada, é onde hoje funciona o Tribunal de Contas.
A casa pertenceu no séc. XIX ao morgado José Caetano Dias do Canto e Medeiros, onde residiu D. Pedro IV durante a sua estadia em Ponta Delgada. Nela também funcionou provisoriamente durante alguns anos deste século a Câmara Municipal. quando das obras de restauro do actual edifício e já depois de ter estado instalada no solar de Nossa Senhora de Guadalupe.

Anexa a esta existiu a Ermida de Nossa Senhora do Amparo (séc. XVI) que, inicialmente, deu o nome à rua, hoje já desaparecida.

Carlos F. Afonso
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Demorou...

...mas chegaram.


Decididamente a partir de hoje passei a gostar mais de gatos.
Comecei por estranhar darem-me um leque à entrada. Como há umas semanas, quando lá estive, tiritei de frio com o ar condicionado será que agora nos iam acalorar com o aquecimento? Não!
Não precisei do leque apesar do calor que se sentiu. Calor no palco, com um elenco fantástico em profissionalismo, qualidade e simpatia com o público. E calor na sala, que estava cheia e vibrou com o espectáculo.
O espectáculo musical, composto por Andrew Lloyd Webber, com base no livro infantil de Thomas Stearns Eliot Old Possum's Book of Pratical Cats, tem como pano de fundo o Baile Anual dos Gatos Jellicle e a escolha, pelo Velho Deuteronomy, do gato que irá renascer numa nova vida Jellicle.
Com esse pano de fundo, e ao som de música fabulosa, temos o desfile dos vários gatos, com a história das suas vivências, as suas alegrias, amarguras, aventuras e desventuras. Mas no fundo do que se trata é da apresentação de várias personagens e carácteres pois, como nos diz Velho Deuteronomy, "os gatos são muito parecidos convosco"
Para saberem mais podem ir aqui, ou aqui.
Gostei particularmente de Munkustrap, o nosso gato gigante narrador, de Jennyanydots, a Velha Gata Gumbie, dorminhoca e perguiçosa, de Rum Tum Tugger, o engatatão e brincalhão, e de Mungojerrie e Rumpelteazer, a parelha divertida de gatos travessos.
No final, Memory que está presente em todo o espectáculo deixa de ser uma recordação e Grizabella volta a ser recebida entre os seus pares.
Para a minha memória vão ficar ainda outros pormenores.
Uma ida ao palco onde o Velho Deuteronomy (James Paterson) pacientemente se encontrava a dar autógrafos com uma enorme simpatia na sua voz possante.
E pela primeira vez o camarote presidencial ocupado, com um Presidente interessadíssimo no som. Sim, porque foram várias as vezes que vimos a sua cabeça a espreitar deleitado a olhar para.....não, não era para o palco, era para baixo, para a mesa de som!
Provavelmente estaria a pensar que gostaria de poder tomar decisões com um simples toque num botão...
E na minha memória fica também, a primeira vez que a ouvi ao vivo....Memory!

Midnight not a sound from the pavement
Has the moon lost her memory?
She is smiling alone
In the lamplight, the withered leaves collect at my feet
And the wind begins to moan

Memory
All alone in the moonlight
I can smile at the old days
I was beautiful then
I remember the time I knew what happiness was
Let the memory live again

Every street lamp seems to beat a fatalistic warning
Someone mutters and the streetlamp strutters,
and soon it will be morning.

Daylight
I must wait for the sunrise
I must think of a new life
And I mustn't give in.
When the dawn comes, tonight will be a memory too
And a new day will begin

Burnt out ends of smokey days
The stale cold smell of morning
The streetlamp dies, another night is over
Another day is dawning...

Touch me!
It's so easy to leave me
All alone with the memory
Of my days in the sun...
If you touch me, you'll understand what happiness is
Look, a new day has begun.



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domingo, outubro 10, 2004

Ponta Delgada – Vandalismo Cultural ou Desenvolvimento? - X



Forte de S. Pedro em 1936, vendo-se a Igreja , a casa de Thomas Hickling e um hidroavião amarando em frente ao forte

Chegados ao fim da Rua João Melo Abreu esta subdivide-se em duas num local antigamente chamado da Fontinha de S. Pedro, provavelmente pelo facto de ali ter existido uma fonte.
A rua que fica a sul, leva-nos ao lado norte do Largo de S. Pedro, hoje Almirante Dunn com a bonita Igreja do Apóstolo S. Pedro do séc.XVI, construída no local da primitiva ermida quinhentista da mesma invocação e contemporânea de Frutuoso que ainda se refere ao início da construção da nova igreja. Muito arruinada foi restaurada no séc.XVII.

O Contra Almirante Herbert Owar Dunn (1857-1939), cidadão honorário de Ponta Delgada, faleceu em Baltimore, no dia 6 de Março de 1939. Foi o primeiro comandante da base naval dos Estados Unidos da América em S. Miguel, estabelecida em 1918 e desmobilizada em 1 de Setembro de 1919. Mereceu, por isso, a medalha de Serviços Distintos, do Governo dos Estados Unidos, e a condecoração com o grande oficialato da Ordem de Avis, pelo Governo Português. Na sua acção local de benemérito reconhecida em sucessivas manifestações populares de apreço e homenagem, destaca-se o apoio decisivo às autoridades portuguesas e aos médicos micaelenses no combate à epidemia de gripe pneumónica que deflagrou em Outubro de 1918, sem o qual não se pode calcular até onde teria subido o número de dois mil mortos os que chegou a registar-se em S. Miguel. Em 19 de Março de 1919, sob proposta do vogal Evaristo Ferreira Travassos, a Câmara Municipal criou o título de “Cidadão Honorário de Ponta Delgada”, atribuindo-o, pela primeira vez, ao Almirante Dunn. A Câmara Municipal atribuiu ainda o seu nome ao local onde residiu em Ponta Delgada, procedendo ao descerramento da lápide toponímica a 13 de Abril de 1919. Morava no Almirantado Americano situado a poente neste largo na antiga casa dos finais de setecentos e princípios de oitocentos de Thomas Hickling hoje Hotel de S. Pedro. ( in José Andrade, A Face Humana da Toponímia de Ponta Delgada, Ed. da CMPD, 2001).

Thomas Hickling, já aqui referido, nasceu em Boston, Massachusetts a 21-2-1745 e casou aos 19 anos com Sarah Emily Green de quem teve dois filhos: William e Catherine. O Pai ,um gentleman inglês fiel ao seu Rei, temendo que viesse a ser preso e a colocar toda a família em posição difícil, uma vez que Thomas Hickling era partidário da revolução independentista americana, enviou-o para Ponta Delgada onde chegou em 1769, deixando a mulher e os dois filhos na América.
Nunca mais voltou aos Estados Unidos. Em 1778, após a morte da 1º mulher, casou com Sarah Falder, que aqui arribara com os pais após um naufrágio, nascida em Filadélfia e de quem teve 14 filhos.
Nos Açores foi dos pioneiros na cultura e comércio da laranja entre os Açores, Inglaterra e a Rússia que floresceu no ultimo quartel do séc. XVIII e primeira metade do séc. XIX.
Foi um dos homens mais ricos dos Açores e possuía algumas das casas mais bonitas de S. Miguel, uma das quais a do hoje Hotel de S. Pedro, em estilo Georgiano colonial que começou a ser construído em 1812.
Desde 1770 se interessou pelas Furnas e foi o primeiro a descobrir o interesse do local como estância de termal, de veraneio e lazer. Construiu um pavilhão, jardim e tanque de água férrea a que chamou “Yankee Hall".
Em 1795, já depois da independência dos Estados Unidos, foi nomeado Cônsul dos Estados Unidos nos Açores e Conselheiro em Portugal, cargo que se manteve na família por mais de 100 anos e, posteriormente, cônsul da Rússia.
Uma das mais notáveis residências que aqui construiu, por volta de 1802, foi a da Quinta da Glória, em Rosto de Cão. Para tal empreendimento mandou vir mestres dos Estados Unidos que colaboraram com artesãos locais. Tinha esta casa um dos mais bonitos jardins de S. Miguel, hoje totalmente desaparecido. Visitei esta esplêndida residência há 20 anos e, apesar da degradação e abandono a que inexplicavelmente está votada, continua a ser, ainda hoje, um magnífico exemplar de arquitectura pela sua beleza, funcionalidade e qualidade de construção.
Duas das suas filhas, Elisabeth e Anne, casaram com William Ivens, um inglês aqui chegado em circunstâncias rocambolescas. Elisabeth foi avó do grande explorador do séc. XIX Roberto Ivens. A filha do 1º casamento de Thomas Hickling, Catherine, visitou-o em S. Miguel em 1786, praticamente para o conhecer, uma vez que ficara a viver com os Avós nos Estados Unidos.



Antigo Cais de S. Pedro, foto tirada da torre da Igreja da Graça, vendo-se a Casa Hickling e a casa que lhe está anexa, onde funcionou o Externato do Infante com um jardim alto e fortemente murado e a igreja de S. Pedro




Igreja de São Pedro actualmente

A rua continua pela Rua dos Clérigos até ao Largo da Graça, hoje Largo de Camões, pequeno espaço vagamente triangular resultante da convergência das duas ruas, Clérigos e Ernesto do Canto, para onde seguiremos amanhã.

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O prometido é devido...

... e o devido foi merecido e agora foi cumprido!
Com muita imaginação e humor foi ganho aqui um prémio.
Lá fomos ao Farta Pão onde tivemos o "sabor autêntico" do tal cozido à portuguesa.
Muito diferente do nosso cozido das Furnas, mas delicioso e excelentemente bem servido.
"Para mais tarde recordar" aqui fica.
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Rubrica Semanal

Nem pensem que vou falar de Marcelo.
Sobre isso parece-me que já todos disseram e escreveram o que tinham a dizer e a escrever. Todos menos o PM que, atrasadamente, parece que falará amanhã ao país.
A rubrica que me traz aqui é a "semanada de excitações e reflexões, acondicionada entre aspas, para guardar e, de vez em quando, revisitar na persistência da memória" do João Nuno.
A não perder!
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sábado, outubro 09, 2004

Ponta Delgada – Vandalismo Cultural ou Desenvolvimento? - IX

Regressando à rua João Melo Abreu, vemos que nela resistem duas casas antigas. Uma pequena à direita com o nº 35 , datada de 1732 e outra à esquerda dos finais de setecentos com o nºs 24 a 30. .
Do lado norte da rua existem três ruas perpendiculares que a ligam à Rua do Perú. A Rua das Cabaças, com a designação quinhentista ainda conservada, a Rua do Meio (antiga “Rua de Ana Godinho”), e a Rua Tavares Canário (antiga “Rua do Argueiro”, depois do “Argunheiro” ou do “Dargoeiro”).
Manuel José Tavares Canário nasceu a 29 de Janeiro de 1866, na vila da Lagoa, e ali faleceu a 13 de Dezembro de 1917. Organizou, em Santa Cruz da Lagoa, a Banda "Estrela d'Alva", da qual foi regente, bem como da filarmónica da vila de Povoação, onde viveu algum tempo. Em 1897, fixou residência em Ponta Delgada, como chefe de conservação da Câmara Municipal, abrindo um estúdio de música (canto, piano e instrumentos de corda e de sopro) e tornando-se o primeiro professor de Canto Coral no liceu da cidade. Organizou, também, a Tuna dos Empregados do Comércio. Dedicado à composição musical, coligiu 29 balhos populares micaelenses, postos em partitura para banda, e as vinte canções populares com que organizou o seu "Cancioneiro Micaelense". É autor de 14 composições religiosas e de 25 temas de música profana. A designação toponímica "Rua Tavares Canário" foi atribuída por deliberação camarária de 21 de Junho de 1918. ( in José Andrade, A Face Humana da Toponímia de Ponta Delgada, Ed. da CMPD, 2001).
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25 anos



Para mim, a primeira vez que os vi foi há 16 anos.
Hoje não será a última certamente!
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sexta-feira, outubro 08, 2004

Ponta Delgada – Vandalismo Cultural ou Desenvolvimento? - VIII

Ao acabar o antigo porto da Calheta nasce uma pequena rua à esquerda que corre paralela à anterior mas mais a sul hoje chamada Rua do CalhauRua direita de Baixo » ou «Rua de Baixo » , mas que no século XVIII surge designada por « Rua do Calhau a S. Pedro » ou «do Calhau para a Calheta ») que nos levava ao lado sul da Igreja de S. Pedro depois de passar um bonito solar do séc.XVII, no seu lado esquerdo, hoje demolido para construir um Hotel!



Zona traseira do Solar do séc. XVII, virada para o mar em S. Pedro, sito na Rua do Calhau, demolido para construir o Hotel Açores Atlântico



Hotel Açores Atlântico


A Rua do Calhau continuava–se pela Rua do Castelo, hoje transformada em beco e dando acesso a uma única casa, de construção moderna mas conservadora e tradicional. A rua chama-se do Castelo porque conduzia ao Castelo de S. Pedro, pequena fortaleza também já desaparecida, situada na zona do antigo Pesqueiro.



Casa setecentista da Rua do Castelo, demolida e substituída no séc. XIX por uma desinteressante casa de dois andares, onde tive em criança aulas de Inglês com a uma senhora inglesa aqui residente, a Mrs. Carvalho, casada com o sr. Eleutério Carvalho. Ao fundo o Solar também do séc. XVII demolido para construir o Hotel Açores Atlântico



Aspecto actual da Rua do Castelo. A casa de construção recente, inspirada na primitiva e substituiu a que tinha “apagado” a casa setecentista



Vista aérea da zona de S. Pedro antes do bárbaro prolongamento da Avenida Marginal. À direita o solar do séc. XVII ( demolido para fazer o Hotel Açores Atlântico). À esquerda em baixo o Forte de S. Pedro (destruído). Entre eles, o grupo de casas da Rua do Castelo que conduzia ao Forte , ao centro, a Igreja de S. Pedro, tendo defronte a casa de Thomas Hickling, antes da sua adaptação a Hotel. Por detrás da casa Hickling, o Solar dos Cantos e à sua esquerda a clausura do Convento da Graça ainda intacta, de que falaremos nos próximos dias.
Foto dos finais do séc. XIX



Carlos F. Afonso
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quinta-feira, outubro 07, 2004

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Antiguidades

Um comentário do El sobre a grafonola e a subsequente "troca de galhardetes" quanto ao ser antiga lembrou-me uma história e este tema.
Já aqui escrevi sobre, e lembrámos todos, os nossos objectos esquecidos, ou seja, os brinquedos, utensílios, toda e qualquer coisa que cada um de nós tivesse usado (ou visto usar) numa fase da sua vida, deitado para o lado, e nunca mais tivesse lembrado ou recordado.
A verdade é que muitos desses objectos para nós são esquecidos mas para muitos nem sequer são conhecidos ou foram encontrados.
Como a grafonola.
Este verão vivi um episódio em que pude verificar como um objecto que tanto utilizei é já uma antiguidade para a geração que me segue.
Isto porque o filho dos meus amigos Nany e João, com quase seis anos, nunca tinha utilizado ou sequer visto um telefone de disco (bem diferente dos actuais de teclas, visores e outros apetrechos que tais com que estará familiarizado).
Quando viu um em casa dos meus pais ficou, primeiro, estagnado a observá-lo como se estivesse a observar uma qualquer obra de museu (como terá observado, ao que me contaram, obras do Louvre), para depois passar a perguntar se não deveriam telefonar aos avós, certamente esquecendo-se que, a fazerem-no, os pais fariam a chamada dos seus telemóveis, como fizeram.
Lá tivemos de fazer uma experiência e do telefone de disco ligámos para o meu telemóvel. Ou melhor, ele tentou ligar e nós tivemos de explicar que não bastava carregar no buraquinho redondo onde estava o número, pois tinha de rodar o disco...
Este episódio ajudou-me a ver que eu nunca me tinha apercebido como estou a ficar antiquada!
E vocês, lembra-se de objectos que gostariam de dar a conhecer aos vossos filhos, netos ou sobrinhos?
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Ponta Delgada – Vandalismo Cultural ou Desenvolvimento? - VII

Na Calheta de Pero de Teive a rua subdivide-se em duas, a Eng.º José Cordeiro, continuação da Rua da Calheta e início do 1º grande eixo sul da cidade (João Melo Abreu, Largo de S. Pedro, Rua dos Clérigos , Largo de Camões, Rua dos Mercadores, lado sul da Matriz, Praça do Município, Rua de Santa Luzia, lado Sul do Campo de S. Francisco, antigo cais do Corpo Santo) e a Ladeira da Águas Quentes que inicia o 2º eixo mediano da cidade (Rua do Perú, Rua do Mercado, Rua de S. João, Rua Machado dos Santos, Rua Marquês da Praia, Rua Dr. Gil Mont’Alverne e lado norte do Campo de S. Francisco).


José Cordeiro nasceu no lugar da Grotinha, freguesia de Arrifes, a 27 de Fevereiro de 1867, e faleceu no dia 29 de Novembro de 1908. Estudou na Bélgica e em França e estagiou neste país e na Alemanha, respectivamente, em fábricas de açúcar e estearina e de álcool e cerveja. Trabalhou, depois, na Fábrica de Álcool da Lagoa, em S. Miguel, e na Companhia de Gás, em Lisboa, além de outras tentativas de realização profissional na Argentina e no Chile. Aqui tomou contacto com um sistema, embora rudimentar, de aproveitamento hidro-eléctrico para produção de energia eléctrica. De regresso aos Açores, em 1899, com apenas 31 anos de idade, inicia os seus trabalhos de industrial autónomo, aproveitando a queda de água da Ribeira da Praia para fornecer luz eléctrica à vizinha Vila Franca do Campo. Em 1902, ilumina a vila da Ribeira Grande e, no ano seguinte, começou a montar a luz eléctrica da cidade de Ponta Delgada, que veio a inaugurar a 13 de Fevereiro de 1904. A designação toponímica "Rua do Engenheiro José Cordeiro" foi atribuída por deliberação camarária de 22 de Abril de 1948. ( in José Andrade, A Face Humana da Toponímia de Ponta Delgada, Ed. da CMPD, 2001).

A Rua João Melo Abreu (antiga “rua q' uaj dafonte pera acalheta”,rua derejtaque uaj pera acalheta”, “rua de cima q. vae da Calheta para a Fonte”, “Rua Direita da Calheta” ou “Rua Direita da Fontinha”), continua a Eng. José Cordeiro.

João de Melo Abreu, natural do Porto, faleceu em Ponta Delgada, a 9 de Fevereiro de 1911. Passou parte da sua juventude a aprender contabilidade no Brasil e, em 1865, segue para a Ilha de S. Miguel, a convite do Visconde do Porto Formoso, para exercer funções de guarda-livros, vindo a fixar residência na rua que ostenta hoje o seu nome. Foi zelador da Caixa Económica da Associação de Socorros Mútuos de Ponta Delgada, criada em 1969, fundou entretanto diversas sociedades e, em 1880, decidiu instalar a sua própria firma, "Melo Abreu, Lda.", que depressa se assumiu como a maior exportadora de ananases. No dia 4 de Maio de 1892, é licenciada a "Fábrica Cervejeira, Refrigerantes e Outras Indústrias", por solicitação da firma "Melo & Ca", que inicia a produção, movida a vapor, da primeira cerveja regional com marca registada. No ano seguinte, monta ainda a "Fábrica de Refrigerantes e Gelo", passando João de Melo Abreu a acumular as funções de proprietário e director, após desfeita a sociedade inicial com o industrial Gil Augusto de Miranda. É também nesse período que adquire as instalações da antiga "Rua Formosa" e actual "Rua de Lisboa", onde a Fábrica de Cervejas e Refrigerantes "João de Melo Abreu" funciona ainda actualmente. A designação toponímica "Rua João de Melo Abreu" foi atribuída por deliberação camarária de 18 de Fevereiro de 1914. ( in José Andrade, A Face Humana da Toponímia de Ponta Delgada, Ed. da CMPD, 2001).

Carlos F. Afonso



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quarta-feira, outubro 06, 2004

Importa-se de explicar?

"Na sequência da conversa da iniciativa do presidente da Media Capital, Miguel Paes do Amaral, decidi cessar, de imediato, a colaboração na TVI, a qual pude sempre livremente conceber e executar durante quatro anos e meio».
Eu concordo com Vital Moreira, pois Paes do Amaral tem muito que explicar.
Não tanto por ser romântica como alguns - até sou mas pela politica não, pois sempre fui e cada vez mais estou descrente - mas pelo sentido prático da questão (não obstante ingénuo), acho que as respostas de Paes de Amaral deviam ser estas:

(i)O que que Paes do Amaral disse a MRS, para forçar este a abandonar o programa, que claramente fazia com inexcedível gozo?
O Senhor Professor não quer ir divertir-se para outro lado, quem sabe para uma Quinta, onde podia disfrutar do ar do campo, dos prazeres da natureza, de companhias agradáveis, podendo continuar a despejar os seus ódios, com a vantagem de ter mais tempo de audiência para o fazer?

(ii) O que é que levou Paes do Amaral a forçar o fim de um programa que evidentemente trazia enormes vantagens à estação?
No pressuposto da resposta (i) o programa não acabaria. Mudaria era de local de emissão, e de horários de transmissão.

(iii) O que é que o Governo teve a ver com isso?
O Governo necessitou de um equilibrio das forças da coligação na Quinta.



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Prece

Talvez que eu morra na praia

Cercada em pérfido banho
Por toda a espuma da praia
Como um pastor que desmaia
No meio do seu rebanho.

Talvez que eu morra na rua
E dê por mim de repente
Em noite fria e sem luar
E mando as pedras da rua
Pisadas por toda a gente.

Talvez que eu morra entre grades
No meio de uma prisão
Porque o mundo além das grades
Venha esquecer as saudades
Que roem meu coração.

Talvez que eu morra de noite
Onde a morte é natural
As mãos em cruz sobre o peito
Das mãos de Deus tudo aceito
Mas que eu morra em Portugal.


(Alain Oulman/Pedro Homem de Melo)

Na verdade não importa onde e quando porque o que fica é o vazio.
Por duas pessoas que nos deixaram em 6 de Outubro.



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Ponta Delgada – Vandalismo Cultural ou Desenvolvimento? - VI

Continuando pela Rua da Calheta chegamos ao antigo porto piscatório da Calheta de Pero de Teive, hoje aterrado e transformado em parque de estacionamento.


Porto da Calheta de Pero de Teive como era durante o séc. XX


A Calheta de Pêro de Teive hoje em dia e a Rua Eng.º José Cordeiro


Pero de Teive foi quem redigiu a primeira acta do Concelho de Ponta Delgada, na sequência imediata da sua criação pelo rei D. Manuel I, em em 1499. Haviam então sido realizadas eleições para os primeiros dirigentes do novo concelho, que determinaram a escolha de Nuno Gonçalves Botelho e João da Castanheira, como juízes; João Gonçalves o Tangedor e Pero Afonso Castelhano, como vereadores; e ainda João Dias Caridade, como Provedor. Pero de Teive foi encarregue de redigir essa acta. Cinco séculos volvidos, em homenagem à sua memória, a designação toponímica "Rua Pêro de Teive" foi atribuída por deliberação camarária de 6 de Outubro de 1998. Pero de Teive era o segundo filho de Gonçalo de Teive Paím e casou com Francisca de Mesas. ( in José Andrade, A Face Humana da Toponímia de Ponta Delgada, Ed. da CMPD, 2001).

Ao antigo porto da Calheta vinha dar a Rua do Poço – “e junto está o poço de Duarte Borges de Gamboa que, sendo provedor da fazenda de el-Rei, ali mandou fazer, para se granar o pastel com água dele.”( Gaspar Frutuoso, “Saudades da Terra”, Vol. 4º , Cap.XLIII, pág. 82), antiga “Rua do Poço davaronica” (sic), unindo o antigo Caminho Novo (actual Rua da Mãe de Deus) à Rua da Calheta.

Carlos F. Afonso


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terça-feira, outubro 05, 2004

Férias?

Espantou-me ver ontem uma funcionária pública, requisitada há anos pelo governo para exercer múltiplas funções "indispensáveis", estar agora, não sendo candidata, a acompanhar O CANDIDATO em campanha pelos ilhas todas.
Como poderia um qualquer funcionário público abandonar as suas funções, pagas por todos nós, só pelo prazer de acompanhar o "seu" candidato.
Só metendo férias... (???)
Carlos F. Afonso
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Merecíamos...

...um melhor


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Ponta Delgada – Vandalismo Cultural ou Desenvolvimento? - V

A Rua da Calheta depois de passar a cadeia tem uma larga rua para norte, aberta em meados do séc. XX chamada Av. D. João III que a ligava inicialmente à Estrada das Laranjeiras e hoje se prolonga mais para norte para a nova zona de expansão da cidade, o antigo Caminho de S.Gonçalo.

D. João III, o Piedoso, décimo quinto rei de Portugal, nasceu em Lisboa, em 1502, e ali De faleceu no ano de 1557. Filho de D. Manuel I, a quem sucedeu, e da rainha D. Maria, filha dos Reis Católicos, foi aclamado rei em 1521. Preocupou-se em defender o vasto império, iniciando concorrência no comércio do oriente com os franceses e espanhóis. Conseguiu autorização do Papa Paulo III para o estabelecimento da Inquisição em Portugal e introduziu também a Companhia de Jesus. Promoveu a reforma da Universidade, que transferiu de Lisboa para Coimbra, em 1537. Na política ultramarina, distribuiu as terras do Brasil em capitanias, substituídas mais tarde pelo sistema do governo-geral. No dia 2 de Abril de 1546, elevou Ponta Delgada à categoria de cidade.

Quatro séculos depois, por deliberação camarária de 25 de Setembro de 1958, foi atribuído o seu nome à avenida inicialmente designada como "Rua E". A nova artéria fora rasgada pela Câmara Municipal de Ponta Delgada, sob a presidência de Manuel da Silva Carreiro, durante a década de cinquenta, para criar novas possibilidades de construção e desanuviamento à freguesia de São Pedro. O seu prolongamento até à Rua de S. Gonçalo foi construído já no ano 2001. ( in José Andrade, A Face Humana da Toponímia de Ponta Delgada, Ed. da CMPD, 2001).

Carlos F. Afonso
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segunda-feira, outubro 04, 2004

Casinha

O ministro comprou o terreno, construiu e numa pernada obteve a licença da Câmara, sua ex-cliente.
E mal se torna ministro pretende mandar abaixo os vizinhos alegadamente ilegais.
Há umas semanas que se escreve, como veio a fazer-se aqui e se fala sobre isto.
É mais um tema vergonhoso deste nosso país, deste nosso Governo
Eu, fico-me a ouvir uma música.

As saudades que eu já tinha
Da minha alegre casinha
Tão modesta quanto eu
Meu Deus como é bom morar
Num modesto primeiro andar
A contar vindo do céu


(Tim, Xutos e Pontapés)

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Saudade

Nem sempre a saudade é triste,
por vezes ri a saudade!
A saudade só existe
na saudade da saudade.

(quadra do Poema da Saudade, Artur Lobato, Contraste)

Guardo na memória sobretudo o seu sorrir e os momentos divertidos que nos proporcionou.
Por isso as saudades que tenho não são tristes.

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domingo, outubro 03, 2004

Ensino e a Noite

Não sei se me ri mais a ler as medidas propostas para acabar com a dita pressão, se com o texto que motivou tais propostas que relata a preocupação do Reitor da Católica com "Pressão" da Indústria Nocturna nos Resultados dos Alunos
E quem é Pedro Santana Lopes para desejar que a malta jovem não tenha vida nocturna?
E que mais apoios quer a Católica?
Isto está tudo doido...



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Ponta Delgada – Vandalismo Cultural ou Desenvolvimento? - IV

A rua de nascente com início na Pranchinha passava pela antiga ermida de Nossa Senhora da Boa Nova mandada edificar em 1610 por Pedro Borges de Sousa ou de Gandia e sua mulher, Maria de Medeiros Araújo, junto à sua residência e demolida nos séc. XIX para se construir o Estabelecimento Prisional da Cidade.

Logo a seguir à Pranchinha, foram abertas no séc. XIX quatro ruas para o norte que ligam a Rua da Calheta à Estrada das Laranjeiras.

A primeira é um simples beco chamado actualmente Rua Medeiros Albuquerque.
Manuel de Medeiros Albuquerque, 2° Visconde das Laranjeiras, nasceu em Ponta Delgada, em 1848, e faleceu no ano de 1933.
Seguiu carreira diplomática, como adido à Legação Portuguesa em Paris, sendo então agraciado pelo governo francês com o Habito da Legião d'Honra e, por proposta do Ministro dos Negócios Estrangeiros, foi feito Comendador de Cristo. ( in José Andrade, A Face Humana da Toponímia de Ponta Delgada, Ed. da CMPD, 2001)

Outra das ruas é a Rua do Barão das Laranjeiras aforada pelo Barão.
O morgado Manuel de Medeiros da Costa Canto e Albuquerque, que foi o 1° Barão das Laranjeiras, nasceu em Ponta Delgada, a 11 de Abril de 1788, e faleceu no dia 28 de Abril de 1847, exercendo as funções de Presidente da Junta Governativa. Envergando a farda de militar, foi auxiliar o exército que acompanhou D. Pedro IV às praias do Mindelo, arriscando toda a sua fortuna pela causa liberal. Em 1838, exerceu as funções de chefe governativo da Ilha de São Miguel, como seu administrador geral, e, em 1846, assumiu o cargo de Presidente da Junta Governativa das Ilhas de São Miguel e Santa Maria, resultante da adesão à revolta da Maria da Fonte. Em 1868/69, foi Presidente da Câmara Municipal de Ponta Delgada. Agraciado pelo Duque de Bragança com a Carta de Conselho, em 1832, a Rainha D. Maria II conferiu-lhe ainda o título de Barão das Laranjeiras, em 27 de Maio de 1836. Em 1842, foi elevado a Par do Reino. ( in José Andrade, A Face Humana da Toponímia de Ponta Delgada, Ed. da CMPD, 2001)

A terceira rua e a Rua do Laureano igualmente aforada pelo Morgado Laureano.
O morgado Laureano Francisco da Câmara Falcão nasceu na Vila do Porto, e era filho do capitão-mór, Manuel José da Câmara Coutinho e de D. Bernarda Miquelina do Canto Côrte-Real.
A Ilha da Madeira deve-lhe o estabelecimento da cultura do milho, em 1847, cultura que inicialmente se fez no distrito do Funchal no prédio vincular chamado " Ilha", pertencente ao morgado Laureano. Sementes, trabalhadores e instrumentos de lavoura levou-os da Ilha de S. Miguel e tão bons resultados deu este acto de sua iniciativa que foi louvado pelo governador do distrito, pelas câmaras municipais do Funchal e Sant'Ana e em portaria do Ministério do Reino de 8 de Março de 1849.
Em diversa épocas foi conselheiro do distrito de Ponta Delgada, exercendo nessa qualidade as funções de governador civil, Como deputado conseguiu que fosse criado o curato da Almagreira, na ilha de Santa Maria que se fizessem várias dotações para obras públicas, etc., etc. Como político era cartista conservador, o partido de Fontes Pereira de Melo, a que se conservou fiel, apesar do Duque de Loulé querer atraí-lo para o seu lado, chegando a oferecer-lhe o título de Visconde de S. Jorge, nome da freguesia da ilha da Madeira onde possuía o seu prédio vincular a "Ilha" ou Visconde da Almagreira, sítio da ilha de Santa Maria, onde tinha um magnífico prédio que foi vinculado por seu 12º avô Heitor Gonçalves Minhoto casado com D. Joana Soares de Sousa, filha do segundo capitão do donatário João Soares de Albergaria e de D. Branca de Sousa Falcão. O morgado Laureano Francisco da Câmara Falcão falceu em 1868 na sua casa da Quinta do Tanque, às Laranjeiras.(In "Album Açoreano" pag.263 assinado por Luís Bettencourt)


A quarta das ruas a que nos referimos é a Rua do Moinho de Vento.

Carlos F. Afonso

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