terça-feira, agosto 31, 2004

Férias (IV) - Outras Águas

Se em São Miguel me delicio a tomar banhos de mar, o mesmo não consigo fazer noutras águas da ilha.
Nas águas férreas - amareladas e quentes - que jorram em cascatas, como se vê abaixo na Caldeira Velha, ou que se mantém na piscina do Parque Terra Nostra.
Não é pelo amarelo das águas ou pela estranheza de um banho quente, porque de facto já mergulhei nestes sítios e não foi isso que me repugnou.
O que me repugna é que estes locais são efectivamente, cada vez mais, banheiras públicas. Banheiras e outras coisas...
Enquanto tiverem gente, alguma ou muita, eu acho que não consigo meter-me nestas águas e fico-me a apreciar o ambiente que as rodeia
Sem prejuizo desta minha repugnância aplaudo os arranjos e mudanças que se registam no acesso à Caldeira Velha, de que tomei conhecimento pelo Francisco e que o Mário Roberto também já aplaudiu.
Agora, outras águas que me fazem "babar" e chorar por mais são as que se bebem. Com a mão, e sempre pela garrafa que se traz cheia das suas nascentes.
A água Azeda, das Furnas - que os continentais habitualmente estranham e não gostam -e a àgua da Senhora da Graça do Porto Formoso.


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domingo, agosto 29, 2004

Maomé...

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sábado, agosto 28, 2004

Férias (III) - Mar

No final dos nossos passeios, nos dias de pausa dos mesmos e depois de os meus visitantes partirem, em cada um desses momentos aproveitei o mar do Atlântico.
Para além do contraste das cores - do azul ou do cinza do meio aquático com o verde do meio terrestre - a temperatura, o sabor bem salgado e as ondas marcam a diferença do Altântico nas ilhas.
São sempre excelentes os banhos de mar aqui mas este ano superaram porque em regra o mar esteve revolto e com ondas. As "inchas" a que me habituei, desde miúda, na Praia dos Moinhos.
Os melhores banhos foram nos Moinhos (são sempre...), em Água d'Alto e na Ferraria.
Sem ondas mas com uma temperatura da água magnífica foram os banhos no Ilhéu de Vila Franca de Campo. Tanto o que tomei antes da soneca, como o que tomei depois...
E outro banho fresco, e num sítio onde nunca me tinha banhado: no Cerco, na Caloura.
Estes banhos já acabaram, mas para o ano haverá mais porque o mar ficará cá à minha espera...


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quinta-feira, agosto 26, 2004

Férias (II) - Sete Cidades

Depois da subida pelo Pico do Carvão, de um banho de chuva nas Lagoas Empadadas, e da paragem no miradouro para o Vale das Sete Cidades - no parque de merendas da Lagoa do Canário, onde podemos ver a Lagoa de São Tiago, e as outrora Lagoas Azul e Lagoa Verde - antes da descida ao vale ainda fomos ao miradouro da Vista do Rei.
Perante esta imagem das paisagens dos Açores, que tanto é divulgada na publicidade que se faz à Região e ao turismo nela, não posso deixar de sublinhar um aspecto que, não sendo o ideal, não me parece negativo, e dois aspectos que, estes sim, me parecem claramente negativos.
A primeira vez que fui à Lagoa Rasa e à Lagoa do Canário, deixei o carro na estrada e fui a corta mato para as Lagoas. Confesso que era mais excitante e mais bonito esse passeio pedestre, por caminhos e sitios onde não se via (ou não se percebia) a intervenção humana.
Hoje, na Lagoa do Canário existe um parque de merendas onde vemos grandes ou pequenos grupos cozinhando nos assadores os seus grelhados. Nos caminhos abertos nesse parque, vemos assinalada a direcção para o miradouro que acima falei e para umas nascentes que nunca vi. Não fez mal não ter visto porque os caminhos até lá (onde quer que fiquem as nascentes) levam-nos por entre a vegetação endémica num sossego que não tem descrição. Mas este foi um passeio das férias do ano passado...
Preferindo eu a Lagoa do Canário tal como a conheci, não condeno a construção deste parque e, pelo menos até ver, a sua utilização.
A abertura dos caminhos permitiu o acesso ao miradouro que, na minha opinião, é o que proporciona a melhor vista do vale e permite o passeio a pé até às nascentes que é verdadeiramente repousante.
Por outro lado o sítio é espaçoso de forma que quem passeia não incomoda quem está a grelhar e a almoçar e vice-versa. Para além de não termos a sensação de estarmos amontoados entre as pessoas e no meio da barulheira que estas produzem, vemos caixotes de lixo instalados junto de cada assador e mesa e nunca vi lixo espalhado pelos caminhos. Ou seja, se as pessoas forem civilizadas foram criadas condições para que que a selvajaria não se instale.
O mesmo não se pode dizer do miradouro da Vista do Rei.
Já lá vai o tempo (há 3 anos lembro-me que ainda consegui isso...) em que havia lugar para estacionar e sossego nesse local....
Hoje, para além de duas carrinhas de comércio, estão carros, carros e mais carros e turistas selvagens!
Gente que se senta sobre a placa patrocinada por uma gasolineira que tem alguma informação sobre as lagoas e que não se digna a permitir ver o que consta da placa, por má vontade e má educação...
Gente que se empurra para se fotografar com as lagoas atrás...
Gente que acabou com a paz do local!
E provavelmente essa gente que fica histérica com o que vê nem nunca conheceu as lagoas quando elas eram verdadeiramente bonitas, e naturalmente azuis e verde.
Hoje dói na alma quando se olha para estas lagoas.
Fruto do fenómeno de eutrofização - que ao que sei resulta do crescimento de algas e vegetação nas lagoas devido aos adubos que são colocados na terras que as circundam e que para lá jorram com as chuvas - as lagoas estão hoje amarelas e, não existindo solução à vista e a aplicação de quaisquer medidas que resolvam o problema. Remeto-vos para o que se noticia na região sobre o tema.
Não concordo, porém, com a partilha de responsabilidade que se defende quando se afirma "A culpa é minha. É deles, é vossa e é nossa. É dos políticos, dos jornalistas, dos agricultores, dos empresários, dos ambientalistas, dos professores, dos estudantes, dos advogados, dos médicos, dos reformados, dos funcionários públicos, dos trabalhadores por conta de outrém, dos militares, dos pescadores, dos engenheiros, das domésticas, de todos sem excepção. O estado a que chegaram as lagoas das Sete Cidades, em S. Miguel, não é da responsabilidade de um Governo isoladamente. É de todos os que, ano após ano, se limitaram a olhar para o lado, a assobiar para o ar, a suspirar de resignação.".
Eu não sou açoriana de nascença nem de residência, porque apenas não nasci nas ilhas e porque não resido nelas. Mas sou açoriana de sangue e sinto-me açoriana na alma e não me acho de maneira nenhuma responsável pelo que está a acontecer nas Sete Cidades.
Porque não tinha, nem tenho conhecimentos científicos - nem por via de bruxedo - que me permitissem antever o que ia acontecer e o que significava a "amarelização" das lagoas.
Porque nunca fui, não sou, nem serei proprietária de terras circundantes das lagoas, nem as adubo.
Porque nunca tive, nao tenho e não terei responsabilidades políticas na região, nem tão pouco sou responsável pelas escolhas que, pelo voto, os cidadãos recenseados na região têm.
Porque nunca tive vergonha de ter ideias e ideiais que levam a que me apelidem de esquerda, bloquista e coisas que mais. Ideias que passam pela consciência ambiental e ecológica que se refere no artigo para que remeto. Mas não basta a minha consciência e a de outros.
São precisas medidas e essas têm de ser tomadas por quem tem poder, ou seja, pelo poder político - autárquico ou do governo regional- ou da conjugação de esforços de todos esses poderes.
Querer assumir que a culpa é minha, é deles e é nossa é, a meu ver, desresponsabilizar os verdadeiros responsáveis: os políticos a quem provavelmente custou limitar os interesses dos agricultores - pela perda de votos que isto pode significar, digo eu - e custou gastar dinheiro na defesa do ambiente - porque, digo novamente eu, isto não traz no curto prazo votos.
Mas para que nunca mais sinta que alguém tem a veleidade de achar que eu também sou responsável fica aqui o meu apelo aos poderes responsáveis: façam alguma coisa pelas lagoas, todas as lagoas da região, que V. Exas. deixam morrer sem fazer nada.
Isto pode não vos trazer votos, mas traz certamente beleza ao Arquipélago, orgulho aos açorianos e bem estar a quem visita as ilhas.
Será que isto também não é slogan de campanha?




PS- Vou tentar remeter este apelo também por e-mail para os responsáveis.

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Férias (I)

Ainda não acabaram mas já tenho algumas, e boas, recordações destas férias e já tenho maneira de as partilhar.
Uma das coisas que me agrada é poder mostrar esta ilha e as suas belezas a quem não a conhece ou a quem conhece mas sabe apreciar o que de bom São Miguel tem para oferecer.
É sempre bom surpreender os visitantes, o que acontece essencialmente com as paisagens com que, diversificadamente, a Natureza recheia a ilha.
Os visitantes também se supreendem com alguma falta de simpatia e de eficiência de alguns que supostamente deviam estar agradados por querermos consumir nos seus estabelecimentos e que supostamente deveriam querer agradar aos turistas. Mas isto é a parte pior, e nem esta conseguiu apagar as boas impressões que os meus visitantes levam daqui.
Este ano, com os meus grandes amigos que me acompanharam, conjuguei umas férias familiares com umas férias turísticas.
Tudo começou com o tempo sombrio numa subida onde vemos a costa Norte e a costa Sul da ilha: o Pico do Carvão a caminho das Sete Cidades.






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sexta-feira, agosto 13, 2004

Mark Twain nos Açores II

O Eduardo que me perdoe por publicar novamente em inglês, mas os açorianos vão gostar de saber que Mark Twain nem sempre falou mal das nossas ilhas.
Novamente citado por Robert L. Santos:
"Mark Twain praised the Azoreans for their well-kept villages:
Every street is handsomely paved . . . and the surface is neat and true as a floor . . . Everywhere are walls, walls, walls -- and all of them are tasteful and handsome -- eternally substantial . . . the town and the island are miracles of cleanliness.
Mark Twain, The Innocents Abroad (New York: P.F. Collier & Son, 1911), 39-40."
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Mark Twain nos Açores

Robert L. Santos, Bibliotecário e Arquivista da California State University, Stanislaus recorrendo a uma bibliografia notável, escreveu um excelente artigo sobre os Açores, descrevendo, entre outras coisas, as opiniões de visitantes célebres a estas ilhas.
Um deles,Mark Twain, é citado assim:

"Mark Twain visited the Azores and wrote about the islands and its people in his work “Innocents Abroad”. It must be remembered that Twain's style is witty and satirical, and he uses forced humour at times to entertain the reader. But still his comments are worth hearing, if only because he is a giant in the observation of people. His preoccupation with the donkey in the below passage comes a day after his rigorous travel on the beast of burden:

The community is eminently Portuguese - that is to say, it is slow, poor, shiftless, sleepy, and lazy . . . The people lie, and cheat the stranger, and are desperately ignorant, and have hardly any reverence for their dead. The latter trait shows how little better they are than the donkeys they eat and sleep with . . . The donkeys and the men, women, and children of a family, all eat and sleep in the same room, and are unclean, are ravaged by vermin, and are truly happy."


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sexta-feira, agosto 06, 2004

Epílogo

Em vésperas de partida para férias, uma azáfama e contratempos mas consegui ir ao concerto.
Embora a acústica deixasse muito a desejar, ele e o seu repertório foram, como sempre, brilhantes.
E para o "encore", aqui ficam as letras que não se perceberam integralmente ...

Bairro do Amor
No bairro do amor a vida é um carrossel
Onde há sempre lugar para mais alguém
O bairro do amor foi feito a lápis de côr
Por gente que sofreu por não ter ninguém

No bairro do amor o tempo morre devagar
Num cachimbo a rodar de mão em mão
No bairro do amor há quem pergunte a sorrir:
Será que ainda cá estamos no fim do Verão?

Eh, pá, deixa-me abrir contigo
Desabafar contigo
Falar-te da minha solidão
Ah, é bom sorrir um pouco
Descontrair-me um pouco
Eu sei que tu compreendes bem

No bairro do amor a vida corre sempre igual
De café em café, de bar em bar
No bairro do amor o Sol parece maior
E há ondas de ternura em cada olhar

O bairro do amor é uma zona marginal
Onde não há hotéis nem hospitais
No bairro do amor cada um tem que tratar
Das suas nódoas negras sentimentais

Eh, pá, deixa-me abrir contigo
Desabafar contigo
Falar-te da minha solidão
Ah, é bom sorrir um pouco
Descontrair-me um pouco
Eu sei que tu compreendes bem.


Deixa-me rir
Essa história não é tua
Falas da festa, do Sol e do prazer
Mas nunca aceitaste o convite
Tens medo de te dar
E não é teu o que queres vender

Deixa-me rir
Tu nunca lambeste uma lágrima
Desconheces os cambiantes do seu sabor
Nunca seguiste a sua pista
Do regaço à nascente
Não me venhas falar de amor

Pois é , pois é
Há quem viva escondido a vida inteira
Domingo sabe de cor
O que vai dizer Segunda-Feira

Deixa-me rir
Tu nunca auscultaste esse engenho
De que que falas com tanto apreço
Esse curioso alambique
Onde são destilados
Noite e dia o choro e o riso

Deixa-me rir
Ou então deixa-me entrar em ti
Ser o teu mestre só por um instante
Iluminar o teu refúgio
Aquecer-te essas mãos
Rasgar-te a máscara sufocante

Pois é, pois é
Há quem viva escondido a vida inteira
Domingo sabe de cor
O que vai dizer Segunda-Feira.


(Jorge Palma)


Segunda-feira eu vou dizer: "sim, finalmente estou de férias", porque vou ter a sensação que fim de semana não acabou. Mas em bom rigor, é já amanhã que começam e que parto rumo à ilha.
Durante as férias poderei vir aqui, ou talvez não. Tudo depende do tempo, da disposição e da inspiração.
Na blogosfera estarei certamente.
Para todos os que ficam a trabalhar e para os que regressarem de férias, muita força, ânimo e bom trabalho.
Para os que, como eu, vão para férias ou continuam a gozá-las, Boas Férias.


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quinta-feira, agosto 05, 2004

Gaguez

Estou sem grande tempo para me dedicar ao blogue, como já perceberam.
Vou navegando pela blogosfera, espreitando aqui e ali.
Hoje, num "clique" com o rato vim a perceber que já posso eliminar os comentários repetidos que por vezes inadvertidamente deixamos, só porque clicamos mais do que uma vez (e lá entram 3 ou 4 ou mais comentários iguais de seguida).
Assim, sempre que existirem repetições, vou eliminá-las, como já o fiz nos comentários aos "posts" anteriores.
Parece-me é que a eliminação não será possível só por mim, mas para todos os que estejam registados no sistema que uso.
Como não tenho (até agora) visitas e comentários de vândalos e tenho em muito apreço todos os que comentam e os que sei que visitam sem comentar acho que isso não vai acontecer.




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quarta-feira, agosto 04, 2004

Advertência

Numa capa de revista, em qualquer banca, vocês vão ler qualquer coisa como Ana Afonso, fotografias nua. Lá dentro, provavelmente vêm essas fotografias ou algo relacionado com as mesmas.
Descansem, eu não estou nem louca nem falida para tanto.
Deve ser a Ana Afonso que o Luis Filipe Borges descreveu aqui.


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Contundente...

..hilariante mas perspicaz, este diário.
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terça-feira, agosto 03, 2004

Uma benção...

...chuva!
Ainda que me vá molhar quando sair para almoçar, é bem vinda.

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De 200 para 100

Já está em vigor, desde ontem, a redução da Zona Económica Exclusiva de 200 para as 100 milhas ao largo dos Açores, que abre este mar à pesca estrangeira.
A pesca açoriana, que segundo li ocupa 8% da população da região, vai encontrar concorrência enquanto se aguarda o desfecho da acção que o Governo Regional dos Açores intentou no Tribunal de Justiça das Comunidades.

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segunda-feira, agosto 02, 2004

Desespero

A quantidade de despedidas motivadas pelas férias a que já assisti, na blogosfera ou fora dela, e eu aqui.
A somarem-se a essas, já algumas notícias de regressados de férias, e eu ainda aqui.
Esta semana, a última, vai ser mais dura. E, consequentemente, menos inspirada e com menos tempo para aqui estar.
Se der, vou aparecendo.

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domingo, agosto 01, 2004

O ALTAR DO SENHOR CRUCIFICADO OU DO SENHOR SANTO CRISTO PEQUENINO

Ao entrar no coro alto do Convento de Nossa Senhora da Esperança uma suave emoção nos toma os sentidos perante o ambiente monástico daquele imenso espaço, criando-nos a ilusão de se voltar a um passado longínquo onde só a imaginação nos pode levar. Um místico silêncio, próprio de lugar sagrado, parece embalsamar o tempo. Era ali que as religiosas iam, tal como hoje, fazer as suas preces e cumprir seu dever nas horas canónicas. A vastidão da quadra parece pequena para conter tão rico património. Em redor telas emolduradas, retábulos de tábuas pintadas com figuras de santos a quem outrora tributavam fervorosa devoção, oratórios com seus baldaquinos sobre singelas cartelas de artística imaginação, altares para celebração dos Mistérios Divinos e uma capela com altar, profusamente decorada com ricas talhas de madeiras exóticas e com as paredes revestidas de decorações setecentistas a que o tempo esmaeceu a vivacidade das cores, valorizando a autenticidade do trabalho artesanal.
Este coro é um precioso conjunto, tão heterogéneo nos estilos como genuinamente nosso na criatividade da beleza. Pensamos ser único nos Açores e talvez em Portugal, pois ainda mantém a traça primitiva, tendo escapado ao camartelo destruidor das paixões humanas e à acção demolidora do tempo.
Neste ambiente enternecedor ressalta-nos um altar e retábulo conhecido por Senhor Crucificado, que posteriormente passou a ter a ingénua invocação de Senhor Santo Cristo Pequenino. É o único altar com retábulo na face norte deste Coro. A mesa é estreita e pequena e as ornamentações do frontal parecem imitar sebastos e rendas feitos em madeira entalhada com um medalhão oval ao centro, ladeado por duas pombas, onde se lê: MEU AMOR É JESUS CRUCIFICADO. Por detrás da mesa do altar eleva-se o retábulo com características barrocas, enriquecido com profusão de volutas, concheados e outros adornos curvilíneos, cujo sentido de beleza está expresso em cada forma. É delimitado por duas pilastras arrematadas por capitéis em que assenta uni arco de volta inteira, tendo no fecho um medalhão sustido por anjos, sobrepujado por uma coroa com a sigla de Jesus em grego. No centro deste retábulo sobressai um oratório, com três faces de vidros muito imperfeitos, apoiado numa mísula de ricos motivos vegetalistas. Lateralmente, este oratório tem duas colunas de baixo relevo e com as bases decoradas com pombas, símbolo eucarístico de pureza. O retábulo é coroado por um baldaquino de madeira ricamente entalhada, tendo ao centro um artístico lampadário de prata. O fundo deste oratório simula um pavilhão real povoado por anjos alados entremeados de conchas. Tudo neste altar gravita à volta de um riquíssimo crucifixo onde o Cristo de primorosa escultura de madeira, tendo a cabeça descaída sobre a direita. A coroa de espinhos tem uma pérola em cada extremidade. No peito um relicário contém três minúsculas partículas cuja proveniência se desconhece. As mãos e os pés sobrepostos estão presos por pregos encabeçados por ametistas. O corpo do Senhor é destacado por um resplendor de prata dourada de formato ovóide, em que as pontas dos raios se entrecruzam formando uma grinalda cravejada de pedras preciosas, tais como topázios, esmeraldas, ametistas, diamantes, crisólitas e outras. No resplendor da cabeça o desconhecido artista evidenciou todo o primor da sua arte de joalharia, valorizando-o com um grande rubi ao centro e com outros mais pequenos ao longo dos raios, interpolados com diamantes. A cruz, bem como a peanha são de pau santo. O topo da cruz é encimado por uma delicada peça de filigrana dourada, cravejada de rubis, obedecendo ao mesmo formulário decorativo. Um pendão enfunado, gravado com as iniciais J N R J, está fixado na haste da qual pendem, nas extremidades, dois pingentes formados por um conjunto de pérolas empilhadas. Os braços da cruz estão muito enriquecidos, pois tem nas extremidades rosáceas de filigrana com três ordens de pétalas e um grande rubi ao centro tendo perto umas pirâmides formadas por sete linhas de pérolas sobrepostas. A extremidade inferior da cruz é decorada com um laço de filigrana de ouro, com um rubi seguido de outro laço, também de filigrana, cravejado de pérolas. O rubi central está envolvido por uma cercadura de rubis quadrangulares; um anel com três diamantes; uma pirâmide de pérolas igual à anteriores; um pingente de ouro com um topázio central e sete rubis em forma geométrica, terminando numa jóia redonda centrada por uni rubi quadrangular envolto em pérolas gradas. Pensa-se que os anéis e a jóia foram ofertas votivas.
A peanha é facetada em cinco planos, revestidos de chapas de prata recortada e vazada coro bonitos desenhos, sendo o da face principal decorado com sete diamantes em simetria. Sobre a peanha está uma peça de prata sugerindo o Monte Calvário, muito trabalhada e com motivos vegetais
Este altar foi instituído pela Madre Antónia da Madre de Deus, segundo se depreende de unia passagem do seu termo de óbito.
Na devota missão de cuidar deste altar seguiram-se outras religiosas de quem hoje se desconhecem os nomes todavia a última freira professa que o teve à sua conta foi a Madre Margarida Laura do Patrocínio. Esta Madre entrou para este Convento, na companhia de sua irmã Isabel Ludovina da Côrte Celeste, em 9 de Novembro de 1829. Fizeram escritura de dote de património de 848$000 reis em 13 de Novembro e professaram em 19 desse mesmo mês do ano de 1830. Tiveram mais duas irmãs neste Convento, que foram as Madres Ana Isabel Teodora e Teresa Emília do Carmo ou da Anunciada. Eram filhas do morgado Manuel José da Câmara Coutinho e de D. Bernarda Miquelina do Canto Corte Real, da ilha de Santa Maria. Este casal teve mais filhos, entre os quais o morgado Laureano Francisco da Câmara Falcão, que veio para S. Miguel onde casou duas vezes, deixando descendência de ambos os matrimónios.
A vida conventual da Madre Margarida Laura do Patrocínio foi cheia de ocupações, pois desempenhou quase todos os cargos que se exerciam neste Convento. Assim, foi Vigária do Coro nos anos de (1833, 1851. 1862 a 1865 e 1882), Enfermeira (1834 e 1844), Porteira da Porta Regral (1838,1 840, 1 845, 1 853, 1 868 a 1 873, 1876 e 1879), Porteira do Portão do Carro (1841, 1843, 1845, 1847 a 1850, 1852, 1853, 1867, 1868, 1870 a 1872, 1873 e 1876), Escuta dos Mirantes (1852), Discreta (1867 a 1873, 1876 e 1880), Abadessa de 12 de Maio de 1865 até ao dia 6 de Maio de 1867, dia em que foi nomeada a sua sucessora no cargo; Escuta dos Médicos e Sacristã nas eleições do ano de 1880. Os achaques do fim da vida obrigaram-na a sair da clausura no outono do ano de 1882 e logo que se achou melhor regressou a este Convento, onde veio a falecer pelo meio dia de 9 de Junho de 1887.
O jornal "Gazeta da Relação” na sua edição n.0 186, referente ao dia l.º de Maio de 1869, insere uma notícia de que se destacam dois parágrafos:
“N’este anno são tres os dias consecutivos de festa nas religiosas da Esperança. Hoje a sahida do Senhor, amanhã, domingo, a solemníssima procissão e festa, e na segunda-feira a festa também solemne e magestosa da Santa Cruz com a invocação do Sancto Christo pequenino, que se celebra a expensas e por devoção da ex.ma sr. D. Margarida Laura da Câmara Falcão.
A imagem do Senhor Santo Christo pequenino é um precioso crucifixo, que todo o anno recebe o devido culto em capella particular do convento, e que todos os annos no dia 3 de maio se expõe à veneração dos fieis.”
A feliz circunstância de este altar ter sempre zeladoras muito devotas originou um culto muito fervoroso e como provinham de famílias abastadas, enriqueceram-no com custosas jóias.
Um pormenor curioso é o facto de ter estado quase sempre entregue ao cuidado de religiosas naturais da ilha de Santa Maria, ou a esta ligadas por laços de parentesco.
(Hugo Moreira, Artigo publicado no jornal “Correio dos Açores”. n.º 21.420. de l6 de Maio de 1993)

São textos como estes que deviam ser fazer parte de um Guia sobre as ilhas.


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