segunda-feira, outubro 11, 2004

Ponta Delgada – Vandalismo Cultural ou Desenvolvimento? - XI



Fotografia do séc. XIX da Rua dos Clérigos, tirada da torre da Igreja de S.Pedro. Vendo-se o Solar dos Cantos com uma curiosa torre de observação em madeira. Por detrás o Convento da Graça e a cerca ainda intactos Ao fundo à distancia as torres abobadadas do Colégio de Todos-os-Santos

Voltando à bifurcação da Rua João Melo Abreu, no antigo local da Fontinha de S. Pedro, pelo norte a hoje chamada Rua Dr. Ernesto do Canto antiga “Rua do Amparo” e depois “Rua de N.S. da Graça”) que nos conduz ao Largo da Graça.

Ernesto do Canto nasceu em Ponta Delgada, na zona dos Prestes, a 12 de Dezembro de 1831, e faleceu no dia 21 de Agosto de 1900.
Formou-se na Universidade de Coimbra e, com apenas 26 anos de idade, começou a ocupar cargos na administração regional, como vereador e vice-presidente da Câmara Municipal de Ponta Delgada, sendo eleito para a Junta Geral em 1860 e 1866.
Em 1862, foi eleito vice-presidente da Sociedade dos Amigos das Letras e das Artes. Foi membro fundador do Clube Micaelense, a que presidiu em 1867. Em 1969, foi Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Ponta Delgada e, em Dezembro de 1895, foi presidente da primeira Junta Geral Autónoma, criada pelo Decreto de 2 de Março. Dedicou-se à investigação histórica e publicou vários trabalhos, como "Ensaio Bibliográfico", "Biblioteca Açoriana", "Os Côrte-Reais" e "Quem Deu o Nome ao Lavrador?".
A sua maior obra é, porém, o "Arquivo dos Açores", de que publicou o primeiro volume em 1878 e o 12° catorze anos depois, em 1892. Os 13° e 14° volumes foram editados sob a direcção do Coronel Francisco Afonso de Chaves e o 15° volume é uma colectânea de documentos sobre a Ilha de Santa Maria, organizada pelo Dr. Manuel Monteiro Velho Arruda.
A Câmara Municipal de Ponta Delgada deu o seu nome à rua da freguesia citadina de São Pedro onde se encontra o palacete que foi pertença de seu pai, o Morgado José Caetano do Canto Medeiros. (in José Andrade, A Face Humana da Toponímia de Ponta Delgada, Ed. da CMPD, 2001)

Ainda hoje existem várias casas do séc. XVIII e uma num pequeno largo à direita, a antiga Pracinha de S. Pedro, ainda do séc. XVII.

A casa principal e a maior da rua, o Solar dos Cantos, restaurada, é onde hoje funciona o Tribunal de Contas.
A casa pertenceu no séc. XIX ao morgado José Caetano Dias do Canto e Medeiros, onde residiu D. Pedro IV durante a sua estadia em Ponta Delgada. Nela também funcionou provisoriamente durante alguns anos deste século a Câmara Municipal. quando das obras de restauro do actual edifício e já depois de ter estado instalada no solar de Nossa Senhora de Guadalupe.

Anexa a esta existiu a Ermida de Nossa Senhora do Amparo (séc. XVI) que, inicialmente, deu o nome à rua, hoje já desaparecida.

Carlos F. Afonso
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