domingo, julho 31, 2005

Ponta Delgada - Vandalismo Cultural ou Desenvolvimento XLVIII


No Jardim Sena Freitas existiu a primitiva Ermida de Santa Clara, do séc. XV, que por estar aqui localizada deu o nome de Ponta de Santa Clara que lhe ficava próxima :“…ponta de pedra de biscouto, delgada e não grossa …” que deu o nome à cidade.

O Dr. Ernesto do Canto considera que a ermida foi a que existiu no extremo oeste da cidade, escrevendo que ela já existia em 1522, data de subversão de Vila Franca, por dizer o Dr. Gaspar Frutuoso que umas filhas de Jorge da Mota, daquela Vila, atemorizadas com a catástrofe, vinham em caminho de Ponta Delgada para fazer penitência em Santa Clara, quando se resolveram a ficar na ermida da Conceição, do Vale da Caloura.
Em finais do séc. XVI, por ser a ermida pequena e pouco própria para ser Igreja Paroquial foi mandada construir, neste mesmo local, a Igreja Paroquial de Santa Clara. Por alvará de 18 de Setembro de 1554 (data muito próxima da criação da paróquia) foi ordenada a construção da capela-mór; e por outro alvará de 26 de Maio de 1596 mandou-se lançar finta de cinco mil cruzados pelos paroquianos com a aplicação para as obras da igreja. Era tradição que a capela-mór fosse de incumbência real e o corpo das Igrejas dos paroquianos.
Por acordo feito em 1581, entre o bispo, D. Pedro de Castilho, o guardião do convento de S. Francisco e o vigário, passou a sede da nova paróquia para a igreja do Convento dos Franciscanos da invocação de Nossa Senhora da Conceição, por um período de quatro anos.
Tal como agora houve atrasos que levaram a que a pia baptismal fosse transferida para a Ermida do Corpo Santo, foi demolida no séc. XIX para construir o Mercado do Peixe (Cais da Sardinha), e de novo foi transferida a paroquial para a Ermida das Chagas, existente desde 1523 no local fronteiro à actual porta do Palácio da Conceição, virada para o Largo dos Mártires da Pátria, antiga portaria do convento da Conceição, assim chamada porque na escritura da doação de bens para este convento, de 8 de Outubro de 1662, se diz que eles eram sitos às Chagas.
A Ermida das Chagas, que já hoje não existe e iremos visitar em futuro post, foi mandada construir em 25 de Abril de 1553 pelo Padre Diogo de Paiva.


Local onde existia a Ermida das Chagas e que está ainda hoje assinalado por uma cruz de pedra

Frei Agostinho de Mont’Alverne diz que a ermida das Chagas serviu de paróquia enquanto se fizeram as obras de Santa Clara. A igreja de Santa Clara situava-se no local onde depois foi a igreja de S. José, referindo-se na citada escritura a 8 de Outubro de 1662 que os terrenos confrontavam pelo lado do sul com a igreja nova de S. Clara, depois chamada de S. José.

Posteriormente foi de novo a paroquial transferida para a vizinha igreja de S. Mateus. A igreja de S. Mateus que também por duas vezes serviu de sede de paróquia, ficava contígua pelo nascente com o antigo paço dos Condes da Ribeira Grande, no lado nascente do Campo dos Mártires da Pátria, paço adquirido pelo 1º Barão da Fonte Bela, Jacinto Inácio Rodrigues Silveira, que a fez demolir para no local se edificar o palácio que lá existe, nos princípios do século XIX.
A última vez que S. Mateus serviu da sede paroquial foi de 1705 a 1712, época em que se demoliu a igreja de Santa Clara e construiu a de S. José.
A igreja de S. José foi a menos duradoura das da ilha. Concluída em 1730, estava tão arruinada em 1834 que com autorização do Prefeito João Ferreira de Moura, de 14 de Setembro, foi mudada a sede de paróquia para a igreja do extinto convento de S. Francisco, sendo esta igreja, por carta régia de 30 de Julho de 1839, doada à freguesia.
Em 12 de Outubro de 1840 o padre Manuel Joaquim da Silveira Machado foi encarregue pela autoridade superior do distrito de acordo com o governador do Bispado, da exumação dos ossos que existiam nas sepulturas da dita igreja e cerca para serem levados para o cemitério geral, que então era sito à Mãe de Deus, quase defronte do actual cemitério dos ingleses que já então existia desde alguns anos.
Em 25 de Novembro fez-se a transladação das ossadas com solenidade.


Aspecto da Igreja Paroquial de S. José, tendo à direita a antiga Rua das Chagas, hoje Rua 6 de Junho e que resultou da demolição da Ermida de Santa Clara e depois da Igreja de Santa Clara.

Ficando em abandono e em ruínas a igreja de S. José, foi profanada e alugada a um fabricante de caixas de laranjas que aí fez a sua oficina. Começaram a demoli-la em 1848, como consta no "Açoreano Oriental", de 20 de Maio daquele ano.
Por interferência de António Feliciano de Castilho, já então regressado a Lisboa, foi publicado um decreto a 23 de Outubro de 1851, em que as ruínas eram cedidas à Sociedade dos Amigos das Letras e Artes desta cidade, fundada pelo próprio Castilho em 1848, para ali edificar a sua sede. Não se realizou este plano, por ter o terramoto de 16 de Abril de 1852 feito arrefecer o entusiasmo com que por aqueles dias se devia começar o geral e aparatoso peditório, para se colherem meios para a obra que era de largas dimensões. O programa de tal peditório foi publicado no "Correio Micaelense" n.º 285, de 13 de Março de 1852 e em folhetos avulsos.
Posteriormente a Sociedade das Letras e Artes, cedeu as ruínas à Sociedade Teatral Micaelense, para nelas edificar o antigo Teatro, cujas obras principiaram a 15 de Junho de 1861, dando-se já um concerto na parte construída dele em 5 de Novembro de 1864, e sendo a inauguração oficial e definitiva em 25 de Março de 1865.
Era um bonito edifício, de cariz neoclássico, de proporções modestas, mas de requintado bom gosto e conforto, com salões, café, etc. Ardeu em 9 de Fevereiro de 1930, quando de uma exibição cinematográficas.
O “Álbum Michaelense” a ele se refere assim:

“ Este é espaçoso bastante, apresentando todas as comodidades precisas. Tem logares para mais de trezentas pessoas nas plateas , deseseis frisas, desesete camarotes de primeira ordem, desenove de segunda uma boa galeria. Os camarotes são espaçosos ,podendo acomodar à vontade seis a oito pessoas cada um. É iluminado por petróleo com um bonito lustre. Contém bons salões, espaçosos corredores, quarto de toilette, sala de pintura e um bom café. O panno de boca e o de salão são de primorosa execução bem como outras muitas vistas, todas efectuadas por dois hábeis pintores vindos de Lisboa, sendo um portuguez e outro italiano”.



Teatro Micaelense antigo, situado no local da antiga Ermida de Santa Clara, ampliada depois para Igreja de Santa Clara e depois de S. José


Vista da sala do Teatro Micaelense. Notar a belíssima cúpula em vitral, lembrando a actual das Galeries Lafayette em Paris ou a do muito mais tardio Palau de la Musica de Barcelona



Tudo o que resta da antiga Ermida de Santa Clara do séc. XV, das Igrejas de Santa Clara e S. José do séc. XVI e XVIII e do que foi o lindíssimo Teatro. Um simples jardim. Ao fundo subsiste a casa setecentista dos Sousa Medeiros e Canto (Laranjeiras)


Carlos F. Afonso
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quinta-feira, julho 28, 2005

Longe da vista, longe do coração

"O Advertising Standards Authority (organismo regulador da publicidade no Reino Unido) acredita que homens carecas e barrigudos são mais dissuasores do consumo de bebidas alcoólicas por parte das mulheres, com o novo código de publicidade a estabelecer que não devem ser feitas ligações entre álcool e sedução. Uma campanha publicitária sobre um espumante no país, o Lambrini, foi a primeira a infringir as novas regras, segundo a Sky News. As autoridades objectaram contra um cartaz mostrando três raparigas a seduzir um homem atraente e magro. «Consideramos que o anúncio corre o risco de implicar que a bebida pode trazer sucesso sexual/social.» "(in A Capital).

Devem pensar que as mulheres são parvas.
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Delírios

Se, daqui a um ano, ou nos anos vindouros, eu vier a substituir um juiz numa vara ou juízo onde estejam a correr processos que acompanho.
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segunda-feira, julho 25, 2005

O nosso eterno amigo

Deixando para outro momento a crítica ao eterno candidato que não quer ser candidato mas que sofre muito por todos quererem que ele seja candidato, tenho hoje que falar do outro, o candidato que é sempre candidato salvo quando a constituição o impede de ser.

Foi exactamente isto que pensei quando esta candidatura começou a desenhar-se, sendo agora conhecida oficialmente.
Se não houvesse a limitação de mandatos, também nós tinhamos um mon ami Mitterrand.
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domingo, julho 24, 2005

Ponta Delgada - Vandalismo Cultural ou Desenvolvimento XLVII

Voltamos hoje ao chamado Canto da Cruz, retomando o eixo da cidade que nos propúnhamos visitar.


Cruzamento da Rua da Esperança com a Rua da Cruz (à direita) e Rua da Canada, hoje Diário dos Açores (à esquerda). Em frente a Rua Marquês da Praia.


A partir do Canto da Cruz o eixo mediano passa a chamar-se Rua Marquês da Praia e Monforte, pela existência logo à direita do Palacete do Marquês que ocupava com o seu vasto jardim, todo um quarteirão, limitado pela Rua Marquês da Praia, a norte, a Rua Dr. Luís Bettencourt, a nascente, a Rua do Provedor, a sul e a Rua da Cruz, a poente.
É a rua conhecida em vários documentos como «Rua Direita», «Rua que vem da ermida de S. Braz para o convento de Na Sen. a da Esperança », « rua da Fonte grande que vai para a Esperança » e, no séc. XIX, como «Rua do Teatro» por nela se situar o antigo Teatro Micaelense, fronteiro ao palacete do Marquês, no espaço hoje ocupado pelo Jardim Sena Freitas.

José Joaquim de Sena Freitas nasceu em Ponta Delgada, a 21 de Junho de 1840, e faleceu no Brasil, em Dezembro de 1913. As suas cinzas chegaram a Ponta Delgada a 4 de Março de 1925. Fez estudos primários em Vila Franca do Campo e secundários no Seminário de Santarém, concluindo o curso teológico no Seminário de Saint Lazare, em Paris. Integrado na Congregação dos Padres de S. Vicente de Paulo, missionou no Brasil até à morte, com excepção de alguns anos de vivência em Portugal, em que foi nomeado Cónego da Patriarcal de Lisboa. Autor de vasta produção literária, publicou obras de Apologética (como “Os Milagres e a Crítica Moderna” ou “Escritos de Hontem”), Oratória, Jornalismo e Crítica (“No Presbitério e no Tempo” ou “Os Nossos Bispos do Continente”), Descrições e Perfis (“Perfil de Camilo Castelo Branco” ou “Por Terra e Mar”) e Assuntos Religiosos (“Dia a Dia dum Espírito Christão” ou “A Alta Educação do Clero”) (in José Andrade).


Carlos F. Afonso
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sábado, julho 23, 2005

Insularidade

Há quem diga que ela não existe, mas a verdade é que há coisas que só se sentem numa ilha, nestas ilhas.
Um dia de capacete que apenas dá vontade para um mergulho em jornais, mas eles, perderam-se no mar.
Como eu percebo o que recorrentemente escreves Alexandre, mas há tanto não o sentia.
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Intervalo

Hoje, excepcionalmente face aos últimos tempos, talvez não face aos que se seguem, apeteceu-me blogar e postar.
Já andei, timidamente, em alguns blogues e já me atrevi a deixar comentários nos que habitualmente comentava.
Não sei se é regresso, mas apeteceu-me!
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