Ponta Delgada – Vandalismo Cultural ou Desenvolvimento? - XV
A Rua da Misericórdia conduz-nos do Largo de Camões ao Largo Vasco Bensaúde (antigo Largo da Misericórdia) por nele se situar a antiga Misericórdia de Ponta Delgada e a sua Igreja (séc. XVI).
Vasco Elias Bensaúde nasceu em Lisboa, em 1896, de ascendência micaelense, e faleceu na sua vivenda do Pico Salomão, em Ponta Delgada, no dia 5 de Agosto de 1967. A sua educação foi feita em Inglaterra, seguindo uma tradição criada na família por seu avô, o industrial José Bensaúde, mas deixaria o seu nome ligado a iniciativas pioneiras nos Açores, como o “Terra Nostra”, o “Hotel S. Pedro” e a “SATA”.
Possuidor de avultada fortuna, espírito muito culto, nem por isso ignorou a sua vocação filantrópica, pelo que muitas instituições de caridade locais, que apoiara em rigoroso anonimato, se associaram ao seu grandioso funeral, a par das mais altas autoridades de Ponta Delgada, deixando ainda enlutadas a Empresa Insulana de Navegação, a Mutualista Açoriana, a Companhia de Navegação Carregadores Açorianos, o Grémio do Comércio, o Ateneu Comercial. A designação toponímica “Largo de Vasco Bensaúde” foi atribuída por deliberação camarária de 4 de Março de 1971. ( in José Andrade, A Face Humana da Toponímia de Ponta Delgada, Ed. da CMPD, 2001)
Na Rua da Misericórdia existe, em ruínas, uma bonita casa do séc. XVII, com os típicos lintéis em ponta de diamante, vandalizada pela construção de inestéticos estabelecimentos comercias no rés-do-chão e cuja capela anexa, da invocação de S. Bento, que existia ainda na minha adolescência, mas já profanada entre 1830-1875, foi demolida nos nossos dias para fazer uma garagem de uma importante firma comercial!
Na fachada da ermida existia por cima do vão da entrada, sob varanda de sacada, entre duas pilastras de pedra pintada, a data de 1671.
Rua da Misericórdia. Casa do séc. XVII , vendo-se as vitrinas dos estabelecimento comerciais no r/c ,completamente despropositadas e abaixo da casa (mais à esquerda na foto) a inacreditável garagem resultante da demolição da Ermida de S. Bento que lhe estava anexa
Pormenor da inconcebível garagem resultante da demolição da Ermida de S. Bento do séc. XVII
Desenho do Dr. Luís Bernardo Ataíde
A Misericórdia de PD, porventura a mais rica Instituição dos Açores, possuía naquele local uma ermida de S. João Baptista que Gaspar Frutuoso classifica de pequena. Mantiveram-na junto ao Consistório e ainda em vida do ilustre cronista se começou a construir a grandiosa Igreja do Espírito Santo: “e para ser mais nobre, agora se vai edificando uma sumptuosa e custosa igreja da advocação do Spirito Santo, por outra que tem, com uma capela de S. João Batista, ser muito pequena.(“Saudades da Terra”, Vol. 4º , Cap.XLIII, pág. 78).
No séc. XVIII Francisco Afonso de Chaves e Melo diz-nos:” É um majestoso templo, todo de abobada e de tão singular planta, que é o mais vistoso de todos os das Ilhas, especialmente em Quinta-feira Maior e só nele parece estar Deus sacramentado com o maior respeito e veneração, que se lhe pode dar na terra.”(Margarita Animada, 2.ª Edição 1994 ICPD pág. 56).
Tudo demolido no séc. XIX, após a transferência da Misericórdia para o Convento dos Franciscanos no Campo de S. Francisco (1837), para ser construída a residência de Salomão Bensaúde e hoje a sede da firma Bensaúde & C.ª!!!
Largo da Misericórdia nos anos 40. À esquerda, junto da Travessa de Santa Margarida de Chaves,existiu uma Ermida de Santa Margarida.
A seguir à esquina da Rua António Joaquim Nunes da Silva, vemos a Rua do Aljube e a seguir a Casa Bensaúde, resultante de demolição do Hospital e Igreja da Misericórdia do séc. XVI.
Ao fundo a antiga casa dos Faria e Maia, hoje Clube Micaelense
Nos próximos dias iremos visitar os vários pontos do Largo da Misericórdia (hoje Largo Vasco Bensaúde) referidos nesta legenda.
Carlos F. Afonso
Vasco Elias Bensaúde nasceu em Lisboa, em 1896, de ascendência micaelense, e faleceu na sua vivenda do Pico Salomão, em Ponta Delgada, no dia 5 de Agosto de 1967. A sua educação foi feita em Inglaterra, seguindo uma tradição criada na família por seu avô, o industrial José Bensaúde, mas deixaria o seu nome ligado a iniciativas pioneiras nos Açores, como o “Terra Nostra”, o “Hotel S. Pedro” e a “SATA”.
Possuidor de avultada fortuna, espírito muito culto, nem por isso ignorou a sua vocação filantrópica, pelo que muitas instituições de caridade locais, que apoiara em rigoroso anonimato, se associaram ao seu grandioso funeral, a par das mais altas autoridades de Ponta Delgada, deixando ainda enlutadas a Empresa Insulana de Navegação, a Mutualista Açoriana, a Companhia de Navegação Carregadores Açorianos, o Grémio do Comércio, o Ateneu Comercial. A designação toponímica “Largo de Vasco Bensaúde” foi atribuída por deliberação camarária de 4 de Março de 1971. ( in José Andrade, A Face Humana da Toponímia de Ponta Delgada, Ed. da CMPD, 2001)
Na Rua da Misericórdia existe, em ruínas, uma bonita casa do séc. XVII, com os típicos lintéis em ponta de diamante, vandalizada pela construção de inestéticos estabelecimentos comercias no rés-do-chão e cuja capela anexa, da invocação de S. Bento, que existia ainda na minha adolescência, mas já profanada entre 1830-1875, foi demolida nos nossos dias para fazer uma garagem de uma importante firma comercial!
Na fachada da ermida existia por cima do vão da entrada, sob varanda de sacada, entre duas pilastras de pedra pintada, a data de 1671.
Rua da Misericórdia. Casa do séc. XVII , vendo-se as vitrinas dos estabelecimento comerciais no r/c ,completamente despropositadas e abaixo da casa (mais à esquerda na foto) a inacreditável garagem resultante da demolição da Ermida de S. Bento que lhe estava anexa
Pormenor da inconcebível garagem resultante da demolição da Ermida de S. Bento do séc. XVII
Desenho do Dr. Luís Bernardo Ataíde
A Misericórdia de PD, porventura a mais rica Instituição dos Açores, possuía naquele local uma ermida de S. João Baptista que Gaspar Frutuoso classifica de pequena. Mantiveram-na junto ao Consistório e ainda em vida do ilustre cronista se começou a construir a grandiosa Igreja do Espírito Santo: “e para ser mais nobre, agora se vai edificando uma sumptuosa e custosa igreja da advocação do Spirito Santo, por outra que tem, com uma capela de S. João Batista, ser muito pequena.(“Saudades da Terra”, Vol. 4º , Cap.XLIII, pág. 78).
No séc. XVIII Francisco Afonso de Chaves e Melo diz-nos:” É um majestoso templo, todo de abobada e de tão singular planta, que é o mais vistoso de todos os das Ilhas, especialmente em Quinta-feira Maior e só nele parece estar Deus sacramentado com o maior respeito e veneração, que se lhe pode dar na terra.”(Margarita Animada, 2.ª Edição 1994 ICPD pág. 56).
Tudo demolido no séc. XIX, após a transferência da Misericórdia para o Convento dos Franciscanos no Campo de S. Francisco (1837), para ser construída a residência de Salomão Bensaúde e hoje a sede da firma Bensaúde & C.ª!!!
Largo da Misericórdia nos anos 40. À esquerda, junto da Travessa de Santa Margarida de Chaves,existiu uma Ermida de Santa Margarida.
A seguir à esquina da Rua António Joaquim Nunes da Silva, vemos a Rua do Aljube e a seguir a Casa Bensaúde, resultante de demolição do Hospital e Igreja da Misericórdia do séc. XVI.
Ao fundo a antiga casa dos Faria e Maia, hoje Clube Micaelense
Nos próximos dias iremos visitar os vários pontos do Largo da Misericórdia (hoje Largo Vasco Bensaúde) referidos nesta legenda.
Carlos F. Afonso
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