quinta-feira, setembro 30, 2004

Vou ouvir isto...



...e já volto.

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Ponta Delgada – Vandalismo Cultural ou Desenvolvimento? - III

Mas voltemos a Ponta Delgada. Vila em 2 de Maio de 1499, por alvará de D. Manuel, foi elevada a cidade em 2 de Abril de 1546, por alvará de D. João III.
A sua estrutura urbana manteve-se sem grandes alterações até ao séc. XIX. A toponímia da malha urbana submete-se a referências arquitectónicas (conventos, ermidas, fontanários) ou a famílias e personalidades de destaque. Só a partir de 1785 é que as ruas começaram a ter nomes identificativos e só em 1808 se iniciou a numeração das casas. Já referi a sua estrutura fusiforme desenvolvendo-se a partir das 2 ruas terminais, em três eixos principais que atravessam paralelamente à linha da costa toda a cidade.
A rua de nascente, iniciava-se na Pranchinha que Frutuoso já chama Rua da Calheta ou da Calheta de Pero de Teive e corresponde hoje às Rua da Boa Nova, Rua Eng.º José Cordeiro e Rua João de Melo Abreu.
A secular toponímia de "Pranchinha" deriva do seu antigo e verdadeiro nome de "Rua do Panchina" ou "Rua dos Panchinas", apelido de uma família que morava "a seguir ao ilhéu de Rosto de Cão, perto de uma ponta de biscoito", como escreveu Frutuoso, que menciona os cinco irmãos Sebastião Roiz Panchina, Pedro Anes Panchina, Bernardo Anes Panchina, Jorge Vaz Panchina e João Anes Panchina, filhos de outro João Anes Panchina. Tiveram estes Panchinas numerosa geração e já em finais do século XVI haviam abandonado o apelido, que ficaria sempre na nomenclatura da rua onde primitivamente residiram. Os documentos mais antigos em que se menciona a "Rua da Panchina" remontam a 1570, mas já em princípios do século XIX começa a verificar-se a corrupção de "Panchina" em "Pranchinha". ( in José Andrade, A Face Humana da Toponímia de Ponta Delgada, Ed. Da CMPD, 2001)

Carlos F. Afonso



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quarta-feira, setembro 29, 2004

Hoje...

Portaria n.º 1264-CL/2004. DR 230 SÉRIE I-B 1º SUPLEMENTO de 2004-09-29 Ministérios da Agricultura, Pescas e Florestas e do Ambiente e do Ordenamento do Território
Cria a zona de caça municipal de Aranhas (processo n.º 3809-DGRF), pelo período de seis anos, e transfere a sua gestão para o Clube de Caça e Pesca das Aranhas

Hoje foram publicados na I Série do Diário da Répública mais 99 actos legislativos como este, isto é, sobre caça. Sim porque sobre caça é que há muito a dizer, e muito a para fazer, não se passando o mesmo com as Aranhas obviamente.
Ao todo, portanto, 100, passando inclusivamente pela "Herdade da Coitadinha"!
Assim se legisla no nosso país...


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Ponta Delgada – Vandalismo Cultural ou Desenvolvimento? -II

Ponta Delgada sendo uma cidade, sob o ponto de vista urbanístico e pelos padrões estéticos actuais, não tão bonita como outras suas congéneres, tinha uma “personalidade”, a meu ver curiosíssima para uma cidade situada à beira mar, que foi o ter-se desenvolvido, durante 400 anos, de costas voltadas para o mar, pelos condicionalismos geográficos e climáticos da zona onde se situa.
Já Gaspar Frutuoso a descreveu assim no séc. XVI: “Esta cidade da Ponta Delgada é assim chamada por estar situada junto de uma ponta de pedra de biscouto, delgada e não grossa como outras da ilha, quase rasa com o mar, que depois, por se edificar mais perto dela uma ermida de Santa Clara, se chamou ponta de Santa Clara; antre a qual ponta e a da Galé se faz uma grande enseada, já dita, de compridão de três léguas”. (1)
Esta grande enseada, aberta face ao imprevisível mar açoriano, sem um porto natural que a protegesse, levou a que a cidade lhe voltasse as costas para se proteger de ventos e marés, o que afinal traduz também o caráter introvertido do micaelense já apontado por Nemésio.
A colonização de S.Miguel começou pela zona fronteira à ilha de Santa Maria, a Povoação Velha, hoje só conhecida por Vila da Povoação situada na zona nascente da ilha. Conta-nos o padre António Cordeiro uma curiosa lenda (2). Chegados os primeiros colonos ao lugar, pressentiram que não estavam sós. Alguém os observava. Procuraram e encontraram uma jovem que lhes contou que por amores contrariados na vizinha ilha de Santa Maria, decidira fugir para S.Miguel com o namorado. Combinaram com um barqueiro o transporte e cá chegados, o barqueiro matou o noivo para ficar com infeliz rapariga que desde então vivia fugindo ao seu perseguidor. Após aturadas buscas conseguiram capturar o fugitivo e, logo ali entre as improvisadas barracas de madeira e colmo, fizeram justiça, matando-o. Ainda hoje em S.Miguel se usa o termo ”justiça da Povoação”, para se referir a justiça popular.
A capital de S.Miguel estabeleceu-se mais a poente, em Vila Franca do Campo – “franca” por ser isenta de tributos, excepto os dízimos ao Rei, e “do Campo” por se situar num campo raso (3) – pela riqueza da sua agricultura e pela protecção que lhe oferecia o pequeno Ilhéu fronteiro e cuja pequena baía funcionava como apertado porto natural. Tendo sido a capital durante escassos 50 anos, os vilafranquenses ainda hoje a ela se referem como a “Vila”, sem lhe acrescentar o nome, com o orgulho que ainda mantêm, desde há 550 anos, de quando era ela a única vila da ilha.
O antigo lugar de Ponta Delgada, é descrito por Frutuoso como: “ começando sua compridão na casa dos herdeiros do magnífico Baltasar Rebelo, da parte do oriente, e acaba em casa do esforçado e forçoso que foi Baltasar Roiz, de Santa Clara, ou ainda além, da banda do ponente e, posto que no princípio e fim tenha só uma rua, pelo meio tem três, quatro, cinco e seis, atravessadas de norte a sul, em sua largura, com mais de dezasseis notáveis ruas, afora muitas azinhagas e becos e outras ruas menos principais e cursadas”. (4)
Antes que terminasse o século XVI, Ponta Delgada aparece-nos já estendida de leste para oeste ao correr do mar, em estreita faixa, sensivelmente meia légua depois da freguesia de Rosto de Cão (S. Roque), seu termo daquele lado, e a légua e meia da Vila da Lagoa, no sopé da dita Serra de Água de Pau, até um pouco além do Campo de S. Francisco onde, por altura do começo do actual molhe se situa a ponta de Santa Clara, entrando baixa pelo mar fora. (5)
A malha urbanística da cidade com uma estrutura medievalizante/tradicional, tinha uma forma nitidamente fusiforme, castrense e medieval, transposta para o contexto insular e litoral começando numa só rua alargando-se em várias ruas, travessas e becos, de malha estreita e irregular terminando de novo numa rua de saída, paralelamente à costa. (6)
Angra, com uma estrutura e malha urbana mais elaborada, é uma típica cidade Litoral/portuária pela magnífica baía que desde sempre lhe serviu de porto natural, projectando-a rapidamente para ser a primeira cidade açoriana, pelo sua incontestável importância no apoio das naus da carreira das Índias. Que me desculpem os angrenses que sempre foram ferozes opositores dos espanhóis, mas a estrutura da sua cidade lembra-me mais as cidades espanholas, quer pelo belíssimo forte filipino quer pela sua estrutura mais regular centrada na sua regular Praça Velha, tal como as “Plaza Mayor” espanholas. Mas não terá sido só esta influência que, ainda que contrariados, terão recebido. O seu carácter festivaleiro e folgazão, o gosto pelas touradas e a própria pronúncia, são heranças que não podem negar. “Dos espanhóis é clara a origem da palatalização do 1 na Terceira: família (1 junto de i semi-vogal), i. é, ouvindo-se familhia”. (7) Uma expressão muito típica da Terceira, a troca de “tão” por “tanto” (uma cidade tanto linda), poderá também ser resultado dessa influência castelhana.






Planta de Ponta Delgada em 1831 desenhada por António Ferreira Garcia d’Andrade.
A vermelho o eixo sul da cidade, a verde a sua espinha dorsal constituindo o seu eixo mediano e a amarelo o eixo norte.
São estes eixos que iremos seguir nos nossos passeios



(1)Gaspar Frutuoso, “Saudades da Terra”, Vol. 4º , Cap.XLIII, pág. 73
(2)António Cordeiro, “História Insulana das Ilhas a Portugal sujeytas” Lisboa 1717.
(3)Francisco Afonso de Chaves e Melo, A Margarita Animada, 2.ª Edição 1994 ICPD pág. 56 (1ª ed. Lisboa-1723)
(4)Gaspar Frutuoso, “Saudades da Terra”, Vol. 4º , Cap.XLIII, pág. 73
(5)Nestor de Sousa, A ARQUITECTURA RELIGIOSA DE PONTA DELGADA NOS SÉCULOS XVI A XVIII, Universidade dos Açores Ponta Delgada 1986.
(6)José Manuel Fernandes, Arquitectura e urbanismo nas ilhas atlânticas. um património comum dos Açores, Cabo Verde, Canárias e Madeira, IV Colóquio Internacional de História das Ilhas, Canárias 1995
(7) António Machado Pires, in “O HOMEM AÇORIANO E A AÇORIANIDADE”, IV Colóquio Internacional de História das Ilhas, Canárias 1995

Carlos F. Afonso
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terça-feira, setembro 28, 2004

Vamos longe...

...num país onde todas as semanas, invariavelmente, ouvimos noticias sobre quem vai para administrador do quê ou quem sai de administrador do quê (assim de repente estou a lembrar-me Luis Delgado, Mira Amaral, duas vezes noticia recentemente, e Celeste Cardona....
...num país onde todas as semanas, também invariavelmente, as noticias se preocupam com a desgraça e o drama alheio, sobretudo no que não interessa dessa desgraça e desse drama porque já nada se pode resolver...
...num país onde nada funciona, ou tudo e todos fazem para que nada funcione (nem tecnologica nem manualmente...
...num país onde "não há rei nem roque" com um PM, como se esperava, ausente e impotente e uma banda de música desafinada...

Talvez por isso me apeteça ir dar um giro...

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segunda-feira, setembro 27, 2004

Ponta Delgada – Vandalismo Cultural ou Desenvolvimento? - I

Ao propor-me dar uma opinião sobre o que tem sido feito à cidade onde nasci e onde gosto de viver, faço-o despretensiosamente, mais por imperativos de ordem sentimental e de revolta, do que baseado em conhecimentos históricos ou artísticos que não possuo e que admito os meus conterrâneos possam, com razão, discordar.
O longo período de afastamento, a que fui obrigado por motivos profissionais, fez em mim crescer o sentimento de “açorianidade” que quase todo o emigrante açoriano sente, ao afastar-se a sua terra.
"A Açorianidade é a alma que se transporta quando se emigra, como também aquilo que de cada um de nós se espera quando nós vivemos fora”. (1).
Nós, açorianos, somos os portugueses de quatrocentos, moldados pelo isolamento das ilhas, pelos sismos e pelos vulcões… Os que para cá vieram em quatrocentos, foram gente rude e aventureira e meia dúzia de filhos segundos da pequena nobreza continental arruinada.
Uma das características do carácter do micaelense, é a ausência do snobismo tão típico do continental e de forma mais exuberante do alfacinha, sempre disposto a fazer parecer o que não é, e a exibir o que não tem. A rudeza dos primeiros tempos do povoamento moldou-nos o carácter e o isolamento fez permanecer durante séculos termos linguísticos, hábitos e tradições já há muito desaparecidas no continente e que, progressiva e rapidamente, se vão também apagando nas ilhas. Se na mesma ilha se encontram pronuncias, hábitos e tradições diferentes, originados provavelmente pelas diferentes origens dos primeiros povoadores que dizer entre as diferentes ilhas.
Nemésio, um observador arguto e que tão bem conhecia o carácter açoriano definiu-o de forma lapidar. Assim, considera o micaelense (o mais trabalhador, o mais introvertido e talvez mais rude nos tipos rurais), o terceirense (bem menos trabalhador, mais festeiro e convivente, com traços de certa manha rural), que agrupa com um tipo mais genérico do açoriano das "ilhas de baixo", e o picaroto, que é uma subdivisão do grupo anterior, mas que lhe oferece traços muito distintivos, a ponto de o considerar a "nata do insulano" (homens do mar, homens de palavra, dando conta da vida com frontalidade e brio).(2)
Se até ao séc. XIX as elites e o poder foram fundamentalmente de origem nobre, terratenente e rica, mas, na sua maioria, pouco letrada e culta, com o advento do liberalismo emergiu uma classe de mercadores, também ricos, mas ansiosos pela nobilitação, para depois, com a Républica, ser exercida por uma classe pobre, mais letrada, mas ambicionando, já não a nobilitação, mas sim a justa ascensão social e um enriquecimento rápido, por vezes por meios pouco claros, para não dizer claramente ilícitos. Todos, ou quase todos, mostraram por igual um total desrespeito, quer pela história quer pela tradição artística local, submetendo-nos – por ignorância ou insensibilidade – aos seus interesses particulares, hoje muito ligados à “cultura do betão”. Honrosas excepções houve, como sempre…
O meu objectivo será mostrar, baseado mais em fotografias do que em conhecimentos históricos que, como já disse não possuo, a destruição e descaracterização que se tem feito da cidade de Ponta Delgada, em nome daquilo que alguns chamam, a meu ver de forma caricata, “Desenvolvimento”.
Se a alteração da toponímia da cidade, já aqui referida, resulta de uma mera estupidez facilmente remediável, a destruição do seu património arquitectónico, já de si pobre, é um crime de lesa-cultura irremediável.

1. António Machado Pires, in “O HOMEM AÇORIANO E A AÇORIANIDADE”, IV Colóquio Internacional de História das Ilhas .Canárias 1995
2. V. Nemésio "O Açoriano e os Açores" em Sob os Signos de Agora, Coimbra, 1932.

Carlos F. Afonso


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Leituras, imagens e um desafio

Nas últimas férias contactei muito de perto com a realidade do "aqui havia" ou "aqui era".
Isto porque, por um lado, andei a passear em São Miguel com amigas que lá tinham estado há 14 anos atrás e, pelo muito que se construiu e o que em parte se destruiu, inevitavelmente a conversa resvalava sempre para aí, o que permitiu aos amigos que estavam connosco e que nunca tinham ido à ilha "visualizarem" o que outrora existiu em certos lugares.
Por outro lado, o meu pai estava a ler um livro, que ia comentando comigo, e que documentava a existência de inúmeras igrejas e capelas em Ponta Delgada, hoje desaparecidas e nem sequer faladas. E eu que pensava que Braga era a cidade dos 300 altares...
Foi neste contexto que, com os meus posts das férias e a imagem do que foi e do que é Ponta Delgada , surgiu a ideia ao meu Pai, que na altura escreveu assim "Havemos de postar um passeio por Ponta Delgada mostrando o que foi e o que a selvajaria humana, em nome dum suposto progresso, destruiu."
Mais uma vez a iniciativa de postar foi dele mas desta feita eu insisti.
A ideia é documentar o mais possível "os passeios" com fotografias para que quem conhece Ponta Delgada reconheça os espaços do seu quotidiano, e para que quem não conhece fique aqui com um bom guia turístico que nas bancas nunca irá encontrar.
O trabalho está iniciado e bastante adiantado e, devo dizer-vos, na minha opinião está muito interessante.
Para o blogue iremos adaptar o trabalho, que já está extenso com a recolha de elementos de diversas fontes, e vamos postar de cada vez sobre uma rua ou uma zona.
Mas se alguém estiver interessado em receber o texto de base completo, no final dos "passeios" por aqui podemos (o meu pai ou eu) enviar por e-mail. Basta deixar pedido aqui ou por mail, e o vosso endereço de e-mail.
Bons passeios!


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domingo, setembro 26, 2004

Todos os dias

Todos os dias agora acordo com alegria e pena.
Antigamente acordava sem sensação nenhuma; acordava.
Tenho alegria e pena porque perco o que sonho
E posso estar na realidade onde está o que sonho.
Não sei o que hei de fazer das minhas sensações.
Não sei o que hei de ser comigo sozinho.
Quero que ela me diga qualquer cousa para eu acordar de novo.


(Alberto Caeiro)

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quinta-feira, setembro 23, 2004

Ao som de...

... Lightnin Hopkins .
Vou blogar.
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Pior...

do que isto



só isto



Está (ou pode estar) em causa a morte, nos dois casos.
Mas quando os terroristas matam eles não deixam de ser o que são. São e continuarão a ser terroristas.
Pelo contrário uma mãe quando mata transfigura-se. Não é mãe, é um carrasco.





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Obrigada também

ao MJMatos, ao Congeminações, à 1poucomais, ao João Pacheco, ao Mário Roberto e a Gil Medeiros.
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quarta-feira, setembro 22, 2004

Obrigada

Sobretudo ao meu Pai pela parceria, também aqui.
Mas também...
à Canuca, ao João Nuno, ao Nuno, à Catarina, à Moriana, ao ToZé, ao Alexandre, ao João Vasconcelos Costa, ao Pedro, à Beatriz, à Mariana, ao El, à Pilar, à Cláudia, ao André, à Sara e ao Francisco.


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terça-feira, setembro 21, 2004

Finalmente

Chamem-lhe corporativismo, chamem-lhe facciosismo, chamem-lhe fétiche, chamem-lhe o que quiserem, mas é verdade: eu falo mal e tenho má impressão dos juízes.
Faço-o pelo que vejo e leio mas concedo que, como regra que acho que é, tem excepções.
Hoje conheci mais uma excepção. Um bem-haja.
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Paz

Hoje é o seu Dia Internacional.
Devíamos, pois, ficar com esta imagem.



Mas não consigo esquecer que é uma utopia.
Porque ainda temos, entre tantas, esta imagem...



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segunda-feira, setembro 20, 2004

Caçadas

Sobre uma proposta do governo de Tony Blair para a proibição da caça à raposa eu concordo com o que se diz aqui, em detrimento do que se diz aqui e aqui.
As tradições, são tradições (e não direitos) e há tradições que fazendo parte da cultura não me atraiem...

Agora, misericórdia misericórdia era se idêntica proibição fosse proposta por estes lados, para a caça que cá se faz.
Misericórdia para os animais.
Misericórdia para os transeuntes das estradas e auto-estradas que caminham lentamente atrás dos caçadores.
E misericórdia para quem tem de fazer e ler isto.





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Há um ano...

...começou este blogue. Foi assim, e eu não me esqueço.

Agradeço a todos os que por cá passam, aos que ficam e sobretudo aos que comentam.
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domingo, setembro 19, 2004

Mais um jogo...agora de cartas

Depois da ligeira insónia e do round pela blogosfera, eis que encontro na Blogotinha mais um jogo e desta feita envolvendo Tarot.
Eu não sou crente no que nos dizem os signos, as linhas das mãos e as cartas, no sentido de não me reger por aquilo que qualquer um deles me possa dizer ou recomendar.
Mas respeito a astrologia porque o meu mapa astral não se enganou.
E respeito as cartas porque até a minha Mãe engravidou alguém (que não planeava nem intencionava tal gravidez) seguindo as notas de leitura das cartas da Tia Kate.
E respeito o rigor que existe no estudo do significado das linhas das mãos, pelo menos pelo que li.
Apesar do respeito não deixo de brincar com os temas.
Desta vez, a brincadeira deu nisto:


The Justice Card
You are the Justice card. Justice preserves the
harmony of the world. Working with opposite
forces, Justice does not seek to criticize or
condemn but rather to accept. The idea behind
the card justice is that opposite forces are
complementary; you could not have good without
evil or light without darkness. Justice's
position is to make sure that if a thing is out
of balance, the weight of its energy is
realigned with its opposite force. This card is
also a card of humour, for it is in pointing
out contrary positions that humour is often
found. The attitude that is found in the
humourous person, being able to shift
perspective and flow with an instinct, is
important in the maintenance of good balance.
(Image from The Blue Moon Tarot Deck)


Que carta de Tarot são vocês?
brought to you by Quizilla
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Há dias

Há dias em que julgamos
que todo o lixo do mundo
nos cai em cima
depois ao chegarmos à varanda avistamos
as crianças correndo no molhe
enquanto cantam
não lhes sei o nome
uma ou outra parece-me comigo
quero eu dizer :
com o que fui
quando cheguei a ser luminosa
presença da graça
ou da alegria
um sorriso abre-se então
num verão antigo
e dura
dura ainda.




Eugénio de Andrade
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sexta-feira, setembro 17, 2004

É muito mau...

...adormecer com um ministro. E é pior ainda quando esse ministro é Bagão Félix.
Vou esperguiçar-me, lavar-me e vestir-me, tomar um café, acordar e organizar as ideias para ter a certeza que isto foi real e não um pesadelo...

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Conhecem?





Consta que esta é a cereja sobre o bolo.
Pelos vistos temos agora cereja azul.
Só falta o bolo.
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quinta-feira, setembro 16, 2004

Onde é que estás?

Pelo meu amigo André, tenho vindo a conhecer Mário-Henrique Leiria, o que me tem aguçado a mais pesquisas e gastos...
Como postou o André, em 1973 Mário-Henrique Leiria escreveu assim:
"Telefonaram-lhe para casa e perguntaram-lhe se estava em casa."
É claro que em 1973 só se telefonava para a casa ou para os empregos das pessoas, e perguntar-lhes se elas lá estavam era, naturalmente, uma pergunta estúpida.
Mas agora, na era do telemóvel, é natural e quase inevitável que quando nos ligam para esse instrumento nos perguntem: "Onde é que estás?"
Mas que raio tem, quem me liga, de saber onde estou? Ligaram-me para isso?
Eu continuo a achar a pergunta estúpida...

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Safámo-nos todos. Parabéns!
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quarta-feira, setembro 15, 2004

Repondo a verdade



Um Falcão não se vende nem se aluga. Um Falcão voa na sua liberdade.
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Gozo ou Maldição?

No ano passado, a propósito do Dia Europeu Sem Carros, eu escrevi assim:

"Ridículo é...
...a forma de assinar o Dia Europeu Sem Carros em Lisboa!
Afinal o centro intransitável resumiu-se a um centro que deve ter sido o centro há dois séculos atrás. Desta vez o “meu centro” não foi afectado, e nem dei pela efeméride..."

Este ano, em vez de reconhecerem o ridículo e fazerem como já tinha sido falado - não assinalarem o dia - resolveram vir afectar o "meu centro".

"A Câmara Municipal de Lisboa vai, ao contrário do que tinha sido veiculado pela comunicação social, participar no Dia Europeu Sem Carros, embora a iniciativa se vá cingir ao corte de um troço da Rua Rosa Araújo, perpendicular à Avenida da Liberdade.
(...)
O Dia Europeu Sem Carros será assim assinalado de forma simbólica, com o corte, a partir das 24h de quinta-feira, da Rua Rosa Araújo, entre a Rua Mouzinho da Silveira e a Avenida da Liberdade. "Por enquanto, o que podemos dizer é que é temporário", comentou o assessor, questionado sobre a possibilidade de o condicionamento de trânsito vir a prolongar-se além da hora e data previstas
."

Estrarão a gozar-me ou é vingança pelo que escrevi?
Prevejo muito trânsito de peões nos passeios e esquinas daquelas ruas...



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segunda-feira, setembro 13, 2004

Loiras

Não, não vos vou escrever sobre cervejas, porque isso é para quem sabe.
Enquanto a Loira dá espectáculo no Pavilhão Atlântico, eu encontro este divertido post no Blogue de Esquerda.
Mas mais engraçado é o resultado a que chego no teste.

You haven't got a drop of blonde in you...whether or not you've been blessed with golden tresses. You don't behave in any of the typical blonde ways, and probably don't fall for all that stereotypical "dumb blonde" nonsense. You know that using hair color to determine character is ridiculous, and would rather be seen for the unique individual that you are. How very un-blonde of you!

Mas eu gosto de ser loira! Dá-me tanto jeito...
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Hoje...

...só se fala dela

Há também quem vá ver e ouvir.
Eu gostaria de ver, mas ainda não é desta...


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Marradas

As touradas voltam a ser notícia pelas razões controversas - da morte do touro - e pelas piores razões - abuso sexual.
Ambas inaceitáveis.

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domingo, setembro 12, 2004

Só faltava mais esta...

uma derrota...



depois de um dia que, apesar do sol, foi negro para mim.






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Elogio da Morte

Que nome te darei, austera imagem,
Que avisto já num ângulo da estrada,
Quando me desmaia a alma prostrada
Do cansaço e do tédio da viagem?

Em teus olhos vê a turba uma voragem,
Cobre o rosto e recua apavorada...
Mas eu confio em ti, sombra velada,
E cuido perceber a tua linguagem...

Mais claros vejo, a cada passo, escritos,
Filha da noite, os lemas do Ideal,
Nos teus olhos profundos sempre fitos...

Dormirei no teu seio inalterável,
Na comunhão da paz universal,
Morte libertadora e inviolável!


Antero de Quental (que procurou a morte em 11.09.1891)



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sábado, setembro 11, 2004



Por todos os inocentes que ficaram aqui.
E por todos os que, por causa do terrorismo ou do combate ao mesmo, não estão entre nós.




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Amigos Meus

Ah, meus amigos, não vos deixeis morrer assim... O ano que passou levou tantos de vós e agora os que restam se puseram mais tristes; deixam-se, por vezes, pensativos, os olhos perdidos em ontem, lembrando os ingratos, os ecos de sua passagem; lembrando que irão morrer também e cometer a mesma ingratidão.
Ide ver vossos clínicos, vossos analistas, vossos macumbeiros, e tomai sol, tomai vento, tomai tento, amigos meus! – porque a Velha andou solta este último Bissexto e daqui a quatro anos sobrevirá mais um no Tempo e alguns dentre vós – eu próprio, quem sabe? – de tanto pensar na Última Viagem já estarão preparando os biscoitos para ela.
Eu me havia prometido não entrar este ano em curso – quando se comemora o 19640 aniversário de um judeu que acreditava na Igualdade e na justiça – de humor macabro ou ânimo pessimista. Anda tão coriácea esta República, tão difícil a vida, tão caros os gêneros, tão barato o amor que – pombas! – não há de ser a mim que hão de chamar ave de agouro. Eu creio, malgrado tudo, na vida generosa que está por aí; creio no amor e na amizade; nas mulheres em geral e na minha em particular; nas árvores ao sol e no canto da juriti; no uísque legítimo e na eficácia da aspirina contra os resfriados comuns. Sou um crente – e por que não o ser? A fé desentope as artérias; a descrença é que dá câncer.
Pelo bem que me quereis, amigos meus, não vos deixeis morrer. Comprai vossas varas, vossos anzóis, vossos molinetes, e andai à Barra em vossos fuscas a pescar, a pescar, amigos meus! – que se for para engodar a isca da morte, eu vos perdoarei de estardes matando peixinhos que não vos fizeram mal algum. Muni-vos também de bons cajados e perlustrai montanhas, parando para observar os gordos besouros a sugar o mel das flores inocentes, que desmaiam de prazer e logo renascem mais vivas, relubrificadas pela seiva da terra. Parai diante dos Véus-de-Noiva que se despencam virginais, dos altos rios, e ride ao vos sentirdes borrifados pelas brancas águas iluminadas pelo sol da serra. Respirai fundo, três vezes o cheiro dos eucaliptos, a exsudar saúde, e depois ponde-vos a andar, para frente e para cima, até vos sentirdes levemente taquicárdicos. Tomai então uma ducha fria e almoçai boa comida roceira, bem calçada por pirão de milho. O milho era o sustentáculo das civilizações índias do Pacífico, e possuía status divino, não vos esqueçais! Não abuseis da carne de porco, nem dos ovos, nem das frituras, nem das massas. Mantende, se tiverdes mais de cinqüenta anos, uma dieta relativa durante a semana a fim de que vos possais esbaldar nos domingos com aveludadas e opulentas feijoadas e moquecas, rabadas, cozidos, peixadas à moda, vatapás e quantos. Fazei de seis em seis meses um check-up para ver como andam vossas artérias, vosso coração, vosso figado.
E amai, amigos meus! Amai em tempo integral, nunca sacrificando ao exercício de outros deveres, este, sagrado, do amor. Amai e bebei uísque. Não digo que bebais em quantidades federais, mas quatro, cinco uísques por dia nunca fizeram mal a ninguém. Amai, porque nada melhor para a saúde que um amor correspondido.
Mas sobretudo não morrais, amigos meus!


(Vinicius de Moraes, 1965)
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quinta-feira, setembro 09, 2004

Vale a pena...

...ler e ficar a conhecer a prespectiva judaica.
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quarta-feira, setembro 08, 2004




Somos um país ridículo, somos.
Mas hoje a Selecção representou-nos bem. Pelo menos no resultado que obteve (4-0).
Continuamos a caminho do Mundial...
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Greve!

Podia não ter postado hoje que vocês nem tinham percebido.
Mas postei, só que o Blogger hoje não publicou nada.
Parece que fez greve, e eu acho muito bem porque ele também tem direito.
Não lhe pagam (eu pelo menos não pago), abusam da capacidade dele e depois querem que exerça as funções como se nada fosse.
Não pode ser assim! Isto não estica nem dá para tudo!
Há que lhe dar umas folgas e hoje ele reclamou-a e bem!
A partir de agora quando não me virem a escrever por aqui já sabem que estou a poupá-lo. Assim exerço o meu dever cívico, moral e de solidariedade internética de conceder as folgas devidas (digo no plural porque para além do dia e meio que penso poder ter, por lei, se calhar até sou simpática e dar-lhe-ei mais).

Agora retomo as lides mas vou andar entretida a aprender umas coisas de servidores, para onde posso remeter umas coisas, que depois até posso linkar aqui. Como já linkei a posta Para o Barata.
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David



Ainda ontem falámos dele. Hoje faz 500 anos que foi exposto pela primeira vez.
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Dia Mundial da Alfabetização

Um em Cada Dez Portugueses Não Sabe Ler nem Escrever
Só um em cada cinco chega ao ensino secundário; mulheres analfabetas são quase o dobro dos homens


Se isto não fosse preocupante eu até me ria.
É que nenhum de nós pode querer bons governantes quando entre os votantes continuam a existir analfabetos, a a existir nas taxas que existem.
E nenhum governante pode ter a veleidade de fazer promessas de desenvolvimento, de bem-estar social, e outras que tais, enquanto nada se fizer contra isto.

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terça-feira, setembro 07, 2004

Para o Barata

Se uma Barata incomoda muita gente, nada como espreitarem aqui.
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Oitentas

Pelo Pedro fui levada a este jogo.

thepixies.jpg
You rule. in 15 years, you won't be as known as you
are now, but most of the people that will know
you then will like you (or else I'll beat them
with a stick). You're nice to listen to.


Que grupo dos anos 80s são vocês?
brought to you by Quizilla
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Este mundo é teu

Minha amiga Canuca acertaste em cheio na música. Obrigada.

Se no fundo do ser
Encontrarem razão
Então está bem

Mas se querem viver
Sem saber onde estão
Sem sentir o que são
Já nada está bem

Atenção que este mundo é teu

Se querem lutar
Para sentir quem são
Então está bem
Mas se querem viver
Sem saber onde estão
Sem sentir o que são
Então nada está bem

Atenção que este mundo é teu

Mas o mundo que vais encontrar
Está ao contrário do que devia estar
Com a população sem reacção
Controlada por outros sem razão
Ficam todos apenas a querer
Simplesmente a sobreviver

Guerras, destruição, violações
Parece que ninguém quer saber
O sistema tira-nos a decisão
Sobre o que nos vai acontecer
Todas as lutas pelo poder
São cegas e desumanas
Não importam os meios
Nem sequer o fim

Tu, tu mereces tudo
Mas tu, vais ter de ficar
Por mim, tu tens de sentir
Que eu, eu andarei até cair

Atenção que este mundo é teu
Atenção que este mundo é teu
Que este mundo é teu

(Zé Pedro, Xutos & Pontapés)
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segunda-feira, setembro 06, 2004

A República "dos" bananas

"O poder em Portugal – democrático ou autocrático, monárquico ou republicano, de direita ou de esquerda – sempre foi exercido com arrogância e prepotência e são raríssimos os casos de políticos que se sacrificaram ou prejudicaram pelo exercício de funções públicas.
Quando faltam aos seus compromissos, mentem ou praticam actos de corrupção constitui-se uma Comissão Parlamentar de Inquérito, sabiamente nomeada pelo próprio poder, tendo o cuidado de ter o seu partido em maioria, de modo a que a culpa seja sempre das circunstâncias pouco favoráveis, da ineficácia e maledicência da “insignificante” oposição, ou mesmo do povo, supostamente soberano, mas que na sua “imensa sabedoria” (terminologia usada pelo partido vencedor na hora em que ganha as eleições) não teria compreendido a mensagem que lhe queriam transmitir (terminologia do partido na hora em que perde as eleições).
Nunca a culpa poderá ser do político ou da má política e em caso algum lhe poderão ser pedidas responsabilidades. Ao contrário de outros deuses conhecidos que sempre nos indicaram o caminho pelo seu exemplo, este DEUS, curiosamente, exige dos outros a perfeição, a submissão e o espírito de missão que no fundo ele próprio não pratica. A este pastor compete tão só indicar o caminho ao seu rebanho, mas o seu é outro e bem diferente.
Lembro-me de há anos o chanceler Willy Brandt se ter demitido porque um seu secretário tinha sido condenado por espionagem a favor da Alemanha Oriental, assumindo com dignidade a responsabilidade política de tal situação. Aos olhos de países como o Burundi, Uganda, Congo e Portugal, tal atitude seria impensável e só mostrou a falta de inteligência e de capacidade política de Willy Brandt e o erro que cometeu não consultando estes países sobre a atitude que deveria tomar.
Já assistimos a um ministro não se ter responsabilizado politicamente pelas irregularidades cometidas no seu Ministério pelo seu Secretário de Estado e um seu familiar!... Também assistimos, pasmados, a uma Assembleia votar para os seus deputados aumentos de 50% sobre os seus vencimentos, enquanto ao povo era concedida a décima ou vigésima parte daquele aumento. Assistimos, apáticos, a uma Assembleia funcionar escassos meses por ano, produzindo muito pouco e perdendo-se em intermináveis e inúteis discussões que só interessam aos próprios, para justificar os chorudos ordenados que auferem e os inegáveis privilégios que usufruem. Lembremos tão sómente, o escandaloso direito à reforma se estiverem sentados na Assembleia, algumas horas, durante 12 anos! Acabamos de saber que o primeiro gesto dos novos ministros foi requisitar 50 carros topo de gama para seu uso!
Até Mota Amaral – o puro, o beato, o incorruptível – acaba de legalizar, quase à socapa, a escandalosa vigarice das viagens fantasma dos srs. deputados, que deveriam ser “obrigados” a viajar em classe turística como qualquer cidadão, ainda por cima viajando à custa do erário público dum país arruinado!
Tudo isto a propósito da notícia do Independente sobre as múltiplas requisições da Dr. Luísa César para exercer as “funções protocolares que lhe são exigidas” (nas palavras do Presidente do Governo Regional). Não sendo ilegal ao que parece, é a meu ver imoral que se prolonguem requisições a um funcionário público para exercer funções de decoradora, protocolares (jantares, festas, viagens, …???) ou mesmo caritativas.
Ao que parece para se ser Presidente do Governo Regional não se pode ser solteiro, divorciado, viúvo ou casado com uma funcionária pública.
Tudo me parece se resolveria, com dignidade inatacável e irrepreensível, com uma simples “licença sem vencimento”.
Mas afinal continuaremos a viver, com um patriotismo idiota, numa república onde os bananas somos nós."

Carlos Falcão Afonso

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Gente de Merda

Ainda bem que tive matéria para vos trazer aqui, sobre as minhas férias, que me aguentaram e fizeram resistir a escrever aqui (sem que resistisse a comentar por aí na blogosfera) sobre tanto que se passou na semana passada.
Pior do que os factos, foi a gente que os protagonizou.
Gente da política que, em vez de legislarem ou ponderarem se o devem fazer sobre o aborto, enredam-se em novelas e episódios que não resolvem as questões e que não impedem que o aborto se continue a fazer, nas piores condições.
Gente da alta política que decide, sem qualquer razoabilidade e proporcionalidade, intervir pessoalmente e dar ordens tenho em vista a prevenção da prática de um crime, apresentando-se aos Portugueses com o seu estatuto ministerial com a bandeira do seu partido por detrás.
E gente da mesma política que intervém, mais do que por ideais, mas porque se insiste em colocar a questão do aborto no plano da "partidarice" política.
E novamente gente da alta política que assiste a tudo calado e tardiamente pede explicações.
Gente da justiça que, certamente a troco de um protagonismo, pretende tomar decisões que aos olhos de todos nós fazem-nos cada vez mais temer o aparelho.
Ontem um pensou que podia prender e prende, depois vêm outros e soltam, depois vem outra que confirma a soltura e até a ameniza e agora vem outra mandar prender outra vez. Tudo perante os mesmos factos.
Gente que minimiza uma falha de interpretação de pilotos que levou a que estes tivessem, em estrito cumprimento das regras de segurança, de fazer uma manobra de onde resultaram 36 feridos. Uma manobra que noutros casos já matou gente...
E finalmente, mas muito mais grave, gente de fora, de um país que já foi uma potência e que hoje não tem forças de segurança decentes (como reconhece o próprio "comandante" do país), que para além de fazer terrorismo o faz contra a mais débil e inocente das vítimas, as crianças.
E gente que explora as imagens de tudo isto até à exaustão.
Gente de merda, como tão bem se aplica o refrão de uma música, das várias que agora recebi (a discografia completa, aliás).

Gente de merda, que me estraga a cabeça
Morro de dia p`ra dia

Há tantas coisas que é só pra perder
E há outras tantas que é só pra esquecer


(Zé Pedro, Xutos e Pontapés)

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domingo, setembro 05, 2004

Férias (VIII) - Recordar sempre

As férias já terminaram há uma semana e ainda passei a primeira semana de trabalho a poder recordá-las aqui.
Aqui não ficam, nem podem ficar, as recordações do reencontro com a familia, que consegue reunir-se toda nesta altura, e com alguns amigos com quem só posso estar quando vou à ilha ou quando eles cá vêem.
Aqui também não fica o que recuperei nas leituras que fiz, por ter mais tempo para mergulhar nas páginas dos livros. Posso apenas confirmar ao João Nuno o que já lhe havida dito: obrigada pela recomendação porque valeu a pena!
Aqui também não fica o esforço e a ansiedade que passei a sentir por ter deixado de fumar (faz hoje 22 dias, três semanas).
Fica aqui, com atraso, o meu agradecimento aos bloguers açorianos por terem feito o jantar que permitiu que revisse alguns que já conhecia e que passasse a conhecer outros bloguers e comentadores que apenas lia e que muito me agradaram pessoalmente.
Retribuições para aqui e para aqui.
E ficam, já com saudade, os locais que mais gosto onde voltei a estar













e aqueles onde não fui, mas onde voltarei sempre.





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Férias (VII) - Ponta Delgada

O sítio que menos gosto e onde menos vou em São Miguel é Ponta Delgada.
Mas numa madrugada e vista da doca - como tantas vezes a via quando era pequena, o que agora não se pode fazer porque o acesso está fechado - a cidade até estava bonita.




Em 1546 D. João III elevou Ponta Delgada a cidade, constando na carta régia: "a villa de Pomte deglada da ilha de Sam Migell he agora tão acrescentada em povoação e asy nobrecida". Como refere Gaspar Frutuoso tinha "um quarto de légoa de comprido, e de largo, no meio do corpo dela, um bom tiro de escopeta".
Em 1555 o seu "Cais Terra" foi construído.
Os portos que existiam (S. Francisco e caldeira da Ribeira de Valverde) foram, porém, sacrificados para dar lugar à construção da marginal, a Avenida Infante D. Henrique.
Hoje, para o prolongamento dessa marginal certamente irão fazer-se mais e mais graves sacrificios e aberrações (mas esta discussão deixo para os blogues açorianos que estão ali ao lado, e onde já houve conversa sobre esta tema).

Ponta Delgada que já foi assim,




agora é assim:







e é ainda uma cidade que cresce para o interior norte em caixotes de prédios, onde já existe um centro comercial do Sr. Sonae (e não só) e onde já me sinto quase sempre uma anónima na rua.
Desta parte, o anonimato, eu já gosto.





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Para o João

Obrigada por me teres poupado à ração...
Deixo-te aqui o teu amigo que faltou


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sexta-feira, setembro 03, 2004

Férias (VI) - Santa Maria

Este ano nas férias aproveitámos para visitar outra ilha, a de Santa Maria.
Um dia magnífico, um passeio fantástico e uma data inesquecível que sempre será lembrada.
Para além de um excelente almoço na Maia - e mais uma vez obrigada ao Nuno, pela recomendação e marcação - onde matei saudades dos cavacos, e de trepar muros para ver o sitío onde viveram antepassados, deliciei-me com a vista sobre a Baia de São Lourenço e com a cor da água.
E como nunca irei a outro planeta, pelo menos fui à Faneca onde me senti marciana.

Ficam aqui uma história de Santa Maria e as fotografias dessas paragens.
Até agora, quase todas as fotos que aqui viram foram da autoria do meu amigo João que muito contribui para colorir este blogue de recordações nos últimos dias. Obrigada a ele.
As fotos de hoje são da minha autoria, mas quem ajudou na qualidade foi o tempo e a máquina.


Santa Maria foi, com grande probabilidade, o primeiro lugar ocupado pelos colonos recém-chegados. Havia para isso duas razões: a de ser a mais meridional de todas as ilhas; e a de ser aquela em que as manifestações de vulcanismo estavam completamente extintas. Não foi só a distância marítima que até aos meados do século XV fechou aos europeus a penetração dos Açores; foi também o terror do fogo, terror que pode estar relacionado com as lendas do mar tenebroso. Há noticias de erupções nas ilhas de São Miguel, Pico, São Jorge, Faial, Terceira e de numerosas erupções submarinas. Gaspar Frutuoso conta que à noite os cimos dos montes se viam em brasa; os vulcões submarinos faziam ferver o mar. O vulcanismo não era só um factor de terror, mas também uma dificuldade ao aproveitamento dos solos; no Pico ainda hoje se chama mistérios aos revestimentos de lava e cinza que, inexplicavelmente para os colonos, apareciam a recobrir a terra e a tornavam estéril. Santa Maria é, como todas as demais ilhas açorianas, de origem vulcânica, mas desde há muitos séculos o fogo se apagara quando os Portugueses lá desembarcaram.
Santa Maria está ligada com a epopeia de Colombo. Foi a primeira terra europeia em que tocou quando regressava da viagem famosa que o levou ao Novo Mundo.
Bastante confusa e misteriosa é essa passagem de Colombo pelos Açores, como misterioso é tudo quanto se refere ao grande navegador. Chegou a Portugal do mesmo modo que Ulisses à ilha Scheria: atirado pelas ondas, agarrado a um remo, deu à costa numa praia do Sul, não sabemos ao certo qual, porque Las Casas só diz que o naufrágio se deu entre Lisboa e o cabo de São Vicente. Nessa altura o descobridor era corsário, e andava embarcado numa esquadra de flibusteiros que saqueava sem caridade os navios que apanhava no mar. Tinham saído quatro grandes galés venezianas do porto de Lisboa e os corsários caíram sobre elas, como aves de rapina, mas os mercadores defenderam--se e Colombo teve de se atirar ao mar, do navio em chamas. Ulisses encontrou Nausica na praia, e assim entrou no palácio do rei. Colombo encontrou em Lisboa Filipa Perestrelo, filha do navegador Bartolomeu Perestrelo, que então já tinha morrido. Foi a viúva do povoador de Porto Santo, que, quando viu que o genro era dado a cousas dos mares, lhe deu 'instrumentos e escrituras e pinturas convenientes à navegação, com cuja vista e leitura ele muito se alegrou'. Palavras do padre Las Casas que conhecia de perto o assunto.
O certo é que numa sexta-feira, 15 de Fevereiro de 1593, ao fim de muitos dias de desespero perdidos na fúria da tempestade, avistaram terra pela proa, na parte de les-nordeste. Uns diziam que era a ilha da Madeira, outros a Roca de Sintra. Não sabiam onde estavam, e com a cerração voltaram a perder de vista a ilha. Todo o sábado andaram aos bordos, mas não viram senão bruma; ao rezar a Salvé, a oração da noite, avistaram fogos em terra; estavam portanto perigosamente perto, e o navio passou a noite a bariaventear, para não se perder outra vez a ilha e não se despedaçar contra os rochedos. No domingo continuou a luta contra a ilha fantasma; o almirante «no pudo recognoscer que isla fuese . Só na segunda, 18, se aproximou e mandou o batei a terra; os moradores disseram-lhe onde estava, ensinaram-lhe onde havia um ancoradouro para a caravela e «mostraram muita alegria e davam graças a Deus pelos descobrimentos do almirante». E Las Casas quem continua a falar. Mas acrescenta ~pero, en la verdad, todo era fingido>.
Começa aqui o relato de uma aventura que a literatura colombiana celebrizou e em que o papel de vilão fica para o capitão de Santa Maria. Nessa mesma segunda-feira, ao pôr do Sol, três açorianos apareceram na praia a fazer sinais de que queriam ir a bordo. Colombo mandou-lhes um barco, e eles vieram com uma bela merenda, água fresca e vinho velho, pão ainda a cheirar à carqueja do forno, galinha assada. E um recado: quem governava a ilha, na ausência do donatário, era João de Castanheira, que mandava saudações, não vinha porque era já noite mas viria no dia seguinte apresentar cumprimentos. (Tudo isto o conta Las Casas e o repetem os colombistas modernos. Não acredito que os açorianos precisassem de pedir um barco para ir a bordo, nem que mandassem galinha assada a um navio que tudo indicava ser dos piratas que por ali pairavam, nem que saíssem da terra ao anoitecer para ficarem numa caravela desconhecida, cujos homens falavam de fantásticas aventuras, como era costume de todos os malfeitores.)
O almirante Colombo sentou-se na câmara a saborear a prenda que lhe mandavam, fez muita honra aos mensageiros, fez dar-lhes camas para dormirem (quer isto dizer que os não deixou voltar a terra), e diz aqui só teve uma preocupação: cumprir o voto que fizera dias antes, quando se vira perdido de todo na solidã4 do mar: ir descalço e em camisa até à primeira igreja em que pudessem rezar a Santa Maria. E na manhã seguinte, terça-feira 19, dia de Camestolendas para o espanhóis, mandou metade da tripulação, com os três portugueses, a uma igrejinha que lhe disseram haver ali à beira da água. Aos portugueses pediu ele que 1h fossem achar um clérigo para dizer missa na ermida Ele guardou-se para o segundo turno da devoção.
Assim se fez. Mas os desembarcados não voltaram. Passava-se o tempo, a outra metade da tripulação estava ansiosa por desembarcar também, e nada de notícias. Já perto do meio-dia Colombo mandou levantar âncora e penetrar no pequeno porto junto do qual estava a ermida. E o que avistou da amurada foi uma cena odiosa: os desembarcados estavam todo presos. O capitão português meteu-se no barco e veio até perto da caravela pedir a Colombo que desembarcasse a outra metade da tripulação, certamente para o prender também.
A inverosimilhança de tudo isto tem passado indemne pelo crivo da história, e a única explicação. para esta situação, que extravasa das barreiras do bom senso, é o temor reverencial perante o mito colombino E bem claro que se o navio pudesse navegar dentro da angra da qual se via a igreja não teria fundeado no exterior, e também é pura fantasia que do mar Colombo pudesse ver o que se passava na ermida. Mas La Casas apenas repete o que Colombo contava, e Colombo foi homem cuja fantasia não tinha qualquer limite. Diz que, depois de ter discutido com o capitão português, voltou a sair para o antigo ancoradouro; aí a força do mar partiu-lhe os cabos e na quarta-feira, 20 de Fevereiro, a Pinta andava outra vez à mercê dos temporais, à procura da ilha de São Miguel, a doze éguas dali. Todo o dia navegou sem a avistar; na quinta-feira resolveu voltar a Santa Maria «para ver se podia cobrar a sua gente, a barca, as âncoras e as amarras que ali tinha deixado». Suponho que esta frase é uma fenda através da qual se pode entender toda verdade. O que atirou Colombo para o mar não foi nem a prisão de meia tripulação nem o conflito com o capitão português: foi a força do vento que lhe partiu as amarras. A invenção do episódio tem um objectivo: explicar este percalço marítimo e acentuar o heroísmo do descobrimento inventando uma oposição do rei de Portuga1 que, na realidade, não existia senão na má consciência de Colombo.
O prosseguimento do relato de Las Casas confirma-o largamente. Quando a caravela se aproximou de novo da ilha havia gente no alto das falésias a ver se a avistava; isto é, esperava-se que o navio voltasse. Um desses vigias fez-lhe sinal para que esperasse, sem seguir viagem, e Colombo ficou à espera. Não tardou muito que lhe viessem trazer a sua barca; vinham a bordo cinco marinheiros, dois clérigos e um escrivão, que lhe pediram que mostrasse os documentos que comprovassem o que afirmava. Exibiu as credenciais que os Reis Católicos lhe haviam confiado. Os portugueses deram-se por satisfeitos: Colombo provava que era capitão de um navio de uma nação amiga, não um salteador dos mares. E evidente que, em dois dias, o capitão português não podia ter recebido ordens de Portugal que o fizessem passar da posição de inimigo de aliado. Também é claro que tudo estava a postos ia ilha para ajudar o navio quando ele voltou. As coroas de Portugal e Castela tinham as melhores relações e não havia qualquer motivo para que um navio ao serviço do rei de Castela fosse hostilizado. A parte da tripulação que havia desembarcado (Colombo diz que para cumprir a promessa, mas o mais provável que fosse só para ver a terra) pôde então voltar à Pinta, e no domingo, 24 de Fevereiro, o descobridor da América, depois de se reabastecer fez rumo à Europa. Mas a força do vento tornou a confundir-lhe os caminhos; em vez de ir direito a Huelva, meteu-se pelo Tejo dentro e fundeou no Restelo. Surpreendente ancoradouro para quem andava a fugir aos navios do rei de Portugal! Daí mandou pedir licença para ancorar diante de Lisboa, porque o Restelo era lugar solitário; era uma maneira de fazer saber em Lisboa do seu regresso e do seu triunfo planetário. D. João II estava então em Vale de Paraíso, pequeno lugar junto de Aveiras de Cima, e ali recebeu o navegador com todas as honras, e ofereceu trajos de bom pano encarnado a toda a tripulação. E curioso que Colombo nunca mais e tenha lembrado da tal promessa solene a Santa Maria, apesar de necessariamente avistar do seu barco a ermidinha henriquina de Santa Maria de Belém...
Desse pecado da cilada a Colombo está pois inocente a ilha de Santa Maria. Pelo contrário, foi lá que recebeu os primeiros acenos de boas vindas e as primeiras alvíssaras do seu grande feito: o saboroso frango que João Castanheira lhe mandou. E para o silêncio dos antigos historiadores açorianos - Frutuoso, Padre António Cordeiro, Frei Agostinho de Montalverne —, que tanto tem intrigado os historiadores modernos, há uma explicação bem simples: o incidente só aconteceu na imaginação do navegador. Por isso nenhuma fonte da época o refere, nenhum protesto foi formulado, nenhum vestígio escrito ficou.


O Tempo e a Alma, José Hermano Saraiva












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quinta-feira, setembro 02, 2004

Férias (V) - Parque Terra Nostra

A piscina de água férrea onde, como referi em post anterior, não consigo banhar-me fica no Parque Terra Nostra, anexo ao Hotel art déco (mas totalmente reconstruido em 1997) com o mesmo nome, nas Furnas.
Foi Thomas Hickling quem fundou este parque no século XVIII,construindo "um pavilhão, jardim e tanque de água férrea a que chamou “Yankee Hall”"*
Segundo J. Marques Moreira "são desse tempo vários exemplares de araucária (...) e, possivelmente, de tulipeiro (...) e sequóia (...) ali existentes".
A partir de 1842 a propriedade passou a pertencer ao visconde da Praia, que, com o seu filho - 1º Marquês da Praia - contribuiu para a ampliação e melhoramentos do parque. Foi então construida a actual Casa do Parque no lugar do Yankee Hall.
Em 1935, em terrenos adjacentes ao jardim, abriu o Hotel Terra Nostra que, conjuntamente com toda a propriedade, foi adquirido em 1936 pela Sociedade Terra Nostra.
A partir daí, sob a gestão da família (e grupo) Bensaúde, o Hotel e o Parque têm vindo a sofrer várias intervenções.
Ao invés de me banhar nas águas férreas da piscina do Parque o que gosto de fazer nas Furnas é passear-me por entre a vegetação deslumbrante e exótica que aqui podemos encontrar.
É bom para digerir o almoço de cozido ou de qualquer outra coisa cozinhada pelo calor do solo.
É essencial para sentirmos o sossego, ou antes, o barulho das árvores e das plantas (como este ano tentei que o Migas, com cinco anos e meio, tentasse ouvir).
Já lá vai o tempo em que vínhamos desafiar as regras instituidas entrando no Parque por onde não deviamos para irmos à aventura pelo Parque.
Também já lá vai o tempo em que passei temporadas nas Furnas e vinha para aqui ler (mas estes eu acho que consigo repetir, ao contrário do que antes referi).
Este ano, foi o ano em que pela primeira vez me perdi e me desorientei pelo Parque. Pena não ter ficado lá perdida...













* Insulana, Genealogias de S. Miguel e Santa Maria, Os Ivens-Ferraz, Arquivo dos Açores
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