Depois do dia Sem (Com) Carros aderimos à moda da Marcha Branca contra a pedofilia, na senda da que começou em 1996 na Bélgica.
Ao contrário do dia Sem (Com) Carros, agora estivemos mesmo de Branco e, em Lisboa, pelo que vi na televisão e li, a adesão foi digna.
Concordo com este tipo de manifestações quando se visa alertar e consciencializar para um problema. Pelo que vi, alguns pais e avós só começaram a perceber a dimensão deste problema por causa da projecção pública do mesmo.
Não são como uma amiga minha que, ainda antes de se falar publicamente do processo judicial mais badalado neste momento no país, me dizia que, relativamente aos filhos, mais do que amizades desaconselháveis, insucessos nos estudos, drogas, o que verdadeiramente temia eram assédios pedófilos.
Assim, se apesar das badaladas notícias do caso "Casa Pia" e de anteriores notícias também sobre o tema, pais, avós e educadores não tinham consciência do mesmo..então força às "manifs".
Mas uma manifestação é, por definição, a manifestação de algo...de uma opiniões, de apoio a uma causa, de reivindicação de algo ou contra algo...enfim, é manifestação da nossa liberdade de expressão.
Neste caso, a organização da manifestação tinha proposto o "silêncio". Seria, ao que imaginei, uma manifestação de apoio a uma causa para a qual..."palavras, para quê?"
Contrariamente ao proposto os aderentes não silenciaram. Gritaram, exprimiram-se.
É certo que estão no seu direito...mas não o terão feito só porque estava uma câmara de televisão à frente?
E devia uma câmara de televisão emitir as imagens e o som de tais gritos, muitas vezes de apoio ou contra personagens de um processo judicial sem que se saiba o que aderente gritante sabe ou conhece de tais personagens e dos seus actos (eles, juiz e arguidos, estão "inocentes" até os seus actos serem apreciados pelo tribunal superior, no caso do juiz, e pela Boa-Hora, no caso dos arguidos).
É claro que para a estação televisiva é mais impressivo passar as imagens do que meramente relatar acontecimentos...
Os aderentes que passaram a figuras públicas (Pestana, Namora, Granja e outros) também não se escusaram de depor para os órgãos de comunicação social e de, inclusivamente (no caso de Namora e Granja), fazerem figuras patéticas de abraços e reconciliações, sem sequer se olharem olhos nos olhos.
Se o juiz do Caso Dutroux, na primeira Marcha Branca na Bélgica, ficou com a sua "imparcialidade" manchada porque aderiu àquela manifestação, as possíveis testemunhas do processo Casa Pia (se Granja e Namora forem indicados como tal), perderam toda e qualquer credebilidade com as imagens da sua presença na Manifestação Branca.
Teria sido preferível o silêncio...