quarta-feira, março 31, 2004

Blogar, Blogar, Blogar

Ontem, numa digressão bloguística os temas que mais me deparei foram: Saramago e o "encanto da virgindade e a grandeza da maternidade". Tem tudo a ver, estão a ver?
Sobre Saramago, não deixem de ler este post entitulado Ensaio sobre a toleima.

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Por apenas dois copos de vinho

Em Agosto de 1983 fui de férias a Londres e, por pouca sorte, apanhei uma enorme vaga de calor como
- dizia-se - não havia memória nos anteriores 50 anos. Não que a temperatura fosse para nós excessiva (34ºC), mas Londres é uma cidade reconhecidamente impreparada para o calor. Sem ar condicionado, sem bebidas frescas e até a desejada cerveja é servida quente! Fui, acidentalmente, à Burlington House em Picadilly, à exposição de Verão da Royal Academy of Arts. Exposição ecléctica e grandiosa onde se expunham todas as tendências e movimentos artísticos, desde obras de vanguarda até a formais retratos e clássicas naturezas mortas e paisagens.
Antes de sair, exausto e sequioso, deparei com uma pequena escada com um letreiro e uma seta que dizia “Mandela”. Julgando tratar-se de uma exposição de pinturas esotéricas ou orientais, subi e ao entrar deparou-se-me uma bonita e sorridente jovem que, de bandeja na mão, oferecia copos de vinho branco gelado! De um golo sorvi logo um copo. Passeei-me pela exposição fingindo-me interessadíssimo, mas com a ideia fixa de beber um segundo copo, o que, depois de um primeiro visionamento, sofregamente fiz. A exposição era um misto de desenhos infantis e pinturas com referências à liberdade e ao apartheid.
À saída vieram pressurosamente entregar um livro para assinar, com uma petição para libertar Nelson Mandela. Depois de dois copos de vinho branco gelado, debaixo de um calor abrasador, eu assinava o que quer que fosse. Desde a beatificação do Bin Laden à libertação do estrangulador de Boston.
Só mais tarde vim a saber quem era Nelson Mandela e não me arrependi de ter assinado a petição. O que Nelson Mandela provavelmente nunca soube foi que, em Londres ou na própria África do Sul, deve haver escondido um livro, assinado por um sequioso turista a quem ficou a dever a sua libertação, por apenas dois copos de vinho branco gelado! Eu que até sou abstémio...

Carlos Falcão Afonso


É verdade que sempre te conheci abstémio mas em viagem toda a transfiguração (ou quase toda) é permitida. E já te conheci algumas ;-).
Essa de matares a sede, em calores abrasadores, com um copo que contenha uma percentagem (nem que seja percentagenzinha) de alcool é uma delas, e que grandes sustos valeu ao nosso miúdo.
Quanto ao abaixo assinado, Mandela provavelmente também não saberá que existirá um livro (talvez o mesmo) que em 1987 também foi assinado por uma miúda em Londres, que não viu exposição nenhuma, nem bebeu vinho...

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segunda-feira, março 29, 2004

Terceirenses, não percam!

Se da Paixão não gostei nem recomendo, isto eu recomendo.
No próximo dia 31, às 21h30m no Teatro Angrense.
E vocês Micalenses, não convidaram os meninos? Não sabem o que perdem...

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Paixão

Depois de uma semana atribulada - a minha, a do país, e a do mundo - sobre a qual não pude aqui escrever, fui ver a Paixão de Cristo e estou ainda em digestão do dito.
A história já todos (ou quase todos) conhecemos, e no filme contactamos com uma leitura pobre dessa história, que nada acrescenta ou tira ao que todos podemos ler e ao que todos podíamos reflectir.
Como filme, nada tem a acrescentar também à cinematogradia de Mel Gibson ou à cinematografia em geral. Nem representações, nem som, nem efeitos....nem nada. Muito sangue, sim, muita carnificina. Até demais.
Enfim, não merece a polémica que lhe dedicam. Golpe de promoção? Parece-me que sim.
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quarta-feira, março 24, 2004

Estou sem tempo...

Antes que alguém reclame, eu explico.
Estou sem tempo para aqui vir. Estou sem tempo para escrever e até sem tempo para copiar textos ou fazer links para o que tenho lido.
O (pouco) tempo que esta semana tenho livre estou a dedicá-lo a outras coisas.
Porque

(...)
"A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou,
- Sei que não vou por aí! "


(Cântico Negro, José Régio)

Esta semana não estarei na blogosfera nem irei para os posts.
Mas sei por onde e para onde vou estar.

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domingo, março 21, 2004

Os movimentos estudantis em Ponta Delgada

Quando fui viver para Ponta Delgada, em 1982, houve dois movimentos totalmente novos para mim.
Ainda andava no Colégio São Francisco de Xavier quando, numa aula já não me lembro de quê, ouvimos uma manifestação lá fora. Espreitando à janela vi que os manifestantes eram todos eles miúdos (não miúdos como eu, mas miúdos na mesma), estundantes do ensino secundário, que subiam a rua do Colégio, vindos do Centro de Ponta Delgada, em direcção à Escola Domingos Rebelo.
Foi aí que me explicaram: estávamos no dia 6 de Junho, dia que se comemora a Autonomia e que na época não era feriado. A manifestação era a comemoração do estatuto e foi, certamente, o gérmen do feriado que veio a ser estabelecido. E ainda dizem que os estudantes, os jovens de hoje, são da geração rasca...
O outro evento colectivo, a que assisti depois pois o meu primeiro ano escolar nos Açores só começou em Janeiro, foi no reinício das aulas depois das férias do Verão. O Liceu fazia uma verdadeira praxe aos caloiros do 7º ano, promovendo uma procissão pelas ruas de Ponta Delgada - a que assisti de uma janela da casa da minha bisavó, onde vivia, na Rua Machado dos Santos (antiga Rua de São Brás) - com os caloiros rapazes em tronco nú, e o eleito Rei, de tanga num andor. A procissão terminava junto ao Tribunal, com o Rei a declamar para a estátua do Adão.
A última vez que vi esta procissão, o Rei ia nu (e já não era miúdo, ou era bastante precoce).
Julgo que nunca mais se repetiu...

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O Liceu e a Escola em Ponta Delgada

Mais uma vez com o mote do Professorices, que hoje se dedica às memórias do Liceu (o Liceu de Ponta Delgada que no meu tempo assim era chamado, apesar do nome oficial ser Escola Secundária Antero de Quental), aproveito aqui para reproduzir o comentário que aí deixei.

Eu também sou do tempo da Escola Secundária Antero de Quental, sempre tratada por Liceu, e assim distinguida da outra Escola Secundária existente na altura, a Escola Secundária Domingos Rebelo, chamada por Escola.
Visitava o Liceu para estar com alguns amigos que por lá andavam, mas não o fazia com gosto e satisfação pois da passagem dos portões aos passeios pelos recreios os olhos não paravam de cair em nós.
Quando fui viver para Ponta Delgada, ainda antes de entrar na Escola e de visitar o Liceu, existiram dois movimentos que me marcaram: a "praxe" do Liceu e os movimentos do 6 de Junho (sobre os quais falarei no (Indis)pensáveis).
Infelizmente, ou pelo pouco tempo que passei nas ilhas, ou pela minha fraca memória para nomes, ou ainda pela menor qualidade dos professores face aos do tempo do João, recordo muito menos nomes do que os aqui citados.
Mas marcaram-me, pela sua qualidade pedagógica e pelo saber, a Sra. D. Cerília Carvalho, minha professora de Português no Colégio (São Francisco de Xavier), a Sra. D. Maria Luisa, professora de inglês no Colégio e na Escola, a Belinha (Isabel Domingues), que me deu aulas de Psicologia na Escola e com quem travei amizade e me preparou para os exames de Filosofia (e assim me fez gostar de Filosofia) para a entrada na Faculdade, a Teresa Almeida, mãe do ToZé, do :Ilhas, que tão bem já a evocou no Dia da Mãe, e que me deu aulas de Biologia, o Boanerges Botelho de Melo, um senhor das Furnas, muito pacato e tímido, sempre com as calças iguais, que nos dava aulas de Matemática, lembrando-me eu sempre dos seus quadros preenchidos com os teoremas e os corolários, e a Eduarda Silva Melo, que apenas me deu aulas de História durante uns meses no 11º ano, mas que tive bastante pena de não ter podido continuar a assegurar também a minha turma, pois foi a melhor professora de História que tive.
Muitos mais haverá para recordar e o André, meu companheiro de Escola (e num ano, de turma) certamente lembrar-se-á de outros.
Da Escola, recordo também, apesar de não ter sido sua aluna, a Marta Bradford, respeitada pelos seus pares e temida pelos seus alunos, provavelmente pela exigência que impunha dada a sua qualidade de saber.

Este comentário ficou por aqui mas muito mais haveria a recordar.
A Escola, a minha escola, era em frente ao Jardim António Borges - que abaixo também é referido noutro post - e para onde, nos meus 10º e 11º anos, íamos em grupo nos intervalos mais longos (os "furos") entre as aulas.
Fui para lá porque foi para onde foram a maior parte das meninas da minha turma (uma turma feminina) do Colégio São Francisco Xavier, havendo a possibilidade de nos mantermos todas juntas e de nos juntarmos às meninas e meninos que tendo andado no Colégio, tinham feito o Preparatório na Escola Preparatória Roberto Ivens e da Escola Preparatória Canto da Maia.
No 10º ano, a escolha de áreas de ensino ditou que os meus mais próximos amigos fossem para o Liceu, tendo eu permanecido na Escola porque escolhera a Àrea D, de Humanísticas.
No 7º ano, ano de estreia na Escola, andava sempre com as minhas amigas e colegas Laura e Tixa. Como éramos cada uma da sua altura, e como a Tixa fazia birra se não andava no meio, a conclusão era a que faziamos escadinha, passando a ser tratadas pelas manas Doroteia (da notável novela brasileira cujo nome já não me lembro mas que retratava, entre outros, um presidente de uma Câmara, Odorico Paraguassu, que queria construir um cemitério, e que, com o humor do meu Professor Universitário, Vasco Pereira da Silva, passou a ilustrar bastantes casos práticos na minha cadeira de Direito Administrativo).
A minha melhor turma foi a do 9º ano. Com a Laura e a Tixa, reuni-me àqueles que eram os meus amigos e companheiros do social. Entre eles estava o André, com quem vivi "estórias" engraçadas nesse ano. Desde a professora de Contabilidade - lembras-te do cheiro André? - às expulsões colectivas e idas para o Conselho Directivo, e aos meus relatos do futebol jogado pelo André com tanta mestria mas com mais cuidado ainda para que as calças não se sujassem.
Dos professores, não evoquei uma professora do 9º ano que também muito me marcou e com quem hoje, felizmente, mantenho contacto. A Margarida Paula, excelente professora de Português, mas que......um dia nos pôs a todos na rua. Era uma turma implacável, de facto.

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Dedicado ao Pratolini da Rua do Saco

Aos fins-de-semana, a reboque do Professorices, cá vamos nas açoreanisses, com mais um texto do meu pai (Carlos Afonso).

Em 1812 nasceu um cidadão, de seu nome António Borges da Câmara Medeiros, na freguesia da Fajã de Baixo, no Solar do Calço da Furna. Era irmão de Duarte Borges da Câmara de Medeiros que foi o 1º Visconde da Praia. Ficou conhecido simplesmente por António Borges, foi Governador Civil de Ponta Delgada de 8-9-1847 a 25-1-1849 e faleceu em Ponta Delgada em 19 de Março de 1879.
Não terá sido, porém, na política que se distinguiu. Tirou o curso de agricultura na célebre escola de Grignon (França) e o que o faz hoje ser lembrado, foi o seu gosto pela aclimatação de plantas exóticas em S.Miguel e a plantação de diversos jardins em Ponta Delgada, Sete Cidades, Feteiras e nas Furnas. O principal destes jardins, de 22 alqueires, é hoje o Parque da Cidade e é conhecido por “Jardim António Borges”. A pequena rua que então lhe dava acesso, tinha o curioso nome "Beco da Lombinha dos Cães", passando depois a chamar-se "Beco do Jardim António Borges" e finalmente "Rua de António Borges".
António Borges foi, efectivamente, uma figura curiosa. Muito viajado e de gosto requintado, reuniu em S. Miguel a melhor e mais completa colecção de pintura dos Açores, numa época em que muito poucos se encantavam com manifestações de Belas Artes e se limitavam à simples importação da Inglaterra, sem qualquer critério, de “coisas de arte” (artes decorativas), com que se pagavam parcialmente da exportação de laranja e que vinham para S.Miguel servindo de lastro, no regresso, aos navios exportadores da laranja. Conheço uma pequena parte desta magnífica colecção, em casa dum bom amigo que por herança a possui. Foi este mesmo António Borges que comprou em Roma o famoso quadro de Crivelli, único na Península e uma das actuais jóias do Museu Nacional de Arte Antiga.
António Borges era, para além do mais, um homem de invulgar força física. Um dia, passeando com a sua “graciosa e gentil” filha nas festas do Império do Senhor Espírito Santo da Rua do Saco, deparou-se com um boleeiro que, teimosamente, tentava subir a rua com o seu trem. Tal atitude gerou uma grande discussão com os populares que tentavam impedi-lo. António Borges tentou dissuadir o corajoso boleeiro que enfrentava a populaça e este, arrogantemente, respondeu-lhe: “O sr. vá bardamerda!”. De imediato a “graciosa e gentil” filha de António Borges, Elisa Augusta Borges da Câmara Medeiros, saltou sobre o infeliz dando-lhe um soco que o fez sair, voando, pelo lado oposto da boleia, vindo estatelar-se desamparado no chão! Explicou a “graciosa e gentil” menina a sua atitude: “Fiz isto para o papá não lhe bater, senão matava-o!”. Acabava de praticar, afinal, mais um gesto caridoso, salvando o intrépido boleeiro duma morte certa.
Numa outra ocasião, António Borges ao regressar da Austrália, onde fora estudar e comprar exemplares botânicos para os seus jardins, parou em Lisboa e, vestido com um extravagante fato colonial inglês, ornado com um frondoso chapéu de aba larga australiano, foi a um café pacatamente lanchar. Uns “bem falantes” e “sabidos” alfacinhas resolveram chacotear o “pacóvio” que tão extravagantemente se vestia. António Borges chamou calmamente o empregado de mesa e, partindo com facilidade um dos cantos do tampo de mármore da mesa, disse-lhe: “Entregue àqueles senhores este meu cartão de visita e diga-lhes que não me incomodem”. Os espertalhões abandonaram, apressadamente, o local.
Continentais que se cuidem que nós já temos a nossa dose. Mulher açoreana é assim!
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sábado, março 20, 2004

Amor

Aproveitando a ideia do André, do Pedro e da Mariana, aqui ficam algumas da minha selecção "amorosa"

Fascinação, Elis Regina

Sei que vou te amar, Elis Regina

Falando de Amor, Tom Jobim

Sozinho
, Caetano Veloso

Valsinha, Chico Buarque

Palpite, Adriana Calcanhoto

Amor I love you, Cássia Eller, Adriana Calcanhoto, Marisa Monte e Ana Carolina

Beloved One, Ben Harper

When you say nothing at all, Ronan Keating

Still loving you, Scorpions

I can’t help falling in love with you, UB 40

Always, Bon Jovi

Playground Love, Air

I don’t want to miss a thing, Aerosmith

Used to love her, Guns N’ Roses

Lady in Red, Chris Deburgh

I love you, I want you, Kelly Family

Tudo o que te dou, Pedro Abrunhosa


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sexta-feira, março 19, 2004

Pai

Ainda há dias, no Dia da Mulher, perguntavas aqui, em comentário: "Será que tenho de por saia e blusa para te lembrares de mim?".
Não precisas, claro. Quem me conhece sabe, e quem nos lê provavelmente já percebeu isso.
Lembro-me de ti todos os dias, embora admita que pode não parecer e sinta que não o sentes.
Não era preciso este dia, o Dia do Pai, para me lembrar de ti, e para te admirar.
Mas estes dias comemorativos são bons mais que não seja para fazermos sentir ao outro o que noutros momentos se calhar não fazemos.
Nem sempre fui a filha que merecias e sei que por vezes te desiludi e magoei. Por esses momentos, perdoa-me Pai.
Nem sempre fui a filha que te acatou e sei que por vezes te enfrentei. Pelas vezes que o fiz sem razão, dá o desconto da imaturidade e da rebeldia própria do estatuto de filha. Pelas vezes que o fiz com razão, pensa que o fiz para o teu bem.
Hoje estou longe de ti e não tenho nada para te presentear, a não ser com esta dedicatória.
Mas hoje e sempre Pai, longe ou perto, espero que sintas que para além da enorme admiração que tenho por ti, é para mim uma felicidade seres quem és e o Pai que és.

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Poema da Saudade

Embora me julguem só
ando sempre acompanhado
pois a saudade, por dó
anda comigo a seu lado.

Nem sempre a saudade é triste,
por vezes ri a saudade!
A tristeza só existe,
na saudade da saudade.

É triste passar na vida
vivendo só o presente
pois o viver só é vida
quando a saudade se sente.

Tantas estrelas ao longe,
no longe da mocidade!
São pedacinhos de luz
a cintilar na saudade.

Os versos do meu passado
na quadra da minha idade,
apenas tiveram rima
num poema de saudade.

Ver-te e não ter conseguido
falar contigo à vontade,
foi chegar sem ter partido,
ficando preso à saudade.

De tanto te recordar
nesta saudade sem fim,
tu és a própria saudade
a viver dentro de mim.

Fingindo que não importa
que me venhas procurar
entre os que passam procuro
ver-te na rua passar.


(Artur Lobato, Contraste)

Também eu tenho saudades tuas Avô "Batz".
Não te esqueço pelo Homem, mas sobretudo pelo Avô e Pai que foste.

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Porquê?

É evidente que havendo o dia da Mãe, o dia da Criança, o dia da Mulher, o dia dos Namorados, e até o Dia do Fumador, tinha de haver o dia do Pai.
Mas porquê hoje, 19 de Março?
Como país católico, escolhemos o dia de São José.
Mas ao que li, não foi nesse dia que as coisas começaram.

Tudo começou em 1909, quando Sonora Louise Smart Dodd, de Spokane, Washington, teve a ideia de escolher um dia especial para homenagear os pais, depois de ouvir um sermão no Dia da Mãe.
Sonora Dodd queria homenagear o seu pai, William Jackson Smart, um veterano da Guerra Civil. Depois da morte da mulher, em 1898, o Sr. Smart passou a cuidar sozinho dos seis filhos do casal, numa quinta no leste de Washington.
Já adulta, Sonora Dodd compreendeu a força e a generosidade demonstradas pelo seu pai ao criar os filhos sozinho. Com o apoio da Associação Ministerial de Spokane e da Associação de Jovens Cristãos, redigiu uma petição em que recomendava a aceitação de um Dia Nacional do Pai.
Graças aos esforços da Sra. Dodd, o primeiro Dia do Pai foi celebrado a 19 de Junho de 1910, em Spokane. Aproximadamente ao mesmo tempo, em vários locais por toda a América começava a comemorar-se um “dia do pai” e em 1924 o Presidente Calvin Coolidge apoiou publicamente a ideia de um Dia do Pai a nível nacional. Finalmente, em 1966, o Presidente Lyndon Johnson assinou uma proclamação presidencial, em que decretava o terceiro Domingo de Junho como o Dia do Pai. Em 1972, o Presidente Richard Nixon introduziu o Dia do Pai na lei.
A partir desta data, passou a homenagear-se não só o pai, mas todos os homens que representam a figura paterna, como o avô, o padrasto ou o tio.
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E quem sabe, escreveu...

Os nossos pais amam-nos porque somos seus filhos, é um facto inalterável. Nos momentos de sucesso, isso pode parecer irrelevante, mas nas ocasiões de fracasso, oferecem um consolo e uma segurança que não se encontram em qualquer outro lugar. (Bertrand Russel)

Se tu soubesses, quando deixamos de ter os nossos velhos, até que ponto lamentamos não lhes havermos dado mais do nosso tempo. (Alphonse Daudet)

Onde poderemos nós alguma vez encontrar alguém que tenha recebido seja de quem for mais benefícios do que aqueles que os filhos receberam dos pais. (Xenofonte)

Um pai vale mais do que uma centena de mestres-escola. (George Herbert)

Na verdade, poucos filhos são semelhantes ao pai; a maioria é inferior, poucos são melhores que ele. (Homero, Odisseia)

Um pai quando castiga, minha senhora, é sempre pai. (Jean Racine)

Ter um filho ingrato é mais doloroso / do que a mordida de uma serpente! (Shakespeare, Rei Lear)

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segunda-feira, março 15, 2004

Circunstâncias Especiais...

Gostei de ouvir o Senhor e, sobretudo, das tacadas para não responder à pergunta que não lhe era feita directamente: "vai ou não candidatar-se às Presidenciais?"
O Senhor não respondeu nem sim, nem não. Mas espantosamente hoje a SIC noticia qualquer coisa como "Cavaco nega tabu e admite candidatar-se em circunstâncias especiais".
O Senhor até afirmou que não gostava do termo tabu!!
Decididamente não me apetece acreditar nos jornalistas...

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domingo, março 14, 2004

Até breve

Já o lia pouco por aqui, mas parece que vou deixar de o ler aí.
Concordo perfeitamente com os motivos indicados pelo Nuno Santos (aliás, depois da saída do Luis Filipe Borges, agora aqui, aqui e também aqui, o Desejo Casar já não era o mesmo), mas só espero poder continuar a acompanhar o seu trabalho. Seja na blogosfera, seja no teatro, seja na televisão ou nos livros. Porque, para além de valer a pena conhecê-lo, vale a pena lê-lo.

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sábado, março 13, 2004

Chegados a este fim-de-semana, depois de algumas trocas de impressões, memórias e graças a propósito de açoreanisses no passado fim de semana, retomo histórias açorianas, da memória do meu pai.


Em 1942 houve um violento incêndio em Ponta Delgada, na então casa do Dr. Francisco Machado Faria e Maia , filho do grande amigo e companheiro de Antero, o 2º Visconde de Faria e Maia.
Amigos e familiares acorreram ao local, ajudando os bombeiros a salvar o que puderam. O meu Pai participou nesse esforço e contou-me que encontrara um amigo, escadas abaixo, salvando – imagine-se - uma vassoura! Muita coisa se perdeu nesse incêndio. Pratas, mobiliário, loiças, valiosos quadros de Duarte Faria e Maia e livros da preciosa biblioteca do Visconde de Faria e Maia.
Muitos dos salvados foram depositados na casa que lhe era contígua, pertencente à minha Tia Fernanda de Medeiros e Câmara, sobrinha do Dr. Francisco de Faria e Maia.
Quis o acaso que, 50 anos depois, o meu irmão e eu tivéssemos herdado essa casa e, num quarto meio abandonado, encontramos uma pilha de livros, velhos e poeirentos, que dividimos mais ou menos “ao quilo”.
Coube-me um pequeno livro “Felicidade pela Agricultura”, de António Feliciano de Castilho, editado em 1849 em Ponta Delgada, pela Tipografia da Rua das Artes, n.º 69 (mais uma das muitas que alteraram o nome e não sei onde era), quando da estadia do escritor aqui em S.Miguel, onde exerceu enorme influência na pouco culta sociedade local, sendo inclusive professor das primeiras letras de Antero.
Para meu espanto no frontispício do livro estava a fabulosa(!) assinatura ANTERO TARQUINIO QUENTAL ( ANTERO INSULANO). Na pág. 10, com uma letra de criança estava escrito: ESTA (segue o título impresso do livro: Felicidade pela Agricultura), PERTENCE A ANTERO TARQUINIO Q, estando o resto cortado pelo encadernador. No interior da capa, num pequeno rectângulo de papel azul, o carimbo A T QUENTAL seguido do nº 2. Na contra capa estava colado um papel, escrito com uma elegante caligrafia típica do séc. XIX, a seguinte inscrição (não textual): “Este livro pertenceu ao Antero de Quental e foi-lhe oferecido aos 10 anos pelo autor. Foi durante muitos anos o seu livro de cabeceira. Sempre que queria escrever, lia umas páginas deste livro que considerava um exemplo de boa prosa.



Como era possível aquele livro estar ali? Nunca me lembrei do incêndio.
Tempos depois o António Pracana, um culto e distinto bibliófilo, telefonou-me a dizer que desvendara o mistério. O livro fora oferecido pelo Antero ao Visconde de Faria e Maia em 1874 ou 1876. Estava descrito na mais completa e mais bem feita biografia do Antero, a do Dr. José Bruno Carreiro, no Vol. I, pág. 91 e 92, com honras de fotografias das assinaturas. Tratava-se da 1º assinatura conhecida do Antero e que estava dado como desaparecido num incêndio em 1942 ( Vol.I pág. 92 , Nota 9).
De imediato levei o livro à sua legítima proprietária, a Sr.ª D. Maria Luísa de Faria e Maia, neta do Visconde de Faria e Maia que emocionada me disse: “Sabes, este livro deve ter o seu lugar na livraria do meu Avô. Ele anotava com etiquetas os livros pertencentes a cada prateleira”. E para lá voltou 50 anos depois!
O mais curioso desta história é para mim, a desconhecida reverência do então fogoso Antero pelo seu afamado alvo na “Questão Coimbrã” (1865), reconhecendo-lhe - com “bom senso e bom gosto” - o seu mérito. Ou terá sido, a oferta do livro ao Dr. Vicente de Faria e Maia, uma prova da sua ruptura definitiva com o seu antigo Mestre, coincidindo com o início da sua crise pessimista (1874) em que entreviu a morte e se começaram a manifestar os sintomas da doença que o conduziu, inexoravelmente, até à morte?
Este precioso livro deve estar no que hoje resta da biblioteca do Visconde de Faria e Maia, na casa da sua sobrinha-trisneta, a minha muita querida Laura de Faria e Maia, casada com um irmão do Nuno Barata.


Na minha última estadia nos Açores estive na casa onde se deu este incêndio e falei dele...
Da minha parte, sei que após a morte da Sra. Dª. Maria Luisa Faria e Maia esta biblioteca foi já alvo de uma dedicada inventariação e catalogação que, infelizmente, não ficou porém terminada. A minha também muito querida amiga (madrinha e comadre) Laura sabendo desta história irá certamente procurar este exemplar onde ele deve encontrar-se e catalogá-lo com esta história.
Quanto à sociedade pouco culta, não tenho grande conhecimento e contacto tanto com a história do século XIX nos Açores e com de personagens dessa época que me permitam rebater a afirmação (para além daquelas que se tornaram notórias, como é Antero). Mas do que conheço do século XX, da história e de personagens com quem directamente privei ou não, o que sei é que a insularidade teve grandes vantagens, permitindo a atenção e dedicação à leitura e à cultura que a uns deram reputação e a outros, sem a dar, não os tornou menos cultos e proeminentes. Pelo contrário! Aliás, veja-se o exemplo disso mesmo em blogues tão pertinho de nós....

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sexta-feira, março 12, 2004

Morte

A consequência de actos como os de ontem é para muitos a Morte que não procuravam (e que alguns procuram).

"Deixai-os vir a mim, os que lidaram;
Deixai-os vir a mim, os que padecem;
E os que cheios de mágoa e tédio encaram
As próprias obras vãs, de que escarnecem...

Em mim, os Sofrimentos que não saram,
Paixão, Dúvida e Mal, se desvanecem.
As torrentes da Dor, que nunca param,
Como num mar, em mim desaparecem." -

Assim a Morte diz. Verbo velado,
Silencioso intérprete sagrado
Das coisas invisíveis, muda e fria,

É, na sua mudez, mais retumbante
Que o clamoroso mar; mais rutilante,
Na sua noite, do que a luz do dia.


(Antero de Quental)

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quinta-feira, março 11, 2004

Terrorismo

Uma das coisas que me sensibilizou foi ver cartazes de procurados da ETA no aeroporto de Barcelona.
As notícias lida nos jornais ou vistas na TV tornaram-se, naquele momento, demasiado reais. Assumiram uma forma e sensação que nunca antes tinha sentido.
É a estúpida realidade de que, quando acontecem ou quando nos são mais próximas, as coisas são sentidas de outra forma.
Hoje, entre outras coisas, penso no sofrimento de quem sente na pele os atentados terroristas e em quem tem de acudir às vítimas.
E mais uma vez abomino as ânsias de poder, a utilização de qualquer meio para atingir os fins, a indiscriminada intolerância e a incoerência de atitudes.
Por quem sofreu nas explosões de Madrid...


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terça-feira, março 09, 2004

Traz outro amigo também...

Amigo
Maior que o pensamento
Por essa estrada amigo vem
Não percas tempo que o vento
É meu amigo também

Em terras
Em todas as fronteiras
Seja benvindo quem vier por bem
Se alguém houver que não queira
Trá-lo contigo também

Aqueles
Aqueles que ficaram
(Em toda a parte
Todo o mundo tem)
Em sonhos me visitaram
Traz outro amigo também

(José Afonso, em memória de Miguel Ramos)
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segunda-feira, março 08, 2004

Hoje também é o meu dia...

Acho que, para além do Dia do Fumador (que por acaso calha num dia memorável), este é o único dia que também posso dizer: é meu!
Hoje penso em todas as Mulheres - que lutaram, que sofreram, que vigaram, que tropeçaram, conhecidas e desconhecidas - e congratulo-as por dignificarem o género.
Mas, em especial, penso e agradeço à aquelas a quem devo a existência e que conheci. À minha Mãe, às minhas avós e a duas das minhas bisavós.

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domingo, março 07, 2004

Toponímias

Hoje o João, açoreano desterrado que não esquece as suas origens e, parece-me, cultiva-as muito bem, dedicou alguns posts aos Açores.
Para além das "estórias" engraçadas que se desenvolveram também nos comentários, entre eles o Nuno referiu que o nome da Vila Nova do Corvo já não era esse.
O meu pai, indignado com as alterações dos nomes, em especial de ruas, mandou-me este texto que aqui publico (e sem pagar direitos de autor)

Desde há muito que me espantam, porventura por atavismo insensato, as alterações que os diferentes elencos camarários fazem à toponímia das ruas das cidades, para homenagear figuras de destaque regional e nacional. Não que seja injusto homenagear cidadãos prestantes. Mas haverá necessidade de alterar nomes, tantas vezes seculares, que fazem parte do nosso património cultural, tanto como os edifícios, os livros e os monumentos?
Que se diria se, por absurdo, alguém decidisse chamar ao Terreiro do Paço, Praça Dr. Mário Soares? Ou ao Rossio, Praça Dr. Freitas do Amaral? Ou ainda à Avenida da Liberdade, de Dr. Santana Lopes? Estou certo que não só não nos riríamos como, com certeza, até seria desprestigiante para os próprios homenageados, a sua imposição à tradição secular de todo um país.
Em Ponta Delgada tal atitude tem sido tomada desde há muito, apagando um passado de que não nos devíamos envergonhar, como até descaracterizando alguns dos aspectos mais típicos em termos de linguagem que possuímos.
Ponta Delgada, como todas as outras cidades do País felizmente, tem-se expandido e não faltam ruas novas para homenagear os que se distinguem, sem alterar a toponímia antiga da cidade, cimentada pelo tempo e que nos referencia a um passado já longínquo e a pessoas de que todos nos devíamos orgulhar.
A antiga Rua Nova da Matriz foi a que Antero subiu, vindo da Loja do Férin, onde comprou a pistola com que se suicidaria, horas depois, no Campo de S. Francisco. Hoje chama-se António José de Almeida, ilustre Presidente da República, mas que eu saiba Ponta Delgada pouco ou nada lhe deve.
A Rua do Gaspar, por viver ali no séc. XVI um afamado “cirurgião” do tempo, Mestre Gaspar, passou a chamar-se Rua Dr. Bruno Tavares Carreiro, um também ilustre médico e autonomista da 1ª geração de Autonomistas, que em finais do séc. XIX ali habitava e que assistiu também ao Antero nos seus últimos momentos. Não terá sido o famoso Mestre Gaspar um ilustre cidadão que mereceu, para os contemporâneos, honras de nome de rua que se manteve assim durante 400 longos anos? Não será ofender a sua memória e a dos nossos ancestrais que assim o glorificaram?
A Rua de S.Brás, a principal da então vila de Ponte Delgada por nela ficar a Ermida de S. Brás, passou a chamar-se Machado dos Santos, um republicano ilustre que faleceu em Lisboa em 1921. Terá alguma coisa a ver com a nossa cidade?
A Rua Direita, continuação da Rua de S. Brás foi alterada, já no séc. XX, para Rua Marquês da Praia e Monforte, um ilustre micaelense sem dúvida, mas cuja memória não ficaria diminuída se a “sua” rua ficasse noutro local.
A Rua do Desterro, onde fica a bonita Ermida do Desterro assim chamada desde o séc.XVII, chama-se agora Coronel Silva Leal, seguramente um exemplar chefe de família e um prestante cidadão.
A Rua do Frias, referia-se ao Licenciado António de Frias, 2.º padroeiro do Convento de Santo André de PD. Com a sua mulher fundou Recolhimento de Sant'Ana em PD no séc. XVIII. Passou a rua a chamar-se, desde 1919, Rua José Maria Raposo do Amaral, ilustre político do Séc. XIX, Presidente da Câmara, etc. Muita gente ainda hoje a conhece pelo antigo nome. Ficaria José Maria Raposo do Amaral honrado por apagar a memória de António de Frias?
A Rua do Valverde assim chamada por existir no local, desde a colonização a frondosa ribeira do Valverde, agora pomposamente chamada de Manuel Inácio Correia, outro dos ilustres beneméritos da cidade. Não haveria outra rua a que lhe fosse dado o nome?
A 2ª Travessa da Conceição, antiga Travessa do Paço por referência ao Paço dos Condes da Ribeira Grande, foi onde Antero escreveu a sua Carta Autobiográfica a Wilhelm Storck que preparava a edição alemã dos seus Sonetos, em 14 de Maio de 1887 , quando de uma estadia na casa n.º 9 (ainda existente), que pertencia ao seu primo, dilecto amigo e companheiro de grandes discussões filosóficas, Sebastião d’Arruda da Costa Botelho. Agora a rua chama-se Comandante Jaime de Sousa, capitão de fragata e deputado por Ponta Delgada que, segundo ouvi ao Dr. Hugo Moreira, terá prometido deixar a Ponta Delgada a sua fortuna se dessem o seu nome a uma rua. A fortuna nunca terá chegado, mas o nome lá ficou depois de ter passado, fugazmente, pela Rua dos Clérigos.
Que dizer de outros nomes tão típicos como a Rua do Pau do Conde (do pau da bandeira do Conde da Ribeira Grande), a Lombinha dos Cães, o Calço da Má Cara, a Rua da Loiça, a Rua do Frade, a Rua do Saco, a Rua do Poço (do poço do pastel, pertencente a Pêro de Teive), o Canto da Fontinha, o Foral das Cornetas, a Canada do Vintém, etc...
Moro num local que, quando para cá vim, se chamava Quatro Canadas, por nele convergirem precisamente quatro canadas. Ao que parece os meus vizinhos não gostavam de morar em canadas. Mudaram-lhe o nome. Hoje moro no “importante” Caminho da Abelheira de Baixo e, nem eu nem eles mudamos nada. Nem a canada. Só estamos mais velhos.
Houvesse um investigador de História que nos conseguisse desvendar os segredos dessa toponímia antiga.


Tendo o privilégio de poder escrever aqui, sem ser em comentário, respondo-te pai.
Não sei qual o nome que tinha a praça que sempre conheci, e ainda chamo, de Praça do Areeiro, mas que hoje se chama Francisco Sá Carneiro. Por muito que o pais lhe devesse a honra do seu nome figurar numa rua (julgo que darem o seu nome a um aeroporto foi de mau gosto, mas enfim) está no rol das que mencionas.
Quanto às ruas de Ponta Delgada, curiosamente muitas das que referes eu ainda trato pelos nomes antigos. E isto mesmo antes de terem tido a iniciativa (que - não sendo a ideal, pois era melhor que não tivessem alterado os nomes- eu até acho boa) de terem colocado as placas com os nomes antigos a par dos novos.
Já agora, e para os continentais que aqui vêm (e corrijam-me os açoreanos se estiver errada) canada é um caminho de ladeado de muros altos.

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De volta ao blog...porquê?

Já ontem tinha escrito um post com este título e sobre este tema, mas um qualquer clique fez com que fosse tudo ao ar.
E ficou no ar até hoje (e hoje são reconduzidas as mesmas ideias, com outra forma de exposisão pois já nem me lembro bem do como escrevi ontem).
Porque é que eu volto aqui?
Eu gosto mesmo é de ler os outros blogues, de comentar quando posso (com comentários mais tímidos nos blogues de desconhecidos e mais ousados nos das pessoas que conheço), mas acabei por criar este blogue que, com mais ou menos assiduidade vou alimentando. Porquê?
Já depois de andar pela blogosfera entretida - lendo coisas que me ensinavam qualquer coisa ou que me faziam reflectir ou simplesmente rir - criei este blog num ímpeto, misto de curiosidade informática e vontade de partilhar coisas mundanas que no quotidiano me passem pela cabeça.
Depois de instalar o sistema de comentários e de ter as visitas assíduas de pessoas de quem muito gosto e que muito prazer tive de ver conhecerem-se ou contactarem por esta via (estou a falar do meu pai e o João, e agora também o meu pai e a Canuca e o EL), este blog só passou a ter sentido como partilha com certas pessoas. Pessoas de bem, conhecidas ou desconhecidas, que aqui vindo, têm algo de bom para deixar (uma ideia, uma opinião, um texto, uma graça). Foi também pelos comentários que conheci alguns bloguers e os seus blogs de que, em alguns casos, me tornei visitante assídua.
Mas será vontade de expor tudo e a todos?
Sinceramente penso que não, pois acho que não é pela palavra escrita que me exponho ou explico melhor. Talvez por timidez, talvez por não gostar de exposição pública. Por outro lado, não tenho a disponibilidade para pôr aqui tudo o que me suscitaria uma conversa ou reflexão, nem quero ter a obrigação de o pôr. Este blog é e, será (penso), alimentado por aquilo que, no momento em que abro o back-office desta página, me apetece desabafar, comentar ou contar.
E nunca foi para todos - outra vez a timidez e aversão a publicidades, talvez - porque só alguns próximos, ou alguns distantes e desconhecidos, tiveram a possibilidade de, desde o início, conhecer esta "casa". E só aos poucos, tendo vindo a desvendar a sua existência.
Mas pouco a pouco, por este blog existir e por através dele chegar a outros, faz sentido continuar a bolgar e, sobretudo, a navegar por essa blogosfera.
Falo disto porque foi por causa deste blog que reencontrei outro velho amigo, o André, que se rendeu a este vício, e ainda bem!
E foi por causa deste blog que o meu pai reencontrou o João, um seu velho amigo de infância.
E é por andar na blogosfera que me comecei a revelar. Por ter visto que o André "linkou" os Frangos para Fora e vice-versa, acabei por contar ao Aziz sobre esta página (e acabarei por falar nisto aos restantes Frangos, se eles não vierem aqui antes).
Também é por andar na blogosfera que vou vendo como se vai dando, e pensando, outro André em Nova York.
E é por andar na blogosfera que vou conhecendo pessoas conhecidas, como o Nuno e o Pedro, cujas opiniões, humor e talento desconhecia e que muito me têm surpreendido.
Por tudo isto, vale a pena andar na blogosfera e blogar.

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sábado, março 06, 2004

E da BLOGotinha não vêm só jogos. Foi lá que encontrei este bonito post do Canto do Melro.

Era uma vez um Menino. Um Menino de três anos. Não era como outro qualquer pois o Menino apesar de ter uma Mãe e um Pai era um Menino diferente. Era um Menino da cor das suas ilhas. Um Menino Azul e Verde. A “tetrologia de Fallot” coloria-o de Azul dos céus e do mar, enquanto que o “Síndroma de LLargil” lhe conferia a cor verde dos pastos e das lagoas. O Menino vivia com a Mãe, o Pai e a Avó numa casinha branca no cimo da canada, tinha vasos e canteiros e o olhar perdia-se em S. Mateus, a pequena povoação de pescadores a que pertencia. O Menino gostava de brincar e correr mas cansava-se rápido, o seu coração pequenino não aguentava as batidas e a vontade de querer ser como os outros Meninos.
O Emanuel, “Deus connosco”, não compreendia porque que era diferente dos outros meninos, porque que tomava tantos “remédios”, porque tinha tantos aparelhos no seu quarto e porque que tantas e tantas vezes tinha os Senhores da Bata Branca à sua cabeceira, porque a sua Mãe aprendeu a cuidar dele como cuidavam no Hospital para que ele não estivesse tanto tempo longe dela.
Os dias passavam difíceis e iguais nas Ilhas de Bruma. Enquanto o Emanuel lutava diariamente para viver e correr pela vida como qualquer criança, a Mãe Helena lutava, como uma guerreira helénica, com os senhores da Ilha de Bruma, apenas queria conseguir para o seu Menino uma Vida à beira-mar plantada apesar das duas doenças raras e fatais. As difíceis e quase inteiras noites de vigília davam-lhe forças para continuar na sua luta em busca de um pouco de felicidade, na luta contra o sistema fechado e mesquinho de monopólios.
Enquanto isso, na povoação dos pescadores, o Pai bebia de mais, por vezes ia com outras mulheres, ou chegava a casa e tratava mal aquela que, sempre vigilante, lhe guardava os sonhos mas, mesmo assim, ele adorava o Pai que o tratava com carinho apesar da brusquidão de homem rude.
De 6 em 6 meses o Menino Azul voava das ilhas de bruma para um Hospital de Meninos pequeninos "Hospital D. Estefânia", submetia-se a exames sem fim para saber como estava o seu pequenino coração e todos os órgãos que o vão mantendo agarrado a nós.
Ao conhecer o Menino Azul todo o dramatismo dos meus problemas eram irrisórios, diria mesmo que era uma afronta contra a vida e cobardemente dei um pouco de mim àquela gente simples. Dessa viagem à ilha lilás trouxe na mochila uma lição de vida e um quadro a carvão para me recordar a mulher que quis ser mãe, a força e a coragem de uma pessoa simples e encantadora que foi agraciada com um filho, o sofrimento, o dom da fala em verso e do traço na tela.
A amizade fortaleceu-se apesar de um imenso mar a separar e, pela noite dentro, como mulher e amiga, na simples pensão da baixa ouvia as suas dúvidas, as lutas, as desilusões, as fraquezas, a sua vontade de vencer, sequei as lágrimas com palavras de coragem e de incentivo, como se fosse a luta por uma causa minha deixei-lhe os meus pensamentos e tentei abrir portas, deitar algumas pétalas de rosa no caminho. Jamais esquecerei as lágrimas de felicidade estampadas no rosto quando, na 1ª vinda à capital para os exames médicos de rotina, lhe ofereci flores na despedida, num abraço apertado disse-me “obrigada amiga é a primeira vez que me oferecem flores”. Um dos muitos momentos que me senti mesquinha por ter tanto da vida e ver que à minha volta existem pessoas que tem tão pouco e vivem com um sorriso do tamanho do mundo.
Um dia o Menino Azul voou definitivamente das ilhas para uma cidade do Minho onde vive feliz a cada dia que passa. Veio com a sua “guardadora de sonhos e de vida” tentar viver a vida digna que a Constituição proclama no seu artigo 69º «As crianças têm direito à protecção da Sociedade e do Estado, com vista ao seu desenvolvimento integral» e no seu artigo 71º «O Estado obriga-se a realizar uma política racional e de tratamento, reabilitação e integração dos deficientes, etc, etc.».
Um dia a Mãe do Menino Azul cansou-se de lutar contra o monopólio dos barões das Ilhas de Bruma. Não quis que o seu Menino da cor do céu e do mar das ilhas que ama chegasse à costa em algas verdes e azuis, tão verdes como os pastos das ilhas e tão azuis como o céu no meio do atlântico porque a partir desse dia, nas praias de areia negra surgiriam também algas vermelhas tão vermelhas como o sangue que lhe corre nas veias.
A Mãe e o Menino Azul e Verde da cor das Ilhas de Bruma viverão nos corações de todos os que conhecem e vivem a sua história. Talvez um dia, um dia muito longínquo, deitarei pétalas, pétalas de rosas brancas nas praias do norte para se misturarem às algas, às muitas algas azuis, verdes e vermelhas que existirão em todo o Atlântico.
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segunda-feira, março 01, 2004

Um babete, sff...

... para o Nuno, que pelos vistos hoje é bébé e que pelos vistos (mas não visto por mim, porque a televisão pública açoreana deve estar-se a lixar para quem, em terras continentais lusas, tenha interesse em ver alguma coisa do que ela entende transmitir) fez boa figura na "têvê"
Parabéns!


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