quinta-feira, setembro 30, 2004

Ponta Delgada – Vandalismo Cultural ou Desenvolvimento? - III

Mas voltemos a Ponta Delgada. Vila em 2 de Maio de 1499, por alvará de D. Manuel, foi elevada a cidade em 2 de Abril de 1546, por alvará de D. João III.
A sua estrutura urbana manteve-se sem grandes alterações até ao séc. XIX. A toponímia da malha urbana submete-se a referências arquitectónicas (conventos, ermidas, fontanários) ou a famílias e personalidades de destaque. Só a partir de 1785 é que as ruas começaram a ter nomes identificativos e só em 1808 se iniciou a numeração das casas. Já referi a sua estrutura fusiforme desenvolvendo-se a partir das 2 ruas terminais, em três eixos principais que atravessam paralelamente à linha da costa toda a cidade.
A rua de nascente, iniciava-se na Pranchinha que Frutuoso já chama Rua da Calheta ou da Calheta de Pero de Teive e corresponde hoje às Rua da Boa Nova, Rua Eng.º José Cordeiro e Rua João de Melo Abreu.
A secular toponímia de "Pranchinha" deriva do seu antigo e verdadeiro nome de "Rua do Panchina" ou "Rua dos Panchinas", apelido de uma família que morava "a seguir ao ilhéu de Rosto de Cão, perto de uma ponta de biscoito", como escreveu Frutuoso, que menciona os cinco irmãos Sebastião Roiz Panchina, Pedro Anes Panchina, Bernardo Anes Panchina, Jorge Vaz Panchina e João Anes Panchina, filhos de outro João Anes Panchina. Tiveram estes Panchinas numerosa geração e já em finais do século XVI haviam abandonado o apelido, que ficaria sempre na nomenclatura da rua onde primitivamente residiram. Os documentos mais antigos em que se menciona a "Rua da Panchina" remontam a 1570, mas já em princípios do século XIX começa a verificar-se a corrupção de "Panchina" em "Pranchinha". ( in José Andrade, A Face Humana da Toponímia de Ponta Delgada, Ed. Da CMPD, 2001)

Carlos F. Afonso



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