domingo, setembro 12, 2004

Elogio da Morte

Que nome te darei, austera imagem,
Que avisto já num ângulo da estrada,
Quando me desmaia a alma prostrada
Do cansaço e do tédio da viagem?

Em teus olhos vê a turba uma voragem,
Cobre o rosto e recua apavorada...
Mas eu confio em ti, sombra velada,
E cuido perceber a tua linguagem...

Mais claros vejo, a cada passo, escritos,
Filha da noite, os lemas do Ideal,
Nos teus olhos profundos sempre fitos...

Dormirei no teu seio inalterável,
Na comunhão da paz universal,
Morte libertadora e inviolável!


Antero de Quental (que procurou a morte em 11.09.1891)



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