sexta-feira, dezembro 31, 2004

Ano Novo

O rei chegou e já mandou tocar os sinos
Na cidade inteira
É pra cantar os hinos
Hastear bandeiras e eu que sou menino muito obediente
Estava indiferente
Logo me comovo
Pra ficar contente
Porque é Ano Novo
Há muito tempo que essa minha gente vai vivendo a muque
É o mesmo batente, é o mesmo batuque Já ficou descrente
É sempre o mesmo truque
E quem já viu de pé
O mesmo velho ovo Hoje fica contente porque é Ano Novo
A minha nega me pediu um vestido novo e colorido
Pra comemorar eu disse: Finja que não está descalça
Dance alguma valsa
Quero ser seu par
E ao meu amigo que não vê mais graça
Todo ano que passa
Só lhe faz chorar
Eu disse: Homem, tenha seu orgulho
Não faça barulho
O rei não vai gostar
E quem for cego veja de repente
Todo o azul da vida
Quem estiver doente
Saia na corrida
Quem tiver presente
Traga o mais vistoso
Quem tiver juízo
Fique bem ditoso
Quem tiver sorriso
Fique lá na frente
Pois vendo valente e tão leal seu povo
O rei fica contente
Porque é Ano Novo


(Chico Buarque)

Também eu me comovo com a entrada num Ano Novo.
Desejo a todos um Excelente 2005.
Se puderem, façam em cada dia de 2005 uma das recomendações que aqui se fazem. Certamente será um ano melhor!
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quinta-feira, dezembro 30, 2004

Ponta Delgada – Vandalismo Cultural ou Desenvolvimento? - XXXI

O Campo de S. Francisco, um vasto espaço quadrangular, é demarcado a norte pelo Convento da Esperança e extremidade sul da vulgarmente conhecida Avenida Roberto Ivens, oficialmente Avenida de Capelo e Ivens, aberta a 7-4-1866 à custa da cerca do Convento, e que liga o lado norte do largo à Rua Lisboa, antiga Rua Formosa, aberta em 1860 em terrenos cedidos pelo Marquês da Praia e Monforte.

Em data que se desconhece exactamente, mas cerca de 1535, teve início o Convento de Nossa Senhora da Esperança, de freiras clarissas da primeira regra, dado por terminado na sua feição primitiva em 1545, era Ponta Delgada ainda vila. Quanto respeite à edificação desta casa religiosa e sua igreja, a primeira de monjas que a futura cidade conheceu, esconde-se num quase completo anonimato. Sobre os fundadores, Frei Diogo das Chagas, Frei Agostinho de Monte Alverne e Francisco Afonso de Chaves e Melo são praticamente coincidentes em considerá-lo edificado à custa do povo com auxílio de nobres, nomeadamente D. Filipa Coutinho, viúva do 5.º Capitão do Donatário, Rui Gonçalves da Câmara, segundo de nome, que antes de falecer em 20-10-1535 procedera às primeiras diligências. Frei Diogo das Chagas, porém, fundamentando-se na demanda que as freiras moverão ao 6.º Capitão do Donatário, Manuel da Câmara, filho do anterior, pela sua pretensão ao padroado do convento, precisa mesmo que a fundação foi das primeiras seis ou sete freiras que se lhe acolheram a partir de 1541, vindas de Vale de Cabaços, e não da Viúva de Rui Gonçalves da Câmara e mãe do pretendente, falecida em 1551 ou 1552, e nele sepultada com seu marido. (Nestor de Sousa, A ARQUITECTURA RELIGIOSA DE PONTA DELGADA NOS SÉCULOS XVI A XVIII, Universidade dos Açores Ponta Delgada 1986.).


Roberto Ivens nasceu em Ponta Delgada, a 12 de Junho de 1850, descendendo de família inglesa que se fixou em S. Miguel por finais do século XVIII. Aos oito anos de idade, partiu para estudar no continente português, onde concluiu o curso naval, sendo promovido a guarda-marinha em 1870. Desde então, prestou relevantes serviços em Moçâmedes, S. Tomé, Congo e Cabinda, bem como nos mares das Américas do Norte e do Sul.
Em 1877, estando a servir na estação de Angola, reuniu-se a Hermenegildo Capelo e Alexandre Serpa Pinto para com eles empreender uma exploração científica ao interior do continente africano. Regressado a Portugal em 1880, granjeando já o devido reconhecimento da comunidade científica internacional, foi enviado pelo Governo para nova expedição a África, em 1884/85, ainda acompanhado de Capelo.
Foram então alvo de grandiosas e solenes festas nacionais por todo o Portugal. Ponta Delgada prestou-lhe também a devida homenagem, erguendo um busto inicialmente colocado no Relvão e transferido, por decisão camarária de 1950, para a "Avenida Roberto Ivens", que começou a ser aberta com a demolição do muro da cerca do Convento da Esperança em 1886. ( in José Andrade, A Face Humana da Toponímia de Ponta Delgada, Ed. da CMPD, 2001).



Fachada primitiva do Convento da Esperança


Fachada actual do Convento da Esperança embelezada no séc. XVIII pelo acrescento dos janelões e da cimalha com volutas, sem terem a pretensão de o desfigurar!


Local do suicídio de Antero, no banco sob a ancora com a palavra Esperança, situada junto à cerca do Convento da Esperança, foi colocada a monstruosa estátua da Madre Teresa da Anunciada que deveria ficar bem escondida dentro do Convento

Carlos F. Afonso
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Quero é viver

Vou Viver
Até quando eu não sei
Que me importa o que serei
Quero é viver

Amanhã
Espero sempre um amanhã
E acredito que será
Mais um prazer

E a vida
É sempre uma curiosidade
Que me desperta com a idade
Interessa-me o que está pra vir

E a vida
Em mim é sempre uma certeza
Que nasce da minha riqueza
Do meu prazer em descobrir
Encontrar, renovar, vou fugir ao repetir

(António Variações)
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terça-feira, dezembro 28, 2004

Avaliações

O final do ano faz-se de avaliações, ponderações, projectos.
Avaliando a minha blogodependência, assim vou eu:

56 points is in the 51 through 80 precent.You are a dedicated weblogger. You post frequently because you enjoy weblogging a lot, yet you still manage to have a social life. You're the best kind of weblogger. Way to go!
E vocês, já se avaliaram?
Não se assustem com os resultados porque o aviso está lá: These results are just for fun. Do not sue me. Have a sense of humour.
(Via o meu amigo André na sua Sala de Fumo)
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segunda-feira, dezembro 27, 2004

Terramotos e Tsunamis

Este texto devia ter sido publicado no passado dia 1 de Novembro.
Por um qualquer problema informático ele não me chegou, e também nesse dia eu andava em melhores ocupações.
Hoje, a propósito do terramoto, seguido de maremoto, sentido em vários países na Ásia ontem, de que nos chegam imagens e notícias trágicas e impressionantes, aqui fica em memória de todas as vítimas destes fenómenos.
Os efeitos do terramoto de 1755 nos Açores

Embora escassas, várias são as informações que nos chegaram dos efeitos do terramoto de Lisboa. No dia 1º de Novembro pelas 10 horas da manhã, três enormes “tsunamis” se formaram que arrasaram os terrenos baixos das ilhas de S.Miguel; Terceira e Faial.
Em Ponta Delgada o mar subiu pelas ruas da cidade estragando muitos edifícios mas não havendo notícia de mortes.
Em Angra o mar galgou por três vezes até à Praça Velha deixando barcos em seco e destruindo todos os que se encontravam no Porto de Pipas. No refluxo destruiu a muralha da Alfandega e levou muitas das madeiras que ali se encontravam.
Na Vila da Praia demoliu 15 casas e a Ermida de S.Tiago em Porto Martins, destruindo terras, vinhas e muros e provocado o falecimento de pelo menos 5 pessoas.
No Faial igual descrição é feita só que é referido que o mar entrou em terra três vezes e que no refluxo desceu tanto que os barcos “quase batiam com as quilhas no fundo do mar”!
O povo, como sempre, atribuiu à justiça divina o fenómeno, como castigo pelos depravados costumes dos homens, rezando missas, procissões, laus perene, etc.
A notícia do terramoto só chegou a 25 de Janeiro de 1766 com a chegada do primeiro navio vindo de Lisboa.
(Arq. dos Açores, vol. IV pág. 350-353)
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Porque é que o Natal não deve ser todos os dias?

Porque dias como o de 26 de Dezembro de 2004 na Ásia não deviam existir.
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Térmitas

A Câmara Municipal de Ponta Delgada e as Térmitas

Contaram-me que a C.M.P.D. não reconhece – e ignora oficialmente – a existência de térmitas que infestam todo o centro da cidade. Compreende-se esta atitude porque, se o reconhecesse, não haveriam verbas para fogos de artifício, nem para a Comissão de Cultura convidar a Lili Caneças, o Pedrinho Leitão e o Castelo Branco para as noites de fim-de-ano.
Se calhar é mais um dos meus, já anunciados, mal entendidos.
É muito provável que saiba e, com incontestável bom senso, fazendo todos os fogos depressa e agora, não fará correr riscos aos munícipes, fazendo as suas experiências pirotécnicas mais tarde quando todos estiverem a viver em tendas de campanha… Deve ser!


E isto tudo apesar das notícias divulgadas nos jornais locais (algumas indisponíveis on-line) e aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui,aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, e em tantas páginas de portais, sendo o problema inclusivamente da consciência do partido que governa a CMPD.

Para mais informação sobre como distinguir as térmitas das formigas vejam aqui.




Carlos F. Afonso
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sábado, dezembro 25, 2004

A Missa do Galo

'Tá mal...
Saltitar da 2: para a RTP-Açores pôs o Bispo a gaguejar, como eco de si próprio.

'Tá bem...
Pelo menos vimos e demos a conhecer ao Continente a bonita Igreja Matriz da Madalena do Pico ao que parece recentemente aberta ao público após ter sido sujeita a obras de reconstrução.
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sexta-feira, dezembro 24, 2004

Natal

Eu costumo dizer que não gosto do Natal.
Não é mentira, mas também não é totalmente verdade.

Não gosto de saber que eu tenho Natal mas que nem todos têm.
Não gosto de já não ter quem tinha à minha volta, sobretudo os meus avós maternos e a minha bisavó (avó materna do meu pai).
Não gosto de não acreditar no mistério da sineta do velhote que nunca víamos mas que era sempre tão generoso.
Não gosto de não sentir o frio de Lisboa e de ter todos amontoados nos sofás e na sala pequena, mas aconchegante, a beber do anis e dos licores feitos em casa.
Não gosto de me ter alheado de algumas vivências cristãs da época, pela descrença nas palavras e nos actos da Igreja.
Não gosto de ir às compras e muito menos gosto de me ver no meio de multidões insensíveis que automaticamente rumam às prateleiras e balcões das lojas.

Mas não é por tudo isto e pela nostalgia do que para mim foi o Natal, e já não é, que eu vou deixar de viver o Natal.

Porque gosto de saber que consigo voltar a casa nesta época.
Porque gosto de passar a noite, jantar e serão, com a familia restrita, primeiro, e com a família mais alargarda, depois, que apenas nesta altura consegue reunir-se de uma só vez. E porque quero aproveitar cada Natal destes até que mais entes queridos, inevitavelmente, me deixem.
Porque gosto de parar, e de poder parar, para pensar nos outros.
Porque gosto de dar e receber presentes, e o Natal é apenas o pretexto para isso. Não houvera Natal e gostaria de os dar e receber noutra qualquer altura.
Porque
Porque gosto de saber que gostar um pouco do Natal é dar uma alegria imensa à minha Mãe.

Para todos os que me lêem aqui (os que eu sei que lêem, mesmo sem comentarem), para os que comentam, para os meus amigos, para o que nem isso são, para todos, enfim, um Excelente Natal.
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terça-feira, dezembro 21, 2004

Liberdade

Ai que prazer
não cumprir um dever.
Ter um livro para ler
e não o fazer!
Ler é maçada,
estudar é nada.
O sol doira sem literatura.
O rio corre bem ou mal,
sem edição original.
E a brisa, essa, de tão naturalmente matinal
como tem tempo, não tem pressa...

Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.

Quanto melhor é quando há bruma.
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!

Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol que peca
Só quando, em vez de criar, seca.

E mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças,
Nem consta que tivesse biblioteca...


(Fernando Pessoa)
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Ponta Delgada – Vandalismo Cultural ou Desenvolvimento? - XXX

A Rua Caetano de Andrade continua-se pela Rua de Luís Soares de Sousa, antiga Rua de S. Francisco, terminando no lado sul do Campo de S. Francisco.
Luís Soares de Sousa nasceu, em Ponta Delgada, a 16 de Outubro de 1846, falecendo, nesta mesma cidade, em Fevereiro de 1901. Oriundo de família pobre, iniciou a sua vida como empregado de mercearia e acabou por tornar-se num dos mais importantes industriais e comerciantes de Ponta Delgada.
Foi um dos principais benfeitores do Asilo de Mendicidade de Ponta Delgada, inaugurado em 24 de Junho de 1876, doando-lhe a sua casa na rua que ostenta hoje o seu nome. Foi, ainda, um dos maiores entusiastas do projecto de construção do Caminho de Ferro de S. Miguel, abortado com o início da 1ª Grande Guerra, em 1914.
Autonomista convicto, fez parte da primeira Comissão Autonómica, saída do comício realizado, no velho Teatro Micaelense, em 19 de Fevereiro de 1892. Foi também vereador da Câmara Municipal de Ponta Delgada, co-fundador da Fábrica de Tabaco Estrela e grande impulsionador das festas do Senhor Santo Cristo. A designação toponímica “Rua Luís Soares de Sousa” foi atribuída por deliberação camarária de Abril de 1901. ( in José Andrade, A Face Humana da Toponímia de Ponta Delgada, Ed. da CMPD, 2001).
Carlos F. Afonso
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segunda-feira, dezembro 20, 2004

Dúvida

Porque será que para o PS a questão da co-inceneração está, do ponto de vista politico, ultrapassada?
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domingo, dezembro 19, 2004

A seguir

Na falta de um guia publicitariamente descomprometido, nas visitas a São Miguel vou passar a ter em atenção as recomendações do Lapas.
Mas isto lá mais para o Verão, porque desta feita o jantares serão mais familiares e acolhedores. Em casa de cada um, pois claro.
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sábado, dezembro 18, 2004

Menino na Ervilhaca

Antes da visita à Feira do Livro, visitei, um por um, os arranjos de Natal da minha Mãe.
A dedicação e arte estão em cada monte de bolas que enfeitam uma tijela, ou em cada pico de onde saem fitas largas e ondulantes, ou na árvore de Natal este ano enfeitada de flores brancas.
Mas o melhor é o Menino na ervilhaca, que nos passou a acompanhar nos Natais em São Miguel.
As sementes redondas pretas são postas de molho durante três dias e, em seguida, vão a grelar, na terra ou sobre algodão molhado ,às escuras para ficar branca e não verde.
Ao fim de 3, 4 dias começa a nascer a planta, que ao fim de 10 dias já atinge os 20 centímetros e começa a tombar permitindo depois arranjos como este.



Este ano em vez do trigo a acompanhar a ervilhaca foi posta alpista.
E para completar a tradição só faltam as tangerinas e as camélias, que vão ser postas do dia de Natal.
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Feira do Livro

Acabada de chegar, uma das primeiras visitas foi à Feira do Livro da Tabacaria Açoreana, sobre a qual o Francisco já tinha escrito.
O espaço é tenebroso e os livros estão mal expostos e mal tratados. No rés do chão eu, que não sofro de problemas respiratórios, senti a falta de ar que imagino ser a que sentem os asmáticos. Será possível que se tenham livros num sitio onde as bolhas estalam nas paredes, sem ter um desumidificador sequer?
Sem um nivel ou variedade que mereça novas visitas, a verdade é que é de aplaudir a época do ano em que se realiza a feira porque, quer queiramos quer não os livros continuam a ser das melhores ofertas para dar, e receber.
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sexta-feira, dezembro 17, 2004

Cheguei para partir

Andei afastada uns dias da blogosfera porque outros valores se ergueram.
Mas volto para partir para o refúgio onde vou aproveitar as "mijinhas do menino", que é como quem diz os licores ou outras bebidas que nos servem os amigos nesta altura do ano, na ilha.
Até lá.
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No 1º aniversário do :Ilhas

Os meus parabéns aos amigos do :Ilhas pelo aniversário e os meus agradecimentos pela oferta do livro com os seus textos mais significativos. A minha fugaz passagem pela Bertrand, à revelia do conhecimento da Pátria, foi a demonstração possível do muito apreço e admiração pelo seu trabalho.
Se “Há um ano seria totalmente impensável”, neste momento é absolutamente “indispensável”.
Um grande abraço a todos.
Carlos F. Afonso
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quarta-feira, dezembro 15, 2004

Ponta Delgada – Vandalismo Cultural ou Desenvolvimento? - XXIX

Estamos na Rua Dr. Caetano de Andrade Albuquerque.
Caetano de Andrade Albuquerque nasceu em Roma, no dia 21 de Janeiro de 1844 e faleceu em Ponta Delgada, no dia 15 de Março de 1900. Formou-se em Direito, na Universidade de Coimbra, em 1869, e doutorou-se no ano seguinte. Em 1881, foi eleito deputado pelo círculo de Ponta Delgada e, mais tarde, Presidente da Comissão Vinícola Micaelense. Em 1890/92, foi Presidente da Câmara Municipal de Ponta Delgada e provedor da Santa Casa da Misericórdia. Fez ainda parte, por mais de uma vez, do Conselho do Distrito, da Junta Geral, da Comissão Distrital, da Comissão Autonómica e da Comissão de Vigilância. Em 1893, foi eleito Par do Reino. Com Aristides Moreira da Mota e Mont'Alverne de Sequeira, integrou a subcomissão encarregue de elaborar a proposta de base da futura legislação autonómica do século XIX. Comendador das Ordens de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa e de Cristo, era director político do jornal "Correio Micaelense", onde desenvolveu os seus "Ensaios de Agricultura", e sócio da Sociedade de Geografia e da Sociedade de Agricultura. Foi, ainda, procurador, pelo Concelho de Ponta Delgada, à primeira Junta Geral Autónoma de Ponta Delgada, eleita em 1895. ( in José Andrade, A Face Humana da Toponímia de Ponta Delgada, Ed. da CMPD, 2001)

Esta rua era a antiga Rua da Trindade, onde, na esquina sul, existia a Ermida e Recolhimento da Trindade do séc. XVI, anexas ao palacete do Dr. Caetano de Andrade.
Gaspar Frutuoso a ele se refere como : “que o generoso fidalgo António de Sá mandou fazer, como oratório, dentro do circuito de suas casas.”
A Ermida foi transferida dum local nobre da cidade para o Beco do Jardim António Borges, antigo Beco da Lombinha dos Cães, na zona norte da cidade e num local escondido, talvez para esconder a vergonha que deveriam sentir os que cometeram tal acto. O Recolhimento foi pura e simplesmente demolido!


Ermida da Trindade


Desenho do Dr. Luís Bernardo Leite de Ataíde


Para substituir a bonita Ermida e Recolhimento foi construído um edifício de escritórios do mais refinado mau gosto


António Borges da Câmara Medeiros nasceu na freguesia da Fajã de Baixo, no Solar do Calço da Furna, a 14 de Junho de 1812. Agraciado com o título de Oficial Cavaleiro, exerceu o cargo de Governador Civil de Ponta Delgada. Faleceu a 18 de Março de 1879. Dedicou grande parte da sua vida aos problemas da aclimatação de plantas exóticas e foi o primeiro responsável pela plantação do jardim botânico que hoje ostenta o seu nome, como Parque da Cidade. A mais importante zona verde de Ponta Delgada, com 22 alqueires de dimensão, foi adquirida pela Câmara Municipal em 1957 e oficialmente inaugurada a 11 de Setembro. Neste jardim foi colocado, no ano seguinte, um busto de António Borges, da autoria do escultor Numídico Bessone. A designação toponímica “Rua de António Borges” foi atribuída por deliberação camarária de 18 de Novembro de 1960. Já antes, a 17 de Outubro de 1929, o “Beco da Lombinha dos Cães” passara a designar-se “Beco do Jardim António Borges” ( in José Andrade, A Face Humana da Toponímia de Ponta Delgada, Ed. da CMPD, 2001)

Carlos F. Afonso
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segunda-feira, dezembro 13, 2004

Lisboa...

...treme e eu, serenamente conversando, não senti nada.
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domingo, dezembro 12, 2004

Como é bom...

...ir aqui e matar saudades das comidas das ilhas. Lapas, morcela e, como quase sempre, o polvo.
Desta vez, maior do que a delícia da comida, foi a simpatia da companhia.
E ver que tudo é e está tão igual ao que supunha ser e estar.
Um encontro adiado que valeu a pena um furo na dieta.
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sexta-feira, dezembro 10, 2004

Ponta Delgada – Vandalismo Cultural ou Desenvolvimento? - XXVIII

A Rua do Açoriano Oriental ao atravessar a actual Rua Conselheiro Luís Bettencourt de Medeiros e Câmara, antiga Rua do Sampaio - que liga no sentido norte–sul o eixo sul da cidade ao eixo mediano, aqui Rua Marquês da Praia e Monforte – continua-se pela Rua Dr. Caetano de Andrade Albuquerque, que visitaremos no próximo post.

Luís Bettencourt de Medeiros e Câmara nasceu em Ponta Delgada, a 21 de Fevereiro de 1873. Formado em Direito pela Universidade de Coimbra, manteve-se na sua terra natal até à morte, em 1939. Procurador Régio junto da Relação dos Açores, começou por ser chefe da secretaria da Câmara Municipal e notário e chegou a exercer as funções de Administrador do Concelho de Ponta Delgada e de Governador Civil. Grande impulsionar do Movimento Autonomista de 1922-28, aceitou, então, a presidência da Junta Geral, em que se manteve durante cerca de seis anos. Assim redigiu o Decreto de 16 de Fevereiro de 1928, que satisfez as aspirações insulares, e organizou os Serviços Distritais.
A designação toponímica "Rua Conselheiro Dr. Luís Bettencourt de Medeiros e Câmara" foi atribuída por deliberação camarária de 16 de Agosto de 1939. Em 1973, por ocasião das comemorações do centenário do seu nascimento, foi descerrado um busto do Conselheiro Dr. Luís Bettencourt de Medeiros e Câmara, na rua que hoje tem o seu nome, junto ao Palácio da Justiça e frente à casa onde viveu. ( in José Andrade, A Face Humana da Toponímia de Ponta Delgada, Ed. da CMPD, 2001)

No começo do séc. XIX residia naquela rua o capitão Manuel Furtado de Sampaio, nascido em 1757 e falecido em 1819, morgado e bisavô de Manuel Leite da Gama , casado com D. Maria da Glória de Medeiros Vaz Carreiro, morgada dos Remédios, Id., ib. Manuel Vaz Carreiro foi juiz do Mar e da Alfândega, sogro de Duarte Borges, através de quem passaram os vínculos para a família do Marquês da Praia e Monforte (Informação colhida do Dr. João Bernardo Oliveira Rodrigues).

Carlos F. Afonso
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quinta-feira, dezembro 09, 2004

De um Umbigo...um café

Veio do um bigo meu o retrato do café que bebo porque preciso. Bom dia!

You're a Classic Cup 'O' Joe.
You're a Classic Cup 'O' Joe!


Que tipo de Café são vocês?

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MELO ANTUNES – Um Sonhador Pragmático



«Foi o mais coerente e talvez o mais importante dos actores do processo revolucionário português» Ramalho Eanes

Acabo de ler, num fôlego, a excelente série de entrevistas de Maria Manuela Cruzeiro a Melo Antunes, gravadas de 1995 a 1997 e agora lançadas em livro pelo Centro de Documentação 25 de Abril da Universidade de Coimbra, em edição da Editorial Notícias e do Círculo de Leitores.
Foi com imensa curiosidade que revivi o percurso desta figura mítica da minha juventude, mas confesso que a sua leitura nada acrescentou à admiração que sempre tive pelo seu carácter íntegro, pela sua lucidez e poderosa inteligência. Nunca procurou a ribalta, nunca se pôs em bicos de pés para nada, não tirou benefício de nada – bem pelo contrário só se prejudicou pelas posições que tomou quer antes, quer durante quer depois do 25 de Abril. Saiu da Revolução com as mãos tão limpas como quando entrou.
Verdadeiro ideólogo do MFA, assumiu com mais facilidade os seus próprios erros do que as vitórias que conseguiu durante a Revolução, com a humildade própria dos verdadeiramente grandes e despretensiosos. Socialista convicto, atribuiu como prioridade a Democracia, deixando ao povo português a livre escolha dum sistema político, mesmo que contrário às suas convicções ideológicas.
Outros, branqueando a sua própria conduta e responsabilidades, aproveitaram-se da sua modéstia e desapego do poder, para colheram os louros que seguramente lhe pertenciam e ocuparam lugares que, tivesse ele outras ambições, lhe estariam inevitavelmente reservados.
Uma simples frase sua, proferida logo no rescaldo do 25 de Novembro e que tão má aceitação teve na altura, salvou o PC da destruição e restitui-nos a democracia que, doutra maneira, seria hoje apenas uma caricatura.
Que Mário Soares o tenha ignorado, não me espanta. Por detrás da sua aparente bonomia esconde-se uma vaidade desmedida e a incapacidade de se rever no seu verdadeiro lugar, aceitando uma subalternização do seu papel na Revolução.
Espanta-me contudo que Jorge Sampaio, seu Secretário de Estado no Ministério dos Negócios Estrangeiros, supostamente seu amigo e ideologicamente próximo, o esqueça, recusando-lhe a homenagem que o Portugal Democrático lhe deve, ao mesmo tempo que homenageia figuras menores e desconhecidas ou até figuras que atentaram contra a própria Democracia!
Curiosamente é sob e égide da pasta de Paulo Portas que, em 2004, é promovido a título póstumo!!!
Não chegou a fazer 80 anos, morreu com apenas 66, mas recordo-o nesta hora nas palavras de José Manuel Barroso: “A nossa democracia deve-lhe muito. Deve-lhe quase tudo.”
Poderá ser ingrata a memória dos homens, mas seguramente a História lhe fará justiça…

Carlos F. Afonso
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quarta-feira, dezembro 08, 2004

Carícia

Há beijos na beira-mar,
baila na praia um segredo...
ondas brancas a quebrar
a solidão num rochedo.

Vai uma onda, outra vem
abrandar a pedra dura...
pudesse eu encher também
a tua alma de ternura!...


(Artur Lobato, "...em Ogiva")

Esta é a carícia que deixo a minha Mãe, a onda que me abranda.
Este é o dia dela e o de todas as mães que mantém tradições.
Um grande dia para todas.


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Amiga Oculta

No escritório onde trabalho a brincadeira do amigo oculto é tradição.
Se houver alguém que não conheça, a brincadeira consiste em tirarmos uma rifa com o nome (no nosso caso são as iniciais com que habitualmente somos "rotulados") de alguém cá da casa a quem temos de ofertar algo no jantar de Natal. Se desvendamos ou não ao nosso "amigo oculto", antes ou depois de lhe darmos o presente, que somos nós o doador fica ao critério de cada um.
Eu gosto sempre de dizer a quem dei, depois de dar, e de saber quem me deu, depois de receber, porque as coisas pelas coisas só por si não têm qualquer valor e o abrir do mistério permite que passemos a associar as coisas às pessoas.
No jantar de Natal o momento da oferenda é sempre divertido. A curiosidade de ver a reacção dos "amigos ocultos" ao abrirem os presentes, as tentativas de descobrir quem é que ofertou quem, e as surpresas e alegrias quando passamos a saber de quem fomos o alvo.
Este ano o jantar ainda não foi, a tradição mantém-se para esse dia mas a diversão já começou.
À tradição foi associada a outra brincadeira que é a de fazermos previamente uma quadra ou poema sobre o nosso "amigo oculto" e à medida que vão sendo entregues as quadras elas são publicadas na nossa "Intranet".
Inicalmente, parecendo-me engraçada a ideia, não imaginei que pudesse ter grande adesão ainda que motivada pelos prémios que se prometem para o melhor autor e para o melhor adivinho dos retratados.
Mas a adesão está a ser entusiástica e surpeendentemente vêm-se a descobrir veias poéticas e carácteres observadores e com humor como eu não esperava.
Ontem fui "presenteada" com a publicação da quadra a meu respeito. Senti-me de tal forma retratada até às entranhas que, pelo que é dito, com a correcção e a forma em que o é, só podia vir de alguém próximo não só no trabalho como na amizade.
Descobri imediatamente, e ela não o conseguiu negar apesar da resistência inicial, que era a minha querida Mafalda.
A Mafalda é, das muitas pessoas com quem trabalho, uma das poucas que considero Amiga.
Com uma nobreza de carácter pelos valores que a enformam, é inteligente, conversadora, sensível, meiga, atenciosa e divertida entre outros atributos.
Desde cedo a acolhi como pupila e desde então não parámos de trabalhar juntas e, como é a trabalhar, as "turras" são inevitáveis porque ambas não escondemos o que somos e como somos.
Mas o que fica não são as "turras", mas sim o sorriso franco e bonito da Mafalda, que tudo revela e que tão bem nos faz sentir.
Aqui fica, um dos melhores presentes que vai marcar este Natal:
Deslocou-se para o continente
Deixando a terra do açor
Fez bem, naturalmente!
Veio receber o nosso amor

Na [...] há já muito tempo
Na “litigation” de corpo e alma
Estagiários sempre acolhendo
Nem sempre com toda a calma

Com um certo mau feitio
Mas uma sénior especial
Defende e ataca com muito brio
Advogada como ela não há igual

Não só forte no tribunal
Mas de espírito igualmente
Deixou de se fazer mal
Vivendo saudavelmente

Com ela muito aprendi
Nesta vida tão stressante
Alguns ralhetes ouvi
Mas nada de alarmante

Vamos lá ver se a loiraça
Consegue adivinhar
Quem lhe escreve esta laracha
Sempre, sempre a brincar
(Mafalda Vaz Pinto)
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terça-feira, dezembro 07, 2004

Mário Soares

Goste-se da pessoa e do político, ou não, é um marco da nossa História e da nossa democracia.
Para que não nos lembremos apenas aquando ou após a sua morte, aqui fica esta homenagem.


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Oportunidade é...

... ser publicado hoje no Diário da República o Decreto-Lei n.º 228/2004. que aprova a orgânica do Ministério do Turismo.


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Rapidez e Eficiência é...

.. um Tribunal decidir antes de um Presidente da República.

(parece-me que será a única vez que vou constatar e afirmar que um Tribunal foi mais rápido do que o que quer que seja...)
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Ponta Delgada – Vandalismo Cultural ou Desenvolvimento? - XXVII


Aspecto actual da Praça do Município. À esquerda, a Rua de Santa Luzia, antiga Rua da Carreira e à direita a Rua do Açoreano Oriental, antiga Rua da Cadeia Velha


Pelo lado norte do edifício da Câmara temos a Rua do Açoriano Oriental, toponímia de 1910 à antiga Rua da Cadeia, e aqui retomamos o eixo sul da cidade.
O primeiro cruzamento para norte é a Rua do Brum que a liga no sentido sul-norte com a Rua Machado dos Santos.
António de Brum, o Velho, senhor de grande fortuna, parece estar na origem toponímica da "Rua do Brum". Escreveu Gaspar Frutuoso que "António de Brum, que ora vive nesta Ilha, terá nela de renda como três mil cruzados; e além disto pode ter, em trato e negócio de pastel e de outras coisas, mais de trinta mil cruzados; terá também nas ilhas de baixo mais de dois mil cruzados de renda. E afora isto trazia uma demanda em Sevilha, que já venceu, a qual importava vinte e dois mil cruzados. Afirma-se que vale sua fazenda duzentos mil cruzados". Era conhecido como António de Brum, o Velho, para distinguir de seu filho, com nome semelhante, igualmente possuidor de património assinalável. Consta ainda em `Saudades da Terra' que "António de Brum Silveira, seu filho, possui vinte moios de renda, que hoje com sua mulher, filha do licenciado Bartolomeu de Frias, os quais juntos com granjearia que tem, valerá toda vinte mil cruzados. Seu irmão, Gaspar de Brum, quase terá outro tanto, segundo dizem"


Carlos F. Afonso
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quarta-feira, dezembro 01, 2004

Humor

Não me parece que precisemos de um próximo Primeiro Ministro para existir inspiração paara humor.
O momento já é, para a blogosfera, de boa disposição:

Sampaiês II, no Sol na Eira;

Acabou-se a mama, Santana, por Pombo Incontinente;

Portugal is a Santana Free Zone, por Vitor Lazlo, do Frangos para Fora;

YIUPIII!, no um bigo meu;

Verdade de La Palice, no Pé de Meia;

1 de Dezembro, no Avatares de Um Desejo;

Sampaio, caneco..., por Keizer Sozer, de A Loira não gosta de mim;

Travessia, por Dylan T., de A Loira não gosta de mim;

Sendo tantos os posts, nem dá para seleccionar, no Barnabé;

As frases certeiras, antes da exposição das ideias, no Blasfémias;

Bad Time, por Animal, do Blogue dos Marretas;

Violência Famililar, por Waldorf, do Blogue dos Maretas;

Diálogos na incubadora, por Luis Rainha, do Blogue de Esquerda;

Até a Natureza festeja a boa nova, por José Mário Silva, do Blogue de Esquerda;

O bébé está a salvo, no BlogoExisto;

Uns breves minutos de alegria..., no DesBlogeador de Conversa;

Caiu, no Endividado;

Algumas tiradas certeiras também, no Fórum Comunitário;

Muito e muito, no Jumento;

O Governo caiu de véspera, no Fio de Ariana;

Mas a queda tem desvantagens, no Último reduto
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As alternativas

Desde que foi eleito, o PR dispõe, entre outras alternativas de dois poderes: dissolver a Assembleia da República, para o que precisaria de ouvir os partidos nela representados e o Conselho de Estado (artigo 133º alínea e) da Constituição da República Portuguesa) ou demitir o Governo o que só poderia fazer se tal se tornasse necessário para assegurar o regular funcionamento das instituições democráticas, ouvido o Conselho de Estado (artigos 133º alínea g) e 195º, nº 2, ambos da Constituição da República Portuguesa).
Em Julho, perante o pedido de demissão do Governo na sequência da intenção de Durão Barroso de aceitar o convite para a candidatura a Presidente da Comissão Europeia - intenção esta louvada pelo PR - o PR anunciou-nos que tinha duas alternativas: nomear um novo Primeiro Ministro, indicado pelo partido maioritário na Assembleia da República, ou dissolver a Assembleia da República, e convocar eleições gerais antecipadas.
Decidiu-se pela primeira em nome da estabilidade política, significando esta, nas suas palavras, a existência das condições de regularidade, legitimidade e autenticidade democráticas.
Não se justificaria dissolver a AR porque o Governo saído das eleições parlamentares continava a dispor de consistência, vontade e legitimidade políticas.
Não se justificaria dissolver a AR porque a maioria teria garantido poder constituir um novo Governo, que permitiria dar continuidade e cumprir o Programa do anterior, comprometendo-se a assegurar, até ao final da legislatura, o mesmo apoio que deu ao governo cessante.
Se foi patente a vontade de bem fundamentar tal decisão em critérios que legalmente resultam da mais pura interpretação do sistema parlamentar, também me pareceu evidente que ou PR não tinha confiança no novo Primeiro Ministro que ia convidar a formar Governo ou o PR não estava intimamente convencido da bondade da sua decisão.
"Fique claro que é por estas vias de continuidade e pelo rigor indispensável que passarão os critérios permanentes da minha avaliação das condições de manutenção da estabilidade governamental; e utilizarei a plenitude dos meus poderes constitucionais para assegurar que esses critérios serão respeitados. Sempre terei por inaceitáveis viragens radicais nestas políticas, pois foram elas as sufragadas pelo eleitorado"
E no final, apontou ainda o PR outros factores que, ponderados, aconselharam a sua decisão: "a situação económica e financeira, com uma retoma ainda incipiente, uma consolidação orçamental longe de estar garantida e uma situação social particularmente gravosa".
Ontem, com um orçamento (bom ou mau) prestes a ser aprovado, com os aumentos da função pública a serem negociados e com uma retoma longe de estar garantida, anuncia-se que o PR comunicou ao PM a sua decisão de ouvir os partidos políticos com representação parlamentar e o Conselho de Estado, nos termos do art. 133º, alínea e) da Constituição da República.
Ou seja, o PR ainda não decidiu dissolver, nem dissolveu a AR, mas caminha para esta alternativa.
Ao contrário do Anjo, eu não vou dizer que concordo com os pressupostos porque do ponto de vista puramente formalista não tendo o PR comunicado quais são, nem os conheço.
Aguardo, pois, pela fundamentação formal do PR.
Parece-me, porém que a dissolução agora não pode ter outro fundamento formal que a não má governação e a instabilidade governamental.
Na decisão de Julho, e no seu comunicado, o PR denotou desde logo que aguardaria por um pretexto para a dissolução da AR. E tal pretexto, de acordo com o comunicado de Julho, poderia ser a instabilidade governamental.
Por outro lado, uma vez que se mantém todas as restantes razões apontadas na decisão de Julho (no sentido aí definido: legitimidade e vontade da maioria de onde saiu o Governo), resta só aquilo que também vinha expressamente referido na decisão de Julho: a consistência do Governo e a estabilidade governamental.
Ora, ao ter salvaguardado em Julho a instabilidade governamental (o não regular funcionamento do Governo, instituição democrática) para em qualquer momento poder, no seu juízo discricionário, dissolver a AR em vez de, no seu poder vinculado, demitir o Governo, o PR evidencia aquela que sempre foi a sua vontade: as eleições antecipadas e não a mera mudança de Governo saído da mesma maioria.
O PR nunca quis perder, pois, a possibilidade de permitir que o PS fosse a alternativa de Governo.
Tudo o que de formal o PR diga para agora fundamentar a sua decisão será correcto, justificado e até bonito, mas a verdade é que também existiam razões legais e correctas para ter sido tomada esta decisão anteriormente.
A seguir?
As alternativas serão, em abstracto, todos os partidos que se apresentem a eleições.
Em concreto creio que ganhará o PS, e espero que não se coligue.
É uma boa alternativa?
O que é bom em democracia é haver alternativa. Se a alternativa é boa ou má, isso depende do que em concreto for feito porque já nem as ideologias servem para diferenciar os partidos, sobretudo PSD e PS.
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