quinta-feira, dezembro 30, 2004

Ponta Delgada – Vandalismo Cultural ou Desenvolvimento? - XXXI

O Campo de S. Francisco, um vasto espaço quadrangular, é demarcado a norte pelo Convento da Esperança e extremidade sul da vulgarmente conhecida Avenida Roberto Ivens, oficialmente Avenida de Capelo e Ivens, aberta a 7-4-1866 à custa da cerca do Convento, e que liga o lado norte do largo à Rua Lisboa, antiga Rua Formosa, aberta em 1860 em terrenos cedidos pelo Marquês da Praia e Monforte.

Em data que se desconhece exactamente, mas cerca de 1535, teve início o Convento de Nossa Senhora da Esperança, de freiras clarissas da primeira regra, dado por terminado na sua feição primitiva em 1545, era Ponta Delgada ainda vila. Quanto respeite à edificação desta casa religiosa e sua igreja, a primeira de monjas que a futura cidade conheceu, esconde-se num quase completo anonimato. Sobre os fundadores, Frei Diogo das Chagas, Frei Agostinho de Monte Alverne e Francisco Afonso de Chaves e Melo são praticamente coincidentes em considerá-lo edificado à custa do povo com auxílio de nobres, nomeadamente D. Filipa Coutinho, viúva do 5.º Capitão do Donatário, Rui Gonçalves da Câmara, segundo de nome, que antes de falecer em 20-10-1535 procedera às primeiras diligências. Frei Diogo das Chagas, porém, fundamentando-se na demanda que as freiras moverão ao 6.º Capitão do Donatário, Manuel da Câmara, filho do anterior, pela sua pretensão ao padroado do convento, precisa mesmo que a fundação foi das primeiras seis ou sete freiras que se lhe acolheram a partir de 1541, vindas de Vale de Cabaços, e não da Viúva de Rui Gonçalves da Câmara e mãe do pretendente, falecida em 1551 ou 1552, e nele sepultada com seu marido. (Nestor de Sousa, A ARQUITECTURA RELIGIOSA DE PONTA DELGADA NOS SÉCULOS XVI A XVIII, Universidade dos Açores Ponta Delgada 1986.).


Roberto Ivens nasceu em Ponta Delgada, a 12 de Junho de 1850, descendendo de família inglesa que se fixou em S. Miguel por finais do século XVIII. Aos oito anos de idade, partiu para estudar no continente português, onde concluiu o curso naval, sendo promovido a guarda-marinha em 1870. Desde então, prestou relevantes serviços em Moçâmedes, S. Tomé, Congo e Cabinda, bem como nos mares das Américas do Norte e do Sul.
Em 1877, estando a servir na estação de Angola, reuniu-se a Hermenegildo Capelo e Alexandre Serpa Pinto para com eles empreender uma exploração científica ao interior do continente africano. Regressado a Portugal em 1880, granjeando já o devido reconhecimento da comunidade científica internacional, foi enviado pelo Governo para nova expedição a África, em 1884/85, ainda acompanhado de Capelo.
Foram então alvo de grandiosas e solenes festas nacionais por todo o Portugal. Ponta Delgada prestou-lhe também a devida homenagem, erguendo um busto inicialmente colocado no Relvão e transferido, por decisão camarária de 1950, para a "Avenida Roberto Ivens", que começou a ser aberta com a demolição do muro da cerca do Convento da Esperança em 1886. ( in José Andrade, A Face Humana da Toponímia de Ponta Delgada, Ed. da CMPD, 2001).



Fachada primitiva do Convento da Esperança


Fachada actual do Convento da Esperança embelezada no séc. XVIII pelo acrescento dos janelões e da cimalha com volutas, sem terem a pretensão de o desfigurar!


Local do suicídio de Antero, no banco sob a ancora com a palavra Esperança, situada junto à cerca do Convento da Esperança, foi colocada a monstruosa estátua da Madre Teresa da Anunciada que deveria ficar bem escondida dentro do Convento

Carlos F. Afonso
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