E da BLOGotinha não vêm só jogos. Foi lá que encontrei este bonito post do Canto do Melro.
Era uma vez um Menino. Um Menino de três anos. Não era como outro qualquer pois o Menino apesar de ter uma Mãe e um Pai era um Menino diferente. Era um Menino da cor das suas ilhas. Um Menino Azul e Verde. A “tetrologia de Fallot” coloria-o de Azul dos céus e do mar, enquanto que o “Síndroma de LLargil” lhe conferia a cor verde dos pastos e das lagoas. O Menino vivia com a Mãe, o Pai e a Avó numa casinha branca no cimo da canada, tinha vasos e canteiros e o olhar perdia-se em S. Mateus, a pequena povoação de pescadores a que pertencia. O Menino gostava de brincar e correr mas cansava-se rápido, o seu coração pequenino não aguentava as batidas e a vontade de querer ser como os outros Meninos.
O Emanuel, “Deus connosco”, não compreendia porque que era diferente dos outros meninos, porque que tomava tantos “remédios”, porque tinha tantos aparelhos no seu quarto e porque que tantas e tantas vezes tinha os Senhores da Bata Branca à sua cabeceira, porque a sua Mãe aprendeu a cuidar dele como cuidavam no Hospital para que ele não estivesse tanto tempo longe dela.
Os dias passavam difíceis e iguais nas Ilhas de Bruma. Enquanto o Emanuel lutava diariamente para viver e correr pela vida como qualquer criança, a Mãe Helena lutava, como uma guerreira helénica, com os senhores da Ilha de Bruma, apenas queria conseguir para o seu Menino uma Vida à beira-mar plantada apesar das duas doenças raras e fatais. As difíceis e quase inteiras noites de vigília davam-lhe forças para continuar na sua luta em busca de um pouco de felicidade, na luta contra o sistema fechado e mesquinho de monopólios.
Enquanto isso, na povoação dos pescadores, o Pai bebia de mais, por vezes ia com outras mulheres, ou chegava a casa e tratava mal aquela que, sempre vigilante, lhe guardava os sonhos mas, mesmo assim, ele adorava o Pai que o tratava com carinho apesar da brusquidão de homem rude.
De 6 em 6 meses o Menino Azul voava das ilhas de bruma para um Hospital de Meninos pequeninos "Hospital D. Estefânia", submetia-se a exames sem fim para saber como estava o seu pequenino coração e todos os órgãos que o vão mantendo agarrado a nós.
Ao conhecer o Menino Azul todo o dramatismo dos meus problemas eram irrisórios, diria mesmo que era uma afronta contra a vida e cobardemente dei um pouco de mim àquela gente simples. Dessa viagem à ilha lilás trouxe na mochila uma lição de vida e um quadro a carvão para me recordar a mulher que quis ser mãe, a força e a coragem de uma pessoa simples e encantadora que foi agraciada com um filho, o sofrimento, o dom da fala em verso e do traço na tela.
A amizade fortaleceu-se apesar de um imenso mar a separar e, pela noite dentro, como mulher e amiga, na simples pensão da baixa ouvia as suas dúvidas, as lutas, as desilusões, as fraquezas, a sua vontade de vencer, sequei as lágrimas com palavras de coragem e de incentivo, como se fosse a luta por uma causa minha deixei-lhe os meus pensamentos e tentei abrir portas, deitar algumas pétalas de rosa no caminho. Jamais esquecerei as lágrimas de felicidade estampadas no rosto quando, na 1ª vinda à capital para os exames médicos de rotina, lhe ofereci flores na despedida, num abraço apertado disse-me “obrigada amiga é a primeira vez que me oferecem flores”. Um dos muitos momentos que me senti mesquinha por ter tanto da vida e ver que à minha volta existem pessoas que tem tão pouco e vivem com um sorriso do tamanho do mundo.
Um dia o Menino Azul voou definitivamente das ilhas para uma cidade do Minho onde vive feliz a cada dia que passa. Veio com a sua “guardadora de sonhos e de vida” tentar viver a vida digna que a Constituição proclama no seu artigo 69º «As crianças têm direito à protecção da Sociedade e do Estado, com vista ao seu desenvolvimento integral» e no seu artigo 71º «O Estado obriga-se a realizar uma política racional e de tratamento, reabilitação e integração dos deficientes, etc, etc.».
Um dia a Mãe do Menino Azul cansou-se de lutar contra o monopólio dos barões das Ilhas de Bruma. Não quis que o seu Menino da cor do céu e do mar das ilhas que ama chegasse à costa em algas verdes e azuis, tão verdes como os pastos das ilhas e tão azuis como o céu no meio do atlântico porque a partir desse dia, nas praias de areia negra surgiriam também algas vermelhas tão vermelhas como o sangue que lhe corre nas veias.
A Mãe e o Menino Azul e Verde da cor das Ilhas de Bruma viverão nos corações de todos os que conhecem e vivem a sua história. Talvez um dia, um dia muito longínquo, deitarei pétalas, pétalas de rosas brancas nas praias do norte para se misturarem às algas, às muitas algas azuis, verdes e vermelhas que existirão em todo o Atlântico.
Era uma vez um Menino. Um Menino de três anos. Não era como outro qualquer pois o Menino apesar de ter uma Mãe e um Pai era um Menino diferente. Era um Menino da cor das suas ilhas. Um Menino Azul e Verde. A “tetrologia de Fallot” coloria-o de Azul dos céus e do mar, enquanto que o “Síndroma de LLargil” lhe conferia a cor verde dos pastos e das lagoas. O Menino vivia com a Mãe, o Pai e a Avó numa casinha branca no cimo da canada, tinha vasos e canteiros e o olhar perdia-se em S. Mateus, a pequena povoação de pescadores a que pertencia. O Menino gostava de brincar e correr mas cansava-se rápido, o seu coração pequenino não aguentava as batidas e a vontade de querer ser como os outros Meninos.
O Emanuel, “Deus connosco”, não compreendia porque que era diferente dos outros meninos, porque que tomava tantos “remédios”, porque tinha tantos aparelhos no seu quarto e porque que tantas e tantas vezes tinha os Senhores da Bata Branca à sua cabeceira, porque a sua Mãe aprendeu a cuidar dele como cuidavam no Hospital para que ele não estivesse tanto tempo longe dela.
Os dias passavam difíceis e iguais nas Ilhas de Bruma. Enquanto o Emanuel lutava diariamente para viver e correr pela vida como qualquer criança, a Mãe Helena lutava, como uma guerreira helénica, com os senhores da Ilha de Bruma, apenas queria conseguir para o seu Menino uma Vida à beira-mar plantada apesar das duas doenças raras e fatais. As difíceis e quase inteiras noites de vigília davam-lhe forças para continuar na sua luta em busca de um pouco de felicidade, na luta contra o sistema fechado e mesquinho de monopólios.
Enquanto isso, na povoação dos pescadores, o Pai bebia de mais, por vezes ia com outras mulheres, ou chegava a casa e tratava mal aquela que, sempre vigilante, lhe guardava os sonhos mas, mesmo assim, ele adorava o Pai que o tratava com carinho apesar da brusquidão de homem rude.
De 6 em 6 meses o Menino Azul voava das ilhas de bruma para um Hospital de Meninos pequeninos "Hospital D. Estefânia", submetia-se a exames sem fim para saber como estava o seu pequenino coração e todos os órgãos que o vão mantendo agarrado a nós.
Ao conhecer o Menino Azul todo o dramatismo dos meus problemas eram irrisórios, diria mesmo que era uma afronta contra a vida e cobardemente dei um pouco de mim àquela gente simples. Dessa viagem à ilha lilás trouxe na mochila uma lição de vida e um quadro a carvão para me recordar a mulher que quis ser mãe, a força e a coragem de uma pessoa simples e encantadora que foi agraciada com um filho, o sofrimento, o dom da fala em verso e do traço na tela.
A amizade fortaleceu-se apesar de um imenso mar a separar e, pela noite dentro, como mulher e amiga, na simples pensão da baixa ouvia as suas dúvidas, as lutas, as desilusões, as fraquezas, a sua vontade de vencer, sequei as lágrimas com palavras de coragem e de incentivo, como se fosse a luta por uma causa minha deixei-lhe os meus pensamentos e tentei abrir portas, deitar algumas pétalas de rosa no caminho. Jamais esquecerei as lágrimas de felicidade estampadas no rosto quando, na 1ª vinda à capital para os exames médicos de rotina, lhe ofereci flores na despedida, num abraço apertado disse-me “obrigada amiga é a primeira vez que me oferecem flores”. Um dos muitos momentos que me senti mesquinha por ter tanto da vida e ver que à minha volta existem pessoas que tem tão pouco e vivem com um sorriso do tamanho do mundo.
Um dia o Menino Azul voou definitivamente das ilhas para uma cidade do Minho onde vive feliz a cada dia que passa. Veio com a sua “guardadora de sonhos e de vida” tentar viver a vida digna que a Constituição proclama no seu artigo 69º «As crianças têm direito à protecção da Sociedade e do Estado, com vista ao seu desenvolvimento integral» e no seu artigo 71º «O Estado obriga-se a realizar uma política racional e de tratamento, reabilitação e integração dos deficientes, etc, etc.».
Um dia a Mãe do Menino Azul cansou-se de lutar contra o monopólio dos barões das Ilhas de Bruma. Não quis que o seu Menino da cor do céu e do mar das ilhas que ama chegasse à costa em algas verdes e azuis, tão verdes como os pastos das ilhas e tão azuis como o céu no meio do atlântico porque a partir desse dia, nas praias de areia negra surgiriam também algas vermelhas tão vermelhas como o sangue que lhe corre nas veias.
A Mãe e o Menino Azul e Verde da cor das Ilhas de Bruma viverão nos corações de todos os que conhecem e vivem a sua história. Talvez um dia, um dia muito longínquo, deitarei pétalas, pétalas de rosas brancas nas praias do norte para se misturarem às algas, às muitas algas azuis, verdes e vermelhas que existirão em todo o Atlântico.
<< Home