Férias (II) - Sete Cidades
Depois da subida pelo Pico do Carvão, de um banho de chuva nas Lagoas Empadadas, e da paragem no miradouro para o Vale das Sete Cidades - no parque de merendas da Lagoa do Canário, onde podemos ver a Lagoa de São Tiago, e as outrora Lagoas Azul e Lagoa Verde - antes da descida ao vale ainda fomos ao miradouro da Vista do Rei.
Perante esta imagem das paisagens dos Açores, que tanto é divulgada na publicidade que se faz à Região e ao turismo nela, não posso deixar de sublinhar um aspecto que, não sendo o ideal, não me parece negativo, e dois aspectos que, estes sim, me parecem claramente negativos.
A primeira vez que fui à Lagoa Rasa e à Lagoa do Canário, deixei o carro na estrada e fui a corta mato para as Lagoas. Confesso que era mais excitante e mais bonito esse passeio pedestre, por caminhos e sitios onde não se via (ou não se percebia) a intervenção humana.
Hoje, na Lagoa do Canário existe um parque de merendas onde vemos grandes ou pequenos grupos cozinhando nos assadores os seus grelhados. Nos caminhos abertos nesse parque, vemos assinalada a direcção para o miradouro que acima falei e para umas nascentes que nunca vi. Não fez mal não ter visto porque os caminhos até lá (onde quer que fiquem as nascentes) levam-nos por entre a vegetação endémica num sossego que não tem descrição. Mas este foi um passeio das férias do ano passado...
Preferindo eu a Lagoa do Canário tal como a conheci, não condeno a construção deste parque e, pelo menos até ver, a sua utilização.
A abertura dos caminhos permitiu o acesso ao miradouro que, na minha opinião, é o que proporciona a melhor vista do vale e permite o passeio a pé até às nascentes que é verdadeiramente repousante.
Por outro lado o sítio é espaçoso de forma que quem passeia não incomoda quem está a grelhar e a almoçar e vice-versa. Para além de não termos a sensação de estarmos amontoados entre as pessoas e no meio da barulheira que estas produzem, vemos caixotes de lixo instalados junto de cada assador e mesa e nunca vi lixo espalhado pelos caminhos. Ou seja, se as pessoas forem civilizadas foram criadas condições para que que a selvajaria não se instale.
O mesmo não se pode dizer do miradouro da Vista do Rei.
Já lá vai o tempo (há 3 anos lembro-me que ainda consegui isso...) em que havia lugar para estacionar e sossego nesse local....
Hoje, para além de duas carrinhas de comércio, estão carros, carros e mais carros e turistas selvagens!
Gente que se senta sobre a placa patrocinada por uma gasolineira que tem alguma informação sobre as lagoas e que não se digna a permitir ver o que consta da placa, por má vontade e má educação...
Gente que se empurra para se fotografar com as lagoas atrás...
Gente que acabou com a paz do local!
E provavelmente essa gente que fica histérica com o que vê nem nunca conheceu as lagoas quando elas eram verdadeiramente bonitas, e naturalmente azuis e verde.
Hoje dói na alma quando se olha para estas lagoas.
Fruto do fenómeno de eutrofização - que ao que sei resulta do crescimento de algas e vegetação nas lagoas devido aos adubos que são colocados na terras que as circundam e que para lá jorram com as chuvas - as lagoas estão hoje amarelas e, não existindo solução à vista e a aplicação de quaisquer medidas que resolvam o problema. Remeto-vos para o que se noticia na região sobre o tema.
Não concordo, porém, com a partilha de responsabilidade que se defende quando se afirma "A culpa é minha. É deles, é vossa e é nossa. É dos políticos, dos jornalistas, dos agricultores, dos empresários, dos ambientalistas, dos professores, dos estudantes, dos advogados, dos médicos, dos reformados, dos funcionários públicos, dos trabalhadores por conta de outrém, dos militares, dos pescadores, dos engenheiros, das domésticas, de todos sem excepção. O estado a que chegaram as lagoas das Sete Cidades, em S. Miguel, não é da responsabilidade de um Governo isoladamente. É de todos os que, ano após ano, se limitaram a olhar para o lado, a assobiar para o ar, a suspirar de resignação.".
Eu não sou açoriana de nascença nem de residência, porque apenas não nasci nas ilhas e porque não resido nelas. Mas sou açoriana de sangue e sinto-me açoriana na alma e não me acho de maneira nenhuma responsável pelo que está a acontecer nas Sete Cidades.
Porque não tinha, nem tenho conhecimentos científicos - nem por via de bruxedo - que me permitissem antever o que ia acontecer e o que significava a "amarelização" das lagoas.
Porque nunca fui, não sou, nem serei proprietária de terras circundantes das lagoas, nem as adubo.
Porque nunca tive, nao tenho e não terei responsabilidades políticas na região, nem tão pouco sou responsável pelas escolhas que, pelo voto, os cidadãos recenseados na região têm.
Porque nunca tive vergonha de ter ideias e ideiais que levam a que me apelidem de esquerda, bloquista e coisas que mais. Ideias que passam pela consciência ambiental e ecológica que se refere no artigo para que remeto. Mas não basta a minha consciência e a de outros.
São precisas medidas e essas têm de ser tomadas por quem tem poder, ou seja, pelo poder político - autárquico ou do governo regional- ou da conjugação de esforços de todos esses poderes.
Querer assumir que a culpa é minha, é deles e é nossa é, a meu ver, desresponsabilizar os verdadeiros responsáveis: os políticos a quem provavelmente custou limitar os interesses dos agricultores - pela perda de votos que isto pode significar, digo eu - e custou gastar dinheiro na defesa do ambiente - porque, digo novamente eu, isto não traz no curto prazo votos.
Mas para que nunca mais sinta que alguém tem a veleidade de achar que eu também sou responsável fica aqui o meu apelo aos poderes responsáveis: façam alguma coisa pelas lagoas, todas as lagoas da região, que V. Exas. deixam morrer sem fazer nada.
Isto pode não vos trazer votos, mas traz certamente beleza ao Arquipélago, orgulho aos açorianos e bem estar a quem visita as ilhas.
Será que isto também não é slogan de campanha?
PS- Vou tentar remeter este apelo também por e-mail para os responsáveis.
Perante esta imagem das paisagens dos Açores, que tanto é divulgada na publicidade que se faz à Região e ao turismo nela, não posso deixar de sublinhar um aspecto que, não sendo o ideal, não me parece negativo, e dois aspectos que, estes sim, me parecem claramente negativos.
A primeira vez que fui à Lagoa Rasa e à Lagoa do Canário, deixei o carro na estrada e fui a corta mato para as Lagoas. Confesso que era mais excitante e mais bonito esse passeio pedestre, por caminhos e sitios onde não se via (ou não se percebia) a intervenção humana.
Hoje, na Lagoa do Canário existe um parque de merendas onde vemos grandes ou pequenos grupos cozinhando nos assadores os seus grelhados. Nos caminhos abertos nesse parque, vemos assinalada a direcção para o miradouro que acima falei e para umas nascentes que nunca vi. Não fez mal não ter visto porque os caminhos até lá (onde quer que fiquem as nascentes) levam-nos por entre a vegetação endémica num sossego que não tem descrição. Mas este foi um passeio das férias do ano passado...
Preferindo eu a Lagoa do Canário tal como a conheci, não condeno a construção deste parque e, pelo menos até ver, a sua utilização.
A abertura dos caminhos permitiu o acesso ao miradouro que, na minha opinião, é o que proporciona a melhor vista do vale e permite o passeio a pé até às nascentes que é verdadeiramente repousante.
Por outro lado o sítio é espaçoso de forma que quem passeia não incomoda quem está a grelhar e a almoçar e vice-versa. Para além de não termos a sensação de estarmos amontoados entre as pessoas e no meio da barulheira que estas produzem, vemos caixotes de lixo instalados junto de cada assador e mesa e nunca vi lixo espalhado pelos caminhos. Ou seja, se as pessoas forem civilizadas foram criadas condições para que que a selvajaria não se instale.
O mesmo não se pode dizer do miradouro da Vista do Rei.
Já lá vai o tempo (há 3 anos lembro-me que ainda consegui isso...) em que havia lugar para estacionar e sossego nesse local....
Hoje, para além de duas carrinhas de comércio, estão carros, carros e mais carros e turistas selvagens!
Gente que se senta sobre a placa patrocinada por uma gasolineira que tem alguma informação sobre as lagoas e que não se digna a permitir ver o que consta da placa, por má vontade e má educação...
Gente que se empurra para se fotografar com as lagoas atrás...
Gente que acabou com a paz do local!
E provavelmente essa gente que fica histérica com o que vê nem nunca conheceu as lagoas quando elas eram verdadeiramente bonitas, e naturalmente azuis e verde.
Hoje dói na alma quando se olha para estas lagoas.
Fruto do fenómeno de eutrofização - que ao que sei resulta do crescimento de algas e vegetação nas lagoas devido aos adubos que são colocados na terras que as circundam e que para lá jorram com as chuvas - as lagoas estão hoje amarelas e, não existindo solução à vista e a aplicação de quaisquer medidas que resolvam o problema. Remeto-vos para o que se noticia na região sobre o tema.
Não concordo, porém, com a partilha de responsabilidade que se defende quando se afirma "A culpa é minha. É deles, é vossa e é nossa. É dos políticos, dos jornalistas, dos agricultores, dos empresários, dos ambientalistas, dos professores, dos estudantes, dos advogados, dos médicos, dos reformados, dos funcionários públicos, dos trabalhadores por conta de outrém, dos militares, dos pescadores, dos engenheiros, das domésticas, de todos sem excepção. O estado a que chegaram as lagoas das Sete Cidades, em S. Miguel, não é da responsabilidade de um Governo isoladamente. É de todos os que, ano após ano, se limitaram a olhar para o lado, a assobiar para o ar, a suspirar de resignação.".
Eu não sou açoriana de nascença nem de residência, porque apenas não nasci nas ilhas e porque não resido nelas. Mas sou açoriana de sangue e sinto-me açoriana na alma e não me acho de maneira nenhuma responsável pelo que está a acontecer nas Sete Cidades.
Porque não tinha, nem tenho conhecimentos científicos - nem por via de bruxedo - que me permitissem antever o que ia acontecer e o que significava a "amarelização" das lagoas.
Porque nunca fui, não sou, nem serei proprietária de terras circundantes das lagoas, nem as adubo.
Porque nunca tive, nao tenho e não terei responsabilidades políticas na região, nem tão pouco sou responsável pelas escolhas que, pelo voto, os cidadãos recenseados na região têm.
Porque nunca tive vergonha de ter ideias e ideiais que levam a que me apelidem de esquerda, bloquista e coisas que mais. Ideias que passam pela consciência ambiental e ecológica que se refere no artigo para que remeto. Mas não basta a minha consciência e a de outros.
São precisas medidas e essas têm de ser tomadas por quem tem poder, ou seja, pelo poder político - autárquico ou do governo regional- ou da conjugação de esforços de todos esses poderes.
Querer assumir que a culpa é minha, é deles e é nossa é, a meu ver, desresponsabilizar os verdadeiros responsáveis: os políticos a quem provavelmente custou limitar os interesses dos agricultores - pela perda de votos que isto pode significar, digo eu - e custou gastar dinheiro na defesa do ambiente - porque, digo novamente eu, isto não traz no curto prazo votos.
Mas para que nunca mais sinta que alguém tem a veleidade de achar que eu também sou responsável fica aqui o meu apelo aos poderes responsáveis: façam alguma coisa pelas lagoas, todas as lagoas da região, que V. Exas. deixam morrer sem fazer nada.
Isto pode não vos trazer votos, mas traz certamente beleza ao Arquipélago, orgulho aos açorianos e bem estar a quem visita as ilhas.
Será que isto também não é slogan de campanha?
PS- Vou tentar remeter este apelo também por e-mail para os responsáveis.
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