segunda-feira, setembro 12, 2005

Ponta Delgada - Vandalismo Cultural ou Desenvolvimento LI

A Rua 6 de Junho cruza à esquerda com a Rua 16 de Fevereiro, que a liga ao Largo 2 de Março.

Esta Rua 16 de Fevereiro resultou da demolição da cerca do Convento de Nossa Senhora da Conceição, instituído no séc. XVII pelos três irmãos Andrade Albuquerque. Do convento sobrou a Igreja e a torre e restaram também, durante anos, no lado norte do Jardim Sena Freitas uma série de edifícios baixos, onde, até à sua atribulada e discutida demolição nos anos 70 do séc. XX, funcionou a Repartição de Finanças de Ponta Delgada e eram o que restava do antigo celeiro das freiras de Nossa Senhora da Conceição. Hoje é um parque de estacionamento!
O Convento da Conceição constituía todo o lado poente do Largo que teve o seu nome.

Em 8-10-1662 o doutor Francisco de Andrade e Albuquerque, vigário da paroquial de Rabo de Peixe, concelho da Ribeira Grande, e visitador em S. Miguel e Santa Maria, juntamente com seu cunhado, capitão Manuel de Medeiros da Costa e mulher, Feliciana de Andrade e Albuquerque, fizeram doação e dotação como fundadores de um convento para freiras e recolhimento de parentes suas, a edificar no sítio da residência que fora dos pais e avós daquele vigário, próximo da ermida das Chagas e do paço do Capitão do Donatário, D. Manuel da Câmara. Dedicavam o Convento a Nossa Senhora da Conceição, indicando na escritura respectiva os bens e rendimentos que se dispunham afectar-lhe, bem como as condições do Padroado, sua sucessão e demais cláusulas regulamentadoras. Foi este o quarto e último convento de freiras instituído em Ponta Delgada. Com obediência ao bispo, a sua fundação foi aprovada por Breve do papa Clemente IX, datado de 14-5-1664, tendo sido lançada a primeira pedra em 8 de Setembro desse ano. Segundo Frei Agostinho de Monte Alverne, as obras de construção de mosteiro e igreja prosseguiram ininterruptamente durante seis anos, sob a direcção do mestre Agostinho Ferreira, natural e residente em Vila Franca do Campo. O que não nos diz é quando elas terminaram, limitando-se a referir que em 3-8-1671 o mosteiro já estava em condições de albergar as religiosas que, nessa data, vindas da Esperança, nele se estabeleceram, bem como as primeiras recolhidas. Reservado a novas utensias após a supressão das ordens religiosas, o convento de Nossa Senhora da Conceição foi transformado em palácio do Governo Civil, actual sede do Governo Regional dos Açores, nele se instalando diversas repartições públicas e serviços, nomeadamente, a sul da igreja, a Relação dos Açores -Tribunal de segunda instância - Repartição de Fazenda, Administração do Concelho, Tesouraria e Pagadoria. A norte, o Quartel General da 10.ª Divisão Militar. A igreja manteve-se com culto e em bom estado de conservação porque, no século XVIII, em data imprecisa, mas um pouco depois de 1754, fora reconstruída. Efectivamente, por esse ano, o Mosteiro devia 730$000 réis « ... do ualor e frete da Madeira de sedro q' no anno passado semandou uir da Ilha das Flores, e pedra da uilla franca pª sefaser denouo algreja do mesmo Mostr° q. seacha m`° arruinada, e amais antiga, q' por não terem comq' selhe não tem dado principio... ». Para efectivar a obra esperava-se o auxílio régio. (in B.P.A.P.D., Ernesto do Canto, ms. cit., vol. II, f. 8-9; vol. IV, f. 86. B.P.A.P.D., José de Torres, ms. cit., vol. IV, f. 202. Joaquim Cândido Abranches, Album Michaelense, Ponta Delgada, 1869, p. 26



Local da antiga cerca onde existiam os celeiros do Convento da Conceição. Agora é um simples parque de estacionamento, ficando definitivamente apagada a memória do que foi o convento ainda não demoliram a igreja e a torre, mas lá chegarão!!!). Ao fundo a pitoresca casa do séc. XIX onde terminava a cerca do Convento da Conceição



Vista do Lado poente do Largo dos Mártires da Pátria (da Conceição) vendo-se ao fundo Convento da Conceição já secularizado e transformado em Governo Civil. À esquerda em primeiro plano a antiga casa do Sr. Ângelo Soares de Albergaria, hoje restaurada e adaptada a Centro de Cultura da CMPD. Ao fundo o extenso telhado do então Teatro Micaelense. Espaço ajardinado pelo 1º Barão de Fonte Bela, à sua custa, para embelezar o espaço fronteiro à sua casa que fica à direita


Fotografia do séc. XIX do Convento da Conceição. O edifício conventual da direita foi demolido para se fazer o jardim do actual Palácio da Conceição. Os edifícios a seguir à Torre e Igreja foram demolidos para fazer o actual Palácio da Conceição, antiga Junta Geral e a Rua 16 de Fevereiro. A seguir ao edifício conventual temos o Teatro antigo e ao fundo o Palacete do Marquês da Praia. A Igreja, construída de 1664 a 1671, é um dos mais representativos edifícios religiosos barrocos da nossa cidade


Vista do que resta do Convento da Conceição. Esqueceram-se de demolir a igreja e a torre. À direita demoliram a parte norte para fazer o jardim do “palácio” da Conceição e onde antes funcionou o Quartel General da 10.ª Divisão Militar. Ao fundo onde se situava a portaria do antigo convento está o corpo nascente do referido” palácio”


Vista actual da Rua 6 de Junho vendo-se à direita o Palácio da Conceição, Jardim Sena Freitas e Palacete Praia.


Vista da Fachada sul do chamado Palácio da Conceição


Local onde existiu urinol de ferro que se seguia ao edifício das Finanças, antigo celeiro do Convento demolido há poucos anos para se fazer um parque de estacionamento


O curioso urinol da esquina do Jardim Sena Freitas, demolido, creio que na altura da demolição do edifício das Finanças

Carlos F. Afonso

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