terça-feira, maio 03, 2005

Ponta Delgada - Vandalismo Cultural ou Desenvolvimento XLVI

Chegamos agora à rotunda da Avenida Príncipe do Mónaco.
Longa história tem esta pobre rotunda abandonada durante 90 anos, surgiu nos finais dos anos noventa com um “arranjo” para a sua urbanização e embelezamento que ficará na história da cidade como mais uma das muitas aberrações que se têm realizado em nome do progresso, do bom senso e do bom gosto. Sendo muito de muito mau gosto e de má concepção, não será contudo dos piores atentados cometidos, uma vez que não destruiu nada de significativo limitando-se a ser, apenas, um monumento ao mau gosto. Reconhece-se, contudo, pelos encómios que o seu promotor usou, com placa laudatória (já retirada), o ridículo da sua promoção e execução. Diz-se que serviu para esconder despesas governamentais não orçamentadas, ou pior do que isso! Seja o que for ele lá está, rodeado de palmeiras, em que pelo menos uma foi roubada a um particular, o que originou uma série de protestos nos jornais da época …


Monumento, não se sabe a quê, situado na Rotunda da Avenida Príncipe do Mónaco já após a tentativa de embelezamento

A Avenida do Príncipe do Mónaco foi inaugurada com pompa e circunstância, em 2 de Janeiro de 1904, pelo próprio Príncipe Alberto do Mónaco. O príncipe, amigo e companheiro de D. Carlos, investigador oceanográfico de mérito, veio por várias vezes a S. Miguel.


Recepção ao Príncipe Alberto, no Largo da Matriz, quando da inauguração da Avenida com o seu nome



Inauguração da Avenida do Príncipe do Mónaco em 2-1-04. Com tal pompa e circunstância esperar-se-ia que a Avenida estivesse destinada a ser uma zona nobre da cidade. Tal não aconteceu. Nela termina a actual pista do aeroporto e construíram-se pequenas casas de desinteressante arquitectura, armazéns e uma fábrica


O príncipe Alberto lendo o seu discurso


A Avenida conduz-nos aos subúrbios da cidade e à Rua do Ramalho, onde termina o perímetro urbano actual da cidade para poente.
Francisco Ramalho de Queirós, natural de Amarante. Testou em 11-6-1598, instituindo o vínculo do Ramalho. Era sobrinho do bacharel João Gonçalves e era no século XV um abastado proprietário na rua que hoje ostenta o seu nome. Segundo escreveu Gaspar Frutuoso, no caminho, pela terra dentro, até o lugar da Relva, está, saindo da cidade, a quinta de Francisco Ramalho "toda cercada de alto muro, dentro da qual tem seus ricos aposentos e todas as coisas com grande ordem, seu pombal e tanque, para beberem os bois e cavalos e mais bestas de serviço, de que tiram água para lavar roupa quase todo o ano, ao qual vem água de fora do caminho e dele vai também para um fresco pomar, em que aproveita toda". (...) "Tem também três engenhos, com seu campo de caniços e sua tulha muito grande, em que grana se pastel, de que fará mil quintais cada um ano, e dois grandes granéis, um para trigo e outro para cevada e centeio, na lójea dos quais tem dois engenhos e guarda neles toda a fábrica da abegoaria de seu serviço". Conta ainda Frutuoso que na outra parte do mesmo caminho, para norte, se encontrava a quinta do seu sogro, Afonso Anes (in José Andrade).

Carlos F. Afonso
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