segunda-feira, abril 18, 2005

Sim! é preciso caminhar avante!
Andar! passar por cima dos soluços!
Como quem numa mina vai de bruçoz,
Olhar apenas uma luz distante!

É preciso passar sobre ruínas,
Como quem vai pisando um chão de flores!
Ouvir maldições, ais e clamores,
Como quem ouve músicas divinas!

Beber, em taça túrbida, o veneno,
Sem contrair o lábio palpitante!
Atravessar os círculos de Dante,
E trazer desse inferno o olhar sereno!

Ter um manto de casta luz das crenças,
Para cobrir as trevas de miséria!
Ter a vara, o condão da fada aérea,
Que em ouro torne estas areias densas!

E, quando, sem temor e sem saudade,
Poderdes, d'entre o pó dessa ruína,
Erguer o olhar à cúpula divina,
Heis-de então ver a nova-claridade!

Heis-de então ver, ao descerrar do escuro,
Bem como o cumprimento de um agouro,
Abrir-se, como grandes portas de ouro,
As imensas auroras do Futuro!

(Antero de Quental, nascido nesta data, há 163 anos)
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