quarta-feira, abril 27, 2005

Ponta Delgada - Vandalismo Cultural ou Desenvolvimento XLV

Continuando pela Rua Lisboa temos um 2º cruzamento. Para norte a Rua da Vila Nova que a liga à Rua de Santa Catarina, antigo «Caminho do Maranhão» e para sul a Rua Dr. João Francisco Cabral, antiga «Rua da Vila Nova de Baixo temos um 2º cruzamento. Para norte a Rua da Vila Nova que a liga à Rua de Santa Catarina, antigo «Caminho do Maranhão» e para sul a » que a liga à Rua Teófilo Braga, a antiga Rua de Santa Clara que Frutuoso dizia ser a única onde começava a cidade: “…e acaba em casa do esforçado e forçoso que foi Baltasar Roiz, de Santa Clara…”.
João Francisco Cabral nasceu na Ajuda da Bretanha, a 23 de Abril de 1818, e faleceu em Ponta Delgada, no dia 2 de Janeiro de 1888. Modesto de nascimento, emigrou para o Brasil, onde fez fortuna, que aplicou em iniciativas de solidariedade social, quando do seu regresso a São Miguel. Foi benemérito do primitivo Hospital de Ponta Delgada, no actual Largo Vasco Bensaúde, inicialmente designado de "Largo João Francisco Cabral" até 1971. Aqui instituiu um internato para a evocação de crianças pobres. Em 1834, a Santa Casa da Misericórdia mudou-se para o Convento de S. Francisco, junto à Rua da Vila Nova de Baixo, que adoptara, entretanto, a designação de "Rua João Francisco Cabral" (in José Andrade).

Até ao séc. XIX terminava aqui o perímetro urbano da cidade para poente, sendo as restantes ruas resultado do aforamento de antiga quintas, matas e prédios rústicos.

De seguida, cruza para o sul a Rua da Alegria, antigo «Foral dos Clérigos» resultante do aforamento feito no séc. XIX em terrenos na sua maioria pertencentes ao sacerdócio e à família Rebelo e de seguida cruza com a Rua João do Rego, antigo «Foral do João do Rego».
João do Rego Botelho aforou as suas terras no sítio que haveria de ficar para sempre denominado "Foral de João do Rego" ou, mais modernamente, "Rua João do Rego". Carreiro da Costa explica que idênticos procedimentos se verificaram nessa mesma zona oriental da cidade: o Morgado Carvão aforando as suas terras que dariam origem ao Foral ou Rua do Carvão; os Rebelos retalhando grande parte dos seus terrenos que deram a Rua da Alegria; os Borges de Castro, com o seu solar no Alto de Santa Catarina... (in José Andrade)

Segue-se o cruzamento com Rua de Santa Catarina, antiga «Rua de Santa Catarina de Cima» para o norte e Rua José Bensaúde, para sul, antiga «Rua de Santa Catarina de Baixo».
José Bensaúde
, de ascendência hebraica, nasceu em Ponta Delgada, a 4 de Março de 1835. Faleceu nesta cidade, a 20 de Outubro de 1922, sendo sepultado no cemitério israelita. Dedicou-se à indústria, ao comércio e à agricultura, fundando as fábricas do tabaco, do chá, do açúcar e do álcool, bem como uma carreira de barcos entre o continente português e os arquipélagos dos Açores e da Madeira. Foi administrador da Casa de Caetano de Andrade e secretário da Junta Administrativa do Porto de Ponta Delgada. Colaborou largamente nos jornais "Aurora dos Açores" e "0 Açoriano Oriental" e noutras publicações como a "Revista dos Açores" e a "Revista Açoriana", sendo ainda membro da sociedade literária "Grémio Trovador". A designação toponímica "Rua José Bensaúde" foi atribuída por deliberação camarária de 31 de Maio de 1928. (José Andrade, ob.cit., 2001)

A seguir, para norte, abriu-se recentemente a Rua Dr. Filipe da Cunha Álvares Cabral .
Filipe da Cunha Álvares Cabral, o "médico dos pobres", como era conhecido, faleceu em Ponta Delgada, com 63 anos de idade, no dia 4 de Dezembro de 1952. Além de Delegado de Saúde do Concelho de Ponta Delgada, exerceu por longos anos as funções de Director do Dispensário Anti-Tuberculoso. Foi ainda Comandante de Terço dos Serviços de Saúde da Legião Portuguesa. Dizia-se que a maior parte dos pobres do Concelho de Ponta Delgada passou pelo seu consultório onde, encontrando alívio para os seus males físicos, achava também o auxílio monetário indispensável ao seu tratamento. A designação toponímica "Rua Dr. Filipe da Cunha Álvares Cabral" foi atribuída por deliberação camarária de 12 de Julho de 1984. (José Andrade, ob.cit., 2001)


No último cruzamento antes de chegar à rotunda temos a Rua Pintor Domingos Rebelo, antigo Foral do Carvão de Cima e para sul o «Foral do Carvão de Baixo».
Domingos Maria Xavier Rebelo nasceu em Ponta Delgada, a 3 de Dezembro de 1891, e faleceu em Lisboa, no dia 11 de Janeiro de 1975. Fez a sua primeira exposição com 13 anos de idade, ao mesmo tempo que recebia lições de Artur Viçoso May, na então Escola de Artes e Ofícios Gonçalo Velho Cabral. Aos 15 anos, viveu em Paris como discípulo de Jean Paul Laurens. Em 1912, regressou a Ponta Delgada, onde havia de viver por trinta anos. Fez repetidas exposições nesta cidade, concorreu com frequência aos salões anuais da Sociedade Nacional de Belas Artes e chegou a expor no Rio de Janeiro. O seu retrato "Grupo em Família", adquirido pelo Museu Nacional de Arte Contemporânea, recebeu então o Prémio Silva Porto e obteve a 1ª Medalha, Prémio Rocha Cabral, Prémio Roque Gameiro e Medalha de Honra. Em 1939, na Exposição Internacional de S. Francisco da Califórnia, o seu trabalho foi distinguido entre os 79 países participantes. O atelier do artista, em Ponta Delgada, era na velha casa da então Rua do Papaterra, hoje Avenida Antero de Quental, onde residia com sua esposa e cinco filhos. Em 1942, depois de ter sido professor de desenho no Liceu e director da Escola Industrial e Comercial, fixou residência em Lisboa. Membro da Academia Nacional de Belas Artes e distinguindo-se igualmente na escultura, visitou a Itália, em 1950, como bolseiro do Instituto de Alta Cultura. A designação toponímica "Rua Domingos Rebelo" foi atribuída por deliberação camarária de 10 de Abril de 1975 (in José Andrade).

Morgado Carvão, oriundo da Ilha Terceira, era abastado proprietário de terrenos na zona de Ponta Delgada que ficou, por isso, apelidada de "Foral do Carvão". Teria sido o 1° Barão do Ramalho, António da Fonseca Carvão Paim da Câmara, falecido em 22 de Fevereiro de 1838, ou um seu descendente Foi esta rua alargada em Novembro de 1849, conforme noticia o `Cartista dos Açores': "Sabemos que a Câmara Municipal, solícita e incansável, como tem sido, conseguiu do Exmo. Par do Reino Visconde da Praia a concessão, gratuita, da largura de 12 palmos do terreno desde Santa Clara até ao caminho do Ramalho, para alargar o dito Foral, que apenas tinha de largura 12 palmos, ficando agora com 24, e por consequência um lindo e vistoso passeio, além da comodidade que resulta ao público". E acrescenta o mesmo jornal: "Pena é que a Câmara não compreendesse no se pedido a extensão que vai do Ramalho ao Bom Despacho, por ser de reconhecida necessidade o resto do mesmo caminho" (in José Andrade).
Carlos F. Afonso
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