sábado, maio 01, 2004

A democracia já não é o que era

CAPITÃO-DONATÁRIO JOÃO SOARES DE SOUSA — Exemplo de democracia, de bondade e generosidade
O Capitão João Soares de Sousa, faleceu em Vila do Porto com perto de 78 anos, no dia 2 de Janeiro 1571 (...). Segundo uma nota histórica de José de Sousa, publicada no suplemento “Santa Maria”, do “Correio dos Açores”, em Fevereiro de 1971, o 3º Capitão-do-Donatário de Santa Maria foi o primeiro nascido nesta ilha.
Filho do Capitão João Soares de Albergaria e de D. Branca de Sousa Falcão, nasceu em Vila do Porto, por volta de 1493. (...)
João Soares de Sousa tinha cerca de seis anos quando seu pai faleceu, pelo que ficou a governar a ilha de Santa Maria, durante a sua menoridade, João de Marvão, escudeiro da Casa Real e Almoxarife em Vila do Porto.
O capitão João Soares de Sousa, muito entendido na arte náutica, era um homem de elevada estatura, trigueiro, forte e animoso, bom fidalgo e muito caritativo. Naqueles recuados tempos em que o aforamento era quase uma escravidão, revelou possuir um espírito verdadeiramente democrático. Senhor de vastas propriedades, nunca as arrendava a um só rendeiro, mas a muitos, para remediar a todos. Se o rendeiro lhe devia trinta alqueires de trigo e era pobre, com cinco lhe pagava: sendo senhor de todos os moinhos, cada um lhe pagava o que queria e nunca mandou citar alguém por dívida. Era tão recto, na administração da Justiça, que nunca deu sentença que na Relação lhe fosse revogada.
Este 3º Capitão Donatário de Santa Maria era tão esmoler que, em certo ano, que fome grassava naquela ilha, mandou deitar pregões pelas freguesias para que os necessitados pudessem ir aos seus rebanhos buscar ovelhas, apenas lhes pedia que lhe dessem as peles e a lã.
João Soares de Sousa casou em primeiras núpcias, com D. Guiomar da Cunha da Ilha filha de Francisco da Cunha primo do Vice-Rei da Índia D. Afonso de Albuquerque e de D. Brites da Câmara, neta do 1.º Capitão Donatário do Funchal, João Gonçalves Zarco.
Falecida a primeira mulher, casou com D. Jordoa Faleira, filha Fernão Vaz Faleiro, tabelião em Vila do Porto, e de Filipa de Resende. Morta a segunda mulher, casou, em terceiras núpcias com D. Maria de Andrade filha de Nuno Fernandes Velho, senhor do vínculo de Larache
Dos numerosos filhos do Capitão João Soares de Sousa, todos ilustres pelos seus feitos e virtudes, merecem especial referencia os seguintes: - Pedro Soares de Sousa que sucedeu ao seu pai no governo da Capitania ; Manuel de Sousa que batalhou em França e Itália e no cerco de Tunes, combateu, às ordens do Imperador Carlos V, e que, ao regressar a Santa Maria, depois de trinta e cinco as anos de ausência, morreu em. combate contra os corsários franceses que incendiaram Vila do Porto; D. Joana de Sousa que, de casou com Heitor Gonçalves Minhoto, homem muito rico que, segundo a opinião do cronista Gaspar Frutuoso, se mais vivera acabaria por comprar inteira; Rui de Sousa que morreu em combate na Índia; e André de Sousa que casou com D. Mécia de Lemos, irmã do ilustre mariense D. Luís de Figueiredo Lemos, que foi Bispo do Funchal.
O Capitão João Soares de Sousa. gastou grande parte da sua fortuna na prática constante da caridade. Está sepultado na capela-mor da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Assunção Vila do Porto, junto a porta da sacristia onde estão também sepultadas as suas duas primeiras mulheres. Na Rua de Frei Gonçalo Velho, em Vila do Porto, existiam as ruínas da casa onde a tradição diz que viveu o Capitão Soares de Sousa. Há anos, foi alvitrado, em vão, que estas ruínas, muito curiosas pela desigualdade existente entre as cinco portadas que lhe davam acesso, fossem restauradas e utilizadas com o nome de “Museu João Soares de Sousa” .
Quando da visita dos intelectuais aos Açores, em 1924, o grande escultor Mestre Teixeira Lopes desenhou essas portadas. (...)

por M. J. ANDRADE Açoreano Oriental de 6 de Janeiro de 1995

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