Vasco Bensaúde, a propósito de "Um grande hotel de charme em São Miguel"
No meu reencontro com o João Vasconcelos Costa, na passada 6ª feira no Hotel de S. Pedro, falámos da construção do Hotel e da personalidade do seu culto dono, o Sr. Vasco Bensaúde. Disse-me que iria escrever um post sobre o hotel e a sua construção e sugeriu-me que aqui escrevesse uma pequena história de Vasco Bensaúde.
Foi ele o herdeiro acidental da imensa fortuna do seu tio Henrique Bensaúde que não tendo herdeiros directos, resolveu visitar os sobrinhos para escolher, qual deles seria o melhor continuador dos seus negócios. Vasco Bensaúde, filho do notável investigador da História dos Descobrimentos Portugueses Joaquim Bensaúde, estudava então na Suíça. Impressionou de tal modo o velho tio com a sua modéstia, cultura e notável minúcia, tornando-se o único herdeiro da sua formidável fortuna. Só que o arguto judeu não percebeu que o sobrinho não tinha qualquer inclinação para negócios e dinheiro, nem tão pouco tinha qualquer prazer ou ganância em o adquirir. Muito novo e de surpresa, viu-se Vasco Bensaúde possuidor de uma enorme fortuna.
Modestamente encomendou ao primo José Bensaúde que vivia nos EUA, uma moto para se deslocar para os escritórios. O primo, na volta do navio, enviou-lhe um luxuoso carro americano que deixou VB horrorizado sem saber se teria dinheiro para o pagar!
Conta-nos Joaquim Paço d’Arcos, nas suas “Memórias da minha vida e do meu tempo”, que no princípio dos anos 20 VB era a maior fortuna do País. Nessa altura um dos muitos e transitórios Governos da 1ª Republica, pretendeu contrair um empréstimo de 20.000 contos sobre o Banco da Inglaterra. O Governo Inglês só o permitiu – imagine-se – com o aval do Sr. Vasco Bensaúde! Um privado tinha mais crédito do que o próprio Governo!
Por esse motivo dirigiu-se V.B. ao Banco para falar com a Administração. Joaquim Paço d’Arcos ficou espantado que aquele desconhecido e despretensioso homem de boina, modestamente vestido, com sotaque estrangeiro que timidamente pedia para falar com a Administração para lhes conceder o desejado aval, fosse o homem mais rico do País e casado com uma elegante senhora que via passear no Chiado num luxuoso automóvel. Foi assim toda a vida. Tímido, educadíssimo, impunha-se pela sua inteligência e cultura.
Preocupava-se muito mais com a beleza das coisas e com o prazer que lhe causavam, do que com os proventos que com isso pudesse obter. O Hotel de S. Pedro é disso um notável exemplo.
Prestava mais atenção às lindíssimas roseiras do seu magnífico jardim do que aos negócios que as proporcionavam. Para isso montou no terraço da sua casa do Pico Salomão uma pequena estação metereológica e ensinou o seu feitor, o bom e analfabeto David, a mandar diariamente leituras de pluviosidade, ventos e pressões, para que em Lisboa soubesse das condições em que se desenvolviam as suas flores!
Não tenho dúvidas que foi merecedor de ser o herdeiro da fortuna do Sr. Henrique Bensaúde, mas seguramente não pelos motivos que aquele ilustre homem de negócios pretendia.
Carlos Falcão Afonso
Foi ele o herdeiro acidental da imensa fortuna do seu tio Henrique Bensaúde que não tendo herdeiros directos, resolveu visitar os sobrinhos para escolher, qual deles seria o melhor continuador dos seus negócios. Vasco Bensaúde, filho do notável investigador da História dos Descobrimentos Portugueses Joaquim Bensaúde, estudava então na Suíça. Impressionou de tal modo o velho tio com a sua modéstia, cultura e notável minúcia, tornando-se o único herdeiro da sua formidável fortuna. Só que o arguto judeu não percebeu que o sobrinho não tinha qualquer inclinação para negócios e dinheiro, nem tão pouco tinha qualquer prazer ou ganância em o adquirir. Muito novo e de surpresa, viu-se Vasco Bensaúde possuidor de uma enorme fortuna.
Modestamente encomendou ao primo José Bensaúde que vivia nos EUA, uma moto para se deslocar para os escritórios. O primo, na volta do navio, enviou-lhe um luxuoso carro americano que deixou VB horrorizado sem saber se teria dinheiro para o pagar!
Conta-nos Joaquim Paço d’Arcos, nas suas “Memórias da minha vida e do meu tempo”, que no princípio dos anos 20 VB era a maior fortuna do País. Nessa altura um dos muitos e transitórios Governos da 1ª Republica, pretendeu contrair um empréstimo de 20.000 contos sobre o Banco da Inglaterra. O Governo Inglês só o permitiu – imagine-se – com o aval do Sr. Vasco Bensaúde! Um privado tinha mais crédito do que o próprio Governo!
Por esse motivo dirigiu-se V.B. ao Banco para falar com a Administração. Joaquim Paço d’Arcos ficou espantado que aquele desconhecido e despretensioso homem de boina, modestamente vestido, com sotaque estrangeiro que timidamente pedia para falar com a Administração para lhes conceder o desejado aval, fosse o homem mais rico do País e casado com uma elegante senhora que via passear no Chiado num luxuoso automóvel. Foi assim toda a vida. Tímido, educadíssimo, impunha-se pela sua inteligência e cultura.
Preocupava-se muito mais com a beleza das coisas e com o prazer que lhe causavam, do que com os proventos que com isso pudesse obter. O Hotel de S. Pedro é disso um notável exemplo.
Prestava mais atenção às lindíssimas roseiras do seu magnífico jardim do que aos negócios que as proporcionavam. Para isso montou no terraço da sua casa do Pico Salomão uma pequena estação metereológica e ensinou o seu feitor, o bom e analfabeto David, a mandar diariamente leituras de pluviosidade, ventos e pressões, para que em Lisboa soubesse das condições em que se desenvolviam as suas flores!
Não tenho dúvidas que foi merecedor de ser o herdeiro da fortuna do Sr. Henrique Bensaúde, mas seguramente não pelos motivos que aquele ilustre homem de negócios pretendia.
Carlos Falcão Afonso
<< Home