sábado, outubro 02, 2004

O Debate

Por aqui cheguei à transcrição do debate entre Kerry e Bush.
Ao ler o debate fui retendo:

as picadas que com humor e inteligência Kerry atirou

I want to thank the University of Miami for hosting us. And I know the president will join me in welcoming all of Florida to this debate.

"Colossal misjudgments." What colossal misjudgments, in your opinion, has President Bush made in these areas?
KERRY: Well, where do you want me to begin?


as facadas certeiras de Kerry

And they believe it because they know I would not take my eye off of the goal: Osama bin Laen.

Unfortunately, he escaped in the mountains of Tora Bora. We had him surrounded. But we didn't use American forces, the best trained in the world, to go kill him. The president relied on Afghan warlords and he outsourced that job too. That's wrong.

The president just talked about Iraq as a center of the war on terror. Iraq was not even close to the center of the war on terror before the president invaded it.

We have to succeed. We can't leave a failed Iraq. But that doesn't mean it wasn't a mistake of judgment to go there and take the focus off of Osama bin Laden. It was. Now, we can succeed. But I don't believe this president can. I think we need a president who has the credibility to bring the allies back to the table and to do what's necessary to make it so America isn't doing this alone.

Well, you know, when I talked about the $87 billion, I made a mistake in how I talk about the war. But the president made a mistake in invading Iraq. Which is worse?


We didn't need that tax cut. (e pouco eleitoralistas)

Even the administration has admitted they haven't done the training, because they came back to Congress a few weeks ago and asked for a complete reprogramming of the money.
Now what greater admission is there, 16 months afterwards. "Oops, we haven't done the job. We have to start to spend the money now. Will you guys give us permission to shift it over into training?"


But I think the president, again, still hasn't shown how he's going to go about it the right way. He has more of the same.

Jim, the president just said something extraordinarily revealing and frankly very important in this debate. In answer to your question about Iraq and sending people into Iraq, he just said, "The enemy attacked us."
Saddam Hussein didn't attack us. Osama bin Laden attacked us. Al Qaida attacked us. And when we had Osama bin Laden cornered in the mountains of Tora Bora, 1,000 of his cohorts with him in those mountains. With the American military forces nearby and in the field, we didn't use the best trained troops in the world to go kill the world's number one criminal and terrorist.



Thirty-five to forty countries in the world had a greater capability of making weapons at the moment the president invaded than Saddam Hussein. And while he's been diverted, with 9 out of 10 active duty divisions of our Army, either going to Iraq, coming back from Iraq, or getting ready to go, North Korea's gotten nuclear weapons and the world is more dangerous. Iran is moving toward nuclear weapons and the world is more dangerous. Darfur has a genocide.

as utopias de Bush que continuam...

Saddam Hussein had no intention of disarming. (pergunto eu..was he armed?)

I work with Director Mueller of the FBI; comes in my office when I'm in Washington every morning, talking about how to protect us.
(sublinhado meu, e questão minha: todas as manhãs?)

I get the casualty reports every day. I see on the TV screens how hard it is. (o presidente que tem conhecimento pela TV)

e as asneiras também...

Of course we're after Saddam Hussein -- I mean bin Laden.

My opponent says we didn't have any allies in this war. What's he say to Tony Blair? What's he say to Alexander Kwasniewski of Poland? You can't expect to build an alliance when you denigrate the contributions of those who are serving side by side with American troops in Iraq. (curioso não se falar de Espanha e Portugal como aliados no início da Guerra, não? E tanto que se deve ter gasto na conferência nos Açores para mostrar esse apoio...)


e por fim, uma descrição que podia ser o auto retrato de Bush

One of his campaign people alleged that Prime Minister Allawi was like a puppet.
That's no way to treat somebody who's courageous and brave, that is trying to lead his country forward.


Entretanto ouvi excertos do debate, o que ajudou na melhor percepção da postura dos intervenientes e no tom do discurso.
O que retive em global foi que debates destes, ultra programados e regrados, não existem nem podem existir no nosso país, mas têm o risco de tirar muita genuinidade às respostas.
Kerry ganhou na ponderação das respostas, e na elevação das mesmas e do discurso, enquanto Bush ganhou na impulsividade e na repetitividade do discurso.
Tendo existido críticas de parte a parte, existiram sobretudo soluções do lado de Kerry. Este conseguiu colocar no discurso, mais vezes, o que faria, justificando porque o faria.
De Bush retenho que fará mais do mesmo porque não quer mudar o rumo, que acredita ser o certo, e porque confunde reconhecer erros com mudanças de opinião ou de estratégia.
Apesar de Kerry me parecer ter "ganho" este debate, julgo que ainda não foi determinante para a mudança do sentido das sondagens e para a vitória.
Isto porque nos temas debatidos - política externa e segurança interna - provavelmente a maioria dos americanos não está em desacordo com Bush (ao que acresce outras medidas de politica interna que não foram, por ora, debatidas).
Julgo que os americanos, ou pelo menos a maioria, sentiu a dor a 9.11.2001, mas sobretudo sentiu o orgulho ferido. Foi aí, no orgulho, mais do que no temor pelo terrorismo, que lhes tocou na pele o 9.11.
Ao orgulho é irrelevante que a guerra seja levada a cabo contra quem não foi o terrorista de 9.11, porque ao orgulho o que interesse é mostrar a valentia.
Ao orgulho é irrelevante que a guerra tenha sido baseada num erro, porque ao orgulho o que interessa é que havia o risco de não se ter errado.
Ao orgulho é irrelevante o que se gastou na guerra, quando em casa de cada um continuaram a não faltar recursos e quando o Estado desceu os impostos.
E ao orgulho é que custa reconhecer erros e mudar de opiniões...
E, parece-me, que só se despiram deste orgulho aqueles que começaram a sentir na pele a dor do Iraque. Aliás, é sintomático como é a estes - aos militares que foram, estão ou morreram no Iraque e aos familiares destes - que a certa altura o discurso dos dois candidatos se dirige. Porque são estes que intimidam Bush e porque é a visão destes que Kerry tem de empolar.
Se o temor pelo terrorismo (que não nego que os americanos sintam, mas que foi suplantado pelo orgulho ferido) tivesse sido a pedra de toque, talvez o discurso de Kerry neste debate surtisse mais efeito, tanto na vertente da política externa, mas sobretudo na política de segurança interna.
Mas talvez não seja por estes temas que Kerry chegue ao eleitorado. E isto porque, aproveitando para responder ao Luis, eu não acho o americano estúpido. Simplesmente acho-o toldado.



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