sábado, janeiro 15, 2005

Areia para os olhos, tostões para os bolsos

O que vende, o que efectivamente faz ganhar audiências são as notícias de viagens, de contradições e trapalhadas no Governo, de cartazes, e o diz que disse do que A ou B prometem ou do que advertem que pode vir a acontecer (sim, mais vale não prometer só o que é bom).
Explicar, aprofundar cada tema e reflectir, isso não é para o comum dos jornalistas e comentadores, e assim vamos sendo inundados de areia, para os nossos olhos e não só.
Quase a um mês de eleições, entre os "fait divers" sobre a composição de listas, preocupam-me duas questões.
Li (já não sei onde), que uma larga percentagem dos candidatos a deputados (aqueles que vamos eleger como nossos representantes) são políticos de profissão e carreira. Sempre me pareceu que a dedicação pela causa e bem público se casava melhor com o desprendimento da política e do que esta pode beneficiar quem mais nada tem do que ela própria, e com o saber vivido do que é a economia, a gestão, a justiça, a saúde, o ambiente, a cultura, e tantas outras áreas sobre as quais, afinal, os nossos deputados irão decidir e legislar.
É certo que o profissionalismo e carreirismo na política poderão beneficiar o argumento da menor permeabilidade aos lobbys e interesses instalados. Mas o que a vida demonstra é que essa permeabilidade continua a existir e a qualidade legislativa a decrescer.
Não bastam, portanto, bons acessores técnicos aos senhores deputados. É preciso que estes também sejam bons técnicos e profissionais, e amantes da causa pública. E como qualquer amante, que vivam com paixão o momento que lhes é dado que, como tudo na vida, e sobretudo como as paixões sem amor, acaba.
Outra questão que se me coloca é a de saber como pode qualquer partido defender a regionalização e até a descentralização quando são eles os mais centralistas na elaboração das listas. Porque me lembro onde li a excelente reflexão sobre o tema, remeto-vos para aqui.
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